MS liderou casos de homicídios de indígenas em 2024
Mortes estão ligadas a conflitos territoriais, consumo de álcool e violência policial

Mato Grosso do Sul está entre os estados brasileiros que mais registraram homicídios de pessoas indígenas em 2024. Os dados constam no Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), divulgado nesta segunda-feira (28). Segundo o levantamento, o Estado figura entre os três com maior número de assassinatos de indígenas, somando 33 casos no ano.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul lidera estatísticas de violência contra indígenas em 2024, segundo relatório do Cimi. O estado registrou o maior número de homicídios (33), com Dourados concentrando metade dos casos. Arma branca e arma de fogo foram os meios mais utilizados. Conflitos territoriais e desavenças agravadas por álcool motivaram os crimes. Destacam-se a morte de um jovem Guarani Kaiowá durante operação policial e o falecimento de uma mulher grávida após exposição a agrotóxicos. Além dos homicídios, o estado lidera em lesões corporais (13 de 19 casos nacionais) e figura entre os com mais ameaças e discriminação. Abuso de poder policial, com agressões e invasões a aldeias, também marcam o relatório. Casos de violência sexual, todos no âmbito familiar, somam cinco. O documento revela ainda a apreensão de milhares de cartões de benefícios sociais indígenas retidos ilegalmente por comércios locais.
Entre os registros, os principais meios utilizados foram arma branca e arma de fogo. O dossiê aponta que o ano foi marcado por uma série de conflitos territoriais e assassinatos motivados por brigas ou desavenças, agravadas pelo consumo de bebida alcoólica. Das 35 vítimas de homicídio registradas em todo o país, 16 ocorreram em Mato Grosso do Sul. Metade dos homicídios registrados no Estado aconteceram em Dourados.
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Das 33 mortes contabilizadas pelo relatório no Estado, 26 vítimas eram do sexo masculino. Um dos casos mais emblemáticos foi o assassinato de Neri Ramos da Silva, jovem Guarani Kaiowá de 23 anos, morto com um tiro na cabeça durante uma operação policial no território Ñande Ru Marangatu, em Antônio João.

O documento também registra 19 casos de homicídio culposo contra indígenas em 2024. Desses, seis ocorreram em Mato Grosso do Sul, vitimando sete pessoas. Um dos casos mais graves envolveu a morte de Raquel Daniel Isnarde e do feto de dois meses que ela carregava. Grávida, Raquel foi internada no Hospital da Missão Caiuá, em Dourados, com convulsões e fortes dores abdominais.
Após a transferência para o Hospital da Vida, foi informado o falecimento do bebê. Pouco tempo depois, Raquel também morreu. Investigações indicam que os sintomas começaram após pulverização de agrotóxicos próximo à sua residência. Foram apreendidos 750 litros de agrotóxicos vencidos e aplicadas multas que somam mais de R$ 1 milhão no Estado.
Mato Grosso do Sul também lidera o número de casos de lesão corporal contra indígenas. De 19 ocorrências no país, 13 aconteceram no Estado. Entre os casos mais emblemáticos, estão uma ação da Polícia Militar durante a desobstrução da Rodovia MS-156 [que também aparece entre os episódios de abuso de poder] e a agressão a um jovem indígena por jagunços de uma fazenda sobreposta a território tradicional.

O relatório aponta ainda dois casos de abuso de poder registrados em Mato Grosso do Sul. Um deles envolveu os povos Guarani Kaiowá e Terena, em Itaporã, em novembro de 2024. Durante uma manifestação contra a falta de abastecimento de água, uma ação da Polícia Militar para desobstrução da rodovia MS-156 deixou 15 indígenas feridos, incluindo duas mulheres e uma criança, que precisaram ser hospitalizadas. Segundo o documento, a tropa de choque avançou contra os manifestantes, invadiu a Aldeia Jaguapiru e atacou casas e uma escola.
O outro caso ocorreu em Antônio João. Conforme o relatório, um homem Guarani Kaiowá de 33 anos foi agredido enquanto pescava na Fazenda Barra, situada no território Ñande Ru Marangatu. Durante a abordagem, policiais teriam utilizado spray de pimenta, choque elétrico, chutes e golpes, deixando a vítima desacordada por horas. Ele foi levado posteriormente ao presídio de Ponta Porã, onde permaneceu encarcerado por três dias.
Ameaças de morte
Sobre ameaças de morte, o relatório traz apenas um caso registrado em Mato Grosso do Sul. A ocorrência foi em Dourados, em abril de 2024, quando um homem, morador da Aldeia Bororó, tentou matar a tia, de 51 anos, por causa de uma disputa por um terreno.
No total, foram registrados 35 casos de “ameaças diversas” contra povos indígenas em 2024. Mato Grosso do Sul aparece entre os cinco estados com maior número dessas ocorrências. O relatório destaca o resgate de trabalhadores indígenas em condições análogas à escravidão na zona rural, além de um aumento expressivo nas denúncias de retenção de cartões e senhas de benefícios sociais por comércios locais. Em uma operação, a Justiça Federal determinou a apreensão de cerca de 2 mil cartões indígenas e equipamentos eletrônicos utilizados para armazenar senhas.
Discriminação
Conforme o levantamento, Mato Grosso do Sul também é o estado com maior número de registros de casos de racismo e discriminação étnico-cultural em 2024. Um dos episódios mais emblemáticos foi a queima da casa de reza no território retomado de Kunumi Vera, em Caarapó, ocorrida em fevereiro do ano passado. Outros registros incluem discriminação no atendimento em hospitais, por parte de policiais, e discursos de ódio promovidos por políticos ligados à extrema-direita.
Um dos casos ocorreu em Campo Grande, quando uma menina indígena de oito anos foi vítima de bullying. Segundo o relatório, havia uma frase escrita no banheiro da escola que desrespeitava a cultura indígena e continha palavras agressivas direcionadas à criança.
Violências Sexuais
Assim como nos demais tipos de violência analisados, Mato Grosso do Sul aparece entre os estados com maior número de casos de violência sexual contra crianças, adolescentes, homens e mulheres indígenas. Dos 20 registros feitos em 2024, cinco ocorreram no Estado, que ocupa o segundo lugar no ranking nacional. O Amazonas lidera, com seis casos.
Todos os registros feitos em Mato Grosso do Sul ocorreram no âmbito familiar. Três deles aconteceram em Caarapó, um em Dourados e outro em Amambai.
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