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Cidades

Após prisão de Rondon mãe de vítima quer arrependimento

Redação | 24/09/2009 16:18

Onze anos depois da filha ter sido vítima do ex-médico e ex-deputado estadual Alberto Jorge Rondon de Oliveira, 53 anos, a mãe ainda chora ao lembrar o que uma operação desastrada causou a garota, na época com 16 anos.

Depois da prisão, após 5 anos desaparecido, a mãe supreende ao dizer que o que espera é o arrependimento do ex-médico. Para ela, o fato de Rondon ter consciência dos erros que cometeu é tão fundamental quanto a prisão e a cassação do registro profissional.

A mãe da jovem - que hoje tem 27 anos, e na época em que fez a cirurgia tinha apenas 16, conta que ela foi uma das primeiras a denunciar Rondon. "Em uma semana foram 19 vítimas. Depois chegamos a 120. Com a divulgação na imprensa apareceram vítimas do Paraná e de outros Estados. Pelo levantamento que fizemos deve ter umas 500". Três delas tinham apenas 16 anos.

"O que eu mais queria era ficar frente a frente com ele. Gostaria de saber dele se ele se arrependeu. Gostaria que ele se arrependesse", declara a mulher que ficou sabendo da prisão pela imprensa.

A filha queria a redução de mama, no entanto, foi mutilada, perdeu totalmente os seios. Com os mamilos necrosados, sem glândulas mamárias e com cicatriz que chega às costas e emenda no meio dos dois seios, o trauma foi além do físico.

Ela conta que incentivou a filha a fazer redução no seio quando descobriu que Rondon atendia pelo convênio médico. "Era para ser uma cirurgia corretiva por causa das dores na coluna", revela.

Os problemas começaram a acontecer logo após a cirurgia. "Ele disse que ia ficar inchado, mas quando vi a cirurgia, não aparecia seio nenhum. Corri atrás dele, mas a secretária disse que ele não estava". "Ficou um buraco", relata a mãe que durante seis meses não viu progresso na cirurgia. "Foi sofrimento em cima de sofrimento", desabafa.

A adolescente fez três cirurgias de reparação, a última, em 2003. Mesmo assim, o resultado não foi o esperado inicialmente. A jovem ficou sem poder usar determinados tipos de roupas e por muito tempo até o sutiã ou uma blusa mais justa causavam dor. Ainda hoje, há roupas que mostram a cicatriz.

O erro de Rondon fez com que a jovem também ficasse sem poder amamentar a filha, que hoje tem dois anos. "Ela ficou sem o maior bem de uma mulher. Do momento único da mãe com o filho", diz Joana, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Quando era questionado sobre o resultado da cirurgia, Rondon sempre dizia que a culpa era da paciente, que não havia seguido as orientações. "Eu não deixava minha filha fazer anda. Eu até lavava a cabeça dela, fazia tudo".

Outra vítima, uma dona de casa de 69 anos, também procurou Rondon para fazer redução de mamas. Ela tinha 58 anos quando o ex-médico deixou cicatrizes grossas e grandes nos seios dela. A cicatriz chega às costas dela.

Ela revela que decidiu fazer a cirurgia com Rondon também pela facilidade do convênio, mesmo assim teve que pagar uma parte em dinheiro. "A secretária não aceitou cheque, só dinheiro mesmo", conta o marido dela, que é aposentado.

A vítima conta que dois dias após a cirurgia procurou o médico devido às fortes dores. Nos primeiros 15 dias ele a atendeu. Depois "sumiu". "Ele não me atendeu mais. Sempre estava viajando", conta.

Após 40 dias, a dona de casa conseguiu ser atendida pelo ex-médico, que ao ver o "buraco" no seio dela, disse que ela era culpada pela situação porque não havia feito os curativos corretamente.

Um ano depois ela fez cirurgia de correção, que amenizou o a situação, mas não resolveu. "Ainda tenho que dormir de barriga para cima, com a mão no peito. Sabe como me sinto? Amarrada. Ele acabou com minha vida", define a dona de casa.

Para ela, a prisão do homem que a mutilou mostra que há Justiça. "Me sinto honrada com a prisão dele. Mostra que a Justiça existe. Foi Justiça para todos que ficaram com seqüelas".

O caso - Rondon atuou como cirurgião plástico mesmo não tendo a especialização necessária. Após as denúncias das diversas mulheres no fim da década de 90, Rondon teve o registro médico cassado e há cinco anos foi condenado por lesão corporal.

Ele foi preso pela Polícia Federal na segunda-feira (21), em Bonito, onde morava há anos. Ele residia no centro do município.

A Polícia Federal investigava uma clínica por fraude previdenciária e chegou até Rondon, tendo verificado que contra ele havia um mandado de prisão em aberto.

Rondon foi então trazido para Capital e está na Colônia Penal Agrícola.

Indenização - O MPF (Ministério Público Federal) está convocando, pelo menos, 55 vítimas do ex-médico para cobrar indenização por danos morais, materiais e estéticos na Justiça Federal. Elas ainda não integram a ação de indenização na Justiça Federal, que representa 65 das 120 vítimas de Rondon.

*Os nomes verdadeiros foram mantidos em sigilo para preservar as vítimas que também não permitiram imagens que as identificassem.

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