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Capital

A tragédia de Wender, que era fascinado por ônibus desde criança

Segundo a família, o rapaz acreditava que era mecânico dos veículos pelos quais era apaixonado

Guilherme Henri e Anahi Gurgel | 05/10/2017 19:10
Wender Silva de Oliveira, 20 anos, embaixo de um ônibus (Foto: Arquivo Pessoal)
Wender Silva de Oliveira, 20 anos, embaixo de um ônibus (Foto: Arquivo Pessoal)

O fascínio por ônibus levou Wender Silva de Oliveira, 20 anos, a acreditar que era mecânico das grandes máquinas de transporte coletivo. Daí, segundo sua família, veio o motivo de frequentemente ser encontrado embaixo delas. O giro das engrenagens e o ronco do motor eram assunto de histórias sem fim para o menino.

A paixão de infância foi, também, a tragédia de Wender. Foi sob as rodas de uma dessas máquinas automotivas pelo qual era apaixonado que ele acabou encontrando a morte. Wender foi atropelado por um ônibus, na noite de quarta-feira (4) na rua Yokohama, na Vila Almeida, em Campo Grande.

Com caixão fechado, o velório do rapaz, que tinha a simpatia e a amizade de trabalhadores do transporte público da Capital, é realizado no Memorial Park, mesmo local onde será seu sepultamento, marcado para esta sexta-feira (6), às 13h30.

A tia, Esmeralda Silva dos Santos, 43 anos, conta que o menino fazia tratamento psiquiátrico desde criança. Ela lembra que, quando ele atingiu a adolescência e aprendeu a sair sozinho, conheceu o que seria a paixão: ônibus.

“Ele conseguia sair de casa e andava por toda a cidade de ônibus. Em casa não parava de dizer que queria se tornar mecânico deles e acreditamos que Wender chegou a ter certeza de que realmente era um”, diz a mulher, ao explicar o porquê do sobrinho ter histórico de ser encontrado embaixo dos veículos.

Poucas pessoas foram ao velório do rapaz que ocorre no Memorial Park (Foto: Anahi Gurgel)
Poucas pessoas foram ao velório do rapaz que ocorre no Memorial Park (Foto: Anahi Gurgel)

Conforme ela, Wender morava com pais e três irmãos mais novos no bairro Santa Emília. A mãe abdicou do trabalho para se dedicar a cuidar do filho que, em alguns momentos, precisava ser contido. “A família fazia um controle muito grande para ele [Wender] não saísse sozinho, mas como a mãe era mais frágil nem sempre conseguia impedir sua vontade”, revela.

Esmeralda e outros membros da família não acreditam que o rapaz queria tirar a própria vida, apenas era mais uma de suas “aventuras mecânicas”. “Quando Wender saía de casa, logo algum funcionário de terminal ou até mesmo motorista nos ligava para irmos buscá-lo”, relata.

Um dos últimos encontros da tia com o Wender foi no domingo (1º) onde ela chegou a dizer ao sobrinho que não saísse mais sozinho. “Eu tenho que fazer minha correria tia. Ganhar meu dinheiro”, teria dito o rapaz, de acordo com a tia, ao se referir sobre seu “emprego” como mecânico de ônibus nas ruas. “Era o mundo que ele criou”, completa Esmeralda.

Abalado e de poucas palavras, o pai do menino, Wilson de Oliveira, apenas conseguiu dizer que Wender era um “docinho” e tinha o carinho da maioria dos funcionários do transporte público. “Ele tomava remédio para dormir e nunca disse que queria tirar a própria vida. Wender era muito inocente e não tinha noção do perigo”, afirma o pai.

Ônibus atropelou o jovem e só foi perceber incidente alguns metros depois (Foto: Geisy Garnes)
Ônibus atropelou o jovem e só foi perceber incidente alguns metros depois (Foto: Geisy Garnes)
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