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Capital

"Abri a porta para o meu filho ir embora", diz mãe de ex-viciado

Mariana Lopes | 23/09/2012 08:41

Do dia em que S. M. , 50 anos, descobriu um papelote de maconha na mochila do filho até o dia em que ela juntou forças e disse a ele: “ou você se tratava ou vai ter que ir embora de casa”, foram 8 anos de luta contra o vício.

Na reportagem de hoje, o Campo Grande News conta a história de mais uma família que quase foi devastada pelas drogas. A dor e a coragem de uma mãe que viu o filho ser consumido pelo crack e o arrependimento de um rapaz que perdeu a juventude para o vício.

E. M. , hoje com 29 anos, começou a fumar maconha quando ainda tinha 13 anos, em um baile de carnaval que foi junto com os pais, em Dourados. “Ele me disse que experimentou por curiosidade, junto com um amigo da escola”, lembra S.

Embora ela confesse que não conhecia nem as drogas e nem como as pessoas ficavam após o consumo, S. conhecia muito bem o filho, e foi o que bastou para perceber que ele andava com o comportamento diferente. “O desempenho na escola caiu e ele começou a andar com uns garotos que eu não conhecia”, conta.

A maconha foi um trampolim para drogas mais fortes. S. diz que não sabe ao certo quando o filho passou a usar outros entorpecentes, mas lembra que quando ele estava com 16 anos, ela perdeu o controle da situação. “Passei muitas noites atrás dele, preocupada, aflita”.

“Já usei de tudo, só não tive coragem de injetar”, conta E. , que de repente viu a vida escapar no vão de seus dedos, como quem dorme na sessão do cinema e perde um bom pedaço do filme. “Foi um tempo que eu só vivi para as drogas, ou usando, ou indo atrás... Quando me dei conta do meu estado físico, já era tarde”.

No ápice do desespero de ver o filho se afundar mais a cada dia, S. resolveu buscar ajuda primeiro para ela. E a estratégia deu certo. “Procurei o grupo ‘Amor Exigente’, que me explicou o que estava acontecendo e me orientou como eu deveria agir com o E. ”, lembra.

Foi então que S. juntou dentro dela toda a força que tinha e chamou E. para uma conversa definitiva. “Eu disse que era para ele se arrumar, pois no outro dia cedo a gente iria para Campo Grande para interná-lo”, conta.

S. se lembra como se fosse ontem da reação do filho. “A primeira atitude dele foi negar que precisava de ajuda, mas depois ele aceitou ir”. Naquela noite, Sônia conta que Erick pediu a ela para se despedir dos amigos. “Eu deixei, mesmo sabendo que ele iria se drogar”.

Na manhã seguinte, como o combinado, S. bateu cedinho na porta do quarto do filho. E então veio a resposta que ela menos queria ouvir. E. disse que tinha mudado de ideia e que não queria mais ir para a clínica. Mais uma vez S. juntou suas forças e disse ao rapaz, na época com 22 anos, que na casa dela não havia mais lugar para ele com a vida que estava levando.

“Abri o portão de casa para o meu filho ir embora e ele foi”, conta S. , com as lágrimas lavando o rosto ao lembrar quão difícil foi fazer uma aposta tão cara, ao abrir o portão e deixar o próprio filho ir, mas presa à esperança de que ele iria voltar.

Ela lembra que E. saiu de casa com a roupa do corpo e um travesseiro. “Na noite anterior eu limpei o guarda-roupa dele, as roupas que não estavam na mala, dentro do porta-malas do carro, estavam escondidas no meu quarto. Ele não tinha opção”, diz S.

E coração de mãe não se engana. Algumas horas depois, lá estava E., tocando a campainha e dizendo que aceitava o tratamento. De Dourados, a família mais do que depressa pegou estrada rumo a Campo Grande.

Mais uma vez, S. deixou escorrer as lágrimas, ao recordar do dia que deixou o filho na porta da clínica, com fé de que de lá sairia um novo homem, para uma nova vida. “Foi uma vitória para mim, consegui levar meu filho para se tratar”.

No filme da vida, E. não teve a chance de voltar a cena. Ele precisou recomeçar do zero e se entregou aos seis meses de internação. “Se meus pais não tivessem me obrigado a me tratar, hoje eu estaria morto ou preso”, comenta o jovem.

Da clínica, em Rochedo, a 74 quilômetros de Campo Grande, E. saiu renovado, consciente do tempo que perdeu e do que realmente queria de sua vida a partir daquele momento. “O problema é voltar à sociedade, para o mesmo ambiente, onde a droga é muito fácil de encontrar”.

Hoje, E. escreve um novo roteiro para sua história. Voltou para Dourados, está casado há quase seis anos, trabalha e faz planos para ter filhos. A vida deu uma nova chance a ele, longe das drogas.

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