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Alegando 'herança', Prefeitura dá merenda pobre em creches e escolas

Pendências com fornecedores tiram frutas, legumes e verduras do cardápio. Prefeitura garante que situação será normalizada a partir desta semana.

Anahi Gurgel e Yarima Mecchi | 06/03/2017 17:38
Estoque de merenda mostrado pela prefeitura antes do início das aulas (Foto: Pedro Peralta / Arquivo)
Estoque de merenda mostrado pela prefeitura antes do início das aulas (Foto: Pedro Peralta / Arquivo)

Arroz, carne, macarrão, feijão e bolacha. Nada de frutas, verduras ou alguma variação saudável. Este é o básico e 'pobre' cardápio que está sendo servido aos alunos de escolas públicas de Campo Grande, segundo constatam professores da Reme (Rede Municipal de Ensino).

Eles afirmam que, desde o início das aulas, em fevereiro deste ano, a merenda está sendo servida assim. A Prefeitura confirma as deficiências, no entanto, garante regularizar a situação a partir desta semana. 

Até que o problema seja solucionado, alguns pais têm que desembolsar para diversificar a merenda dos filhos.

“Minha filha de 3 anos tem reclamado muito porque ela adora frutas e faz tempo que não estão servindo. Minha esposa que tem comprado maçã, laranja e banana para ela comer no lanche”, reclama um leitor do Campo Grande News, que entrou em contato com nossa redação para expor o problema.

"Vi chegando carregamento de merenda. Não está tendo nenhuma variedade. Os alunos comem arroz, feijão, macarrão e carne moída. É o que reveza durante toda a semana", diz uma servidora, que prefere não se identificar.

Ela já deu aulas em duas escolas da Reme por pelo menos um ano e diz que o cardápio é o mesmo para todas as unidades. "É comum ser assim. Por várias vezes a bolacha é servida apenas com água, sem sucos ou leite. Dão quatro bolachas e acabou. Na verdade, vejo essa situação desde o ano passado. Este ano nada mudou", revela.

Há cinco anos trabalhando na rede municipal, outra professora conta que a situação é recorrente e muitas vezes não sabe como agir. "O problema não é falta de merenda, mas de variedade. Nunca cheguei a pegar uma merenda boa, daquelas que a gente vê na televisão. A gente até pensa em comprar, mas é difícil", lamenta.

“Nas escolas, os alunos comem baião de três, que é arroz, feijão e macarrão. O feijão é seco, não tem aquele caldo gostoso. E também em alguns Ceinfs (Centros de Educação Infantil), estão servindo apenas bolacha com leite puro na hora da merenda”, diz outro docente.

Conforme a Superintendência de Alimentação Escolar da Semed (Secretaria Municipal de Educação), o atraso na entrega de hortifrutis já foi resolvido com a quitação de pendências financeiras da gestão passada aos fornecedores e, assim, os alimentos começarão a ser entregues nesta semana nas escolas.

Nutricionista Graziella mostra pirâmide alimentar indicada para crianças. (Foto: Anahi Gurgel)
Nutricionista Graziella mostra pirâmide alimentar indicada para crianças. (Foto: Anahi Gurgel)

Recomendado – Especialista em nutrição clínica e com experiência em nutrição infantil, Graziella Samir Nammoura afirma que um "cardápio colorido" é fundamental para que os alunos tenham saúde e, consequentemente, um bom desempenho escolar.

“A falta de micro e macro nutrientes pode desencadear uma série de problemas para crianças em fase de crescimento. Sem a quantidade adequada de vitaminas, a criança pode ter um retardo no desenvolvimento, perda de memória, dificuldade para se concentrar, queda de imunidade”, elenca a nutricionista.

Um cardápio composto apenas de carboidratos, grãos e proteínas, como o que pode estar sendo servido nas escolas municipais, fica muito aquém do indicado pela pirâmide alimentar para crianças nessa fase.

“O excesso também é perigoso, pois pode aumentar colesterol, causar obesidade, problemas cardíacos e levar essa criança a ter inúmeras doenças no futuro. Pode até levar a óbito. Isso é muito sério e muitas pessoas não dão a atenção devida”, alerta, enfatizando que não somente a qualidade nutricional é importante, mas também o armazenamento dos alimentos.

Início da entrega dos alimentos para a merenda escolar, em janeiro. (Foto: Divulgação)
Início da entrega dos alimentos para a merenda escolar, em janeiro. (Foto: Divulgação)

Negociação - Por meio da assessoria de imprensa, a Prefeitura confirmou que as deficiências ocorrem devido ao saldo de licitação do ano passado, que não contempla todos os tipos de produtos.

“Porém, já há novas licitações em andamento para repor estoques e comprar de incrementos, que poderão ser entregues a partir de abril”, informa. Entre eles há cereais, carnes, achocolatado, suco, aveia, biscoito doce e salgado, farinha láctea, chá mate, açúcar e aveia. O processo de licitação tem prazo de até 90 dias para ser concluído.

Quanto ao suco, não há estoque do produto deixado na administração passada, porém junto com a bolacha está sendo servido leite. 

Há também a previsão de realizar uma chamada pública para a compra de hortifrutis, atendendo a resolução do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que orienta a compra desse tipo de produto através de pequenos produtores locais.

Ainda de acordo com a Prefeitura, a preparação das merendas é feita por uma equipe formada por 19 nutricionistas, que acompanham, junto à direção das unidades escolares, toda a rotina e o processo de preparação do cardápio, visitando as unidades para supervisionar a produção das refeições.

O orçamento previsto para gastos com alimentação escolar em 2017 é de R$ 21 milhões, sendo R$ 11 milhões oriundos de repasse do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).

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