Assédio moral e falta de estrutura marcam rotina dos trabalhadores do Consórcio
Outro ex-funcionário denuncia condições precárias e pressão psicológica no Consórcio Guaicurus

Os relatos de Gabriel da Silva Souza Almeida, ex-funcionário do Consórcio Guaicurus, revelam um cenário alarmante para os trabalhadores do transporte coletivo em Campo Grande. Formado em gestão de pessoas, ele trabalhou como bilheteiro e é do segundo ouvido na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Transporte, nesta quarta-feira (11).
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Segundo Gabriel, além de enfrentar jornadas exaustivas, chegando a trabalhar até quase 10 horas diárias, muitas vezes sem intervalos adequados, os trabalhadores convivem com falta de infraestrutura básica e condições que colocam em risco a saúde física e mental.
Condições ergonômicas - Durante os meses em que trabalhou no consórcio, Gabriel relata a falta de cadeiras adequadas com apoio lombar, exigência da NR-17 (ergonomia), e a constante quebra do ar-condicionado nos terminais onde atuava, especialmente no PEG Fácil 13 de Maio. O desconforto causado pela má estrutura resultava em trabalhadores passando mal, sem que a empresa tomasse providências efetivas.
Além disso, ele destaca que o ruído constante no ambiente de trabalho, causado por ônibus e equipamentos de áudio, ultrapassava níveis seguros, chegando a 70 a 88 decibéis, o que pode gerar perda auditiva e estresse. Apesar disso, não havia encaminhamento para exames audiométricos, contrariando as normas regulamentadoras NR-7 e NR-15.
Assédio moral - Gabriel também denuncia a prática sistemática de assédio moral no ambiente organizacional, com gestão abusiva que pressiona os trabalhadores, dificultando o ambiente de trabalho para forçar demissões espontâneas. Ele apresenta documentos que comprovam perseguição a funcionários, especialmente após apresentação de atestados médicos relacionados a problemas de saúde decorrentes das condições de trabalho.
Um relato recebido, pro uma pessoa que não quis se identificar, revela que uma trabalhadora sofreu escalas sobrecarregadas, além de condições estruturais precárias e, após apresentar atestado médico, passou a ser alvo de perseguição que agravou seu quadro de saúde mental, contribuindo para seu afastamento.
"Após apresentar atestado médico relacionado à coluna, passei a ser alvo de perseguições por parte da chefia, principalmente nas escalas. Isso agravou meu estado de saúde e contribuiu para um quadro de esgotamento psicológico, motivo que me levou a deixar o emprego. Só agora, com mais estabilidade emocional, sinto-me apta a buscar meus direitos", diz o relato.
Falta de suporte - Outro problema apontado é a ausência de técnicos de segurança do trabalho atuando na empresa, que poderiam identificar e corrigir essas irregularidades. Gabriel relata que nunca teve visita desse profissional durante sua permanência.
O sistema de bilhetagem, essencial para o controle financeiro e operacional do transporte, falhava com frequência, ficando indisponível por longos períodos. A comunicação entre trabalhadores e gestores era falha e as decisões muitas vezes chegavam sem diálogo ou esclarecimento, aumentando a sensação de abandono dos funcionários.
"O sistema caía e ficava um bom tempo fora do ar. Em algumas ocasiões, chegou a permanecer fora por 40 a 50 minutos. Não havia suporte técnico imediato e, como não tínhamos gestor direto dos bilheteiros, recorríamos a colegas mais antigos que já tinham passado por situações parecidas. A comunicação era precária”, conta
Além disso, não havia apoio psicológico formal oferecido pela empresa, sendo o único suporte disponível o acesso ao sistema do sindicato.
Salários incompatíveis - Gabriel conta que as jornadas ultrapassavam a carga horária contratual de 7h20, chegando a até 9 horas e 50 minutos diários, muitas vezes sem intervalos suficientes para descanso e alimentação, o que causa ainda mais desgaste físico e emocional.
Mesmo com a alta demanda e exposição a condições adversas, os salários pagos eram baixos, cerca de R$ 1.595 com vale-alimentação de R$ 200, valor considerado insuficiente para a carga e o risco do trabalho.
Ele reforça que essas práticas não só violam direitos trabalhistas como contribuem para a deterioração da qualidade do serviço prestado, prejudicando toda a população que depende do transporte coletivo.
“É fundamental que a sociedade tenha conhecimento dessas condições para cobrar mudanças urgentes no sistema. O transporte público não pode ser sustentado por trabalho exploratório e desrespeito à dignidade dos trabalhadores,” termina.
Além de Gabriel, mais cedo, os vereadores da Comissão ouviram o ex-manobrista e motorista do Consórcio Guaicurus, Weslei Conrado Moreli. Ele destacou jornadas de trabalho de até 11 horas, expondo riscos à saúde e segurança dos passageiros.
Outro lado - Desde o início dos trabalhos da CPI, o Consórcio Guaicurus mantém o posicionamento de não se manifestar sobre o tema à reportagem. A diretoria e proprietários da empresa já foram convocados para prestar esclarecimentos sobre os fatos à Comissão.
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