ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 25º

Capital

Campo Grande vira cemitério de obras, com R$ 46,4 milhões jogados no lixo

Ricardo Campos Jr. | 29/11/2015 08:35
Placa do Centro Municipal de Belas Artes foi retirada e jogada no porão do empreendimento, que está inacabado (Foto: Fernando Antunes)
Placa do Centro Municipal de Belas Artes foi retirada e jogada no porão do empreendimento, que está inacabado (Foto: Fernando Antunes)

Nas últimas duas décadas, o poder público jogou pelo menos R$ 46.444.600 no lixo em obras inacabadas ou que estão prontas, mas não funcionam e sofrem com a ação do tempo. Sérgio Lopes Padovani, presidente da Comissão de Defesa do Patrimônio Público da OAB-MS, afirma que em alguns casos, a perda a pela deterioração faz com que os empreendimentos fiquem cinco vezes mais caros do que o previsto.

Ele explica que a maioria dos projetos de grande porte é financiado pela União com contrapartidas do município ou do estado. O dinheiro federal é enviado aos poucos, conforme a construção avança. Se ela para, as verbas que ainda não foram aplicadas são retidas.

“Se você inicia uma obra e fica um ano com ela parada na metade, tem que esquecer tudo o que já fez, iniciar um novo planejamento para terminar e fazer um novo orçamento”, explica o advogado.

O problema, segundo Padovani, é que esse procedimento tem custos, já que em alguns casos o poder público precisa contratar uma empresa especializada somente para fazer essa avaliação. “É dinheiro jogado fora”, completa o presidente da comissão.

“Aquela antiga rodoviária. Quem me garante que aquilo não vai ter que se demolido e fazer de novo? Aquele cimento é de 95, nunca passou por pintura. De repente uma parede daquelas não é segura. Por isso tem que haver uma reavaliação”, afirma o advogado.

Situação de abandono do Centro de Belas Artes (Foto: Fernando Antunes)
Situação de abandono do Centro de Belas Artes (Foto: Fernando Antunes)
Obra erguida para ser rodoviária, mas não seguiu adiante está tomada pelo mato (Foto: Fernando Antunes)
Obra erguida para ser rodoviária, mas não seguiu adiante está tomada pelo mato (Foto: Fernando Antunes)
Prédio está danificado pela ação do tempo (Foto: Fernando Antunes)
Prédio está danificado pela ação do tempo (Foto: Fernando Antunes)

Emblemática – Essa obra citada por Padovani recebeu um investimento inicial de R$ 10 milhões para se tornar o novo terminal de passageiros de Campo Grande. Em 2009, o município decidiu transformar o local em um Centro de Belas Artes, um espaço com salas de auditório e espaços para espetáculos artísticos.

Desde então, o lugar recebeu mais R$ 7 milhões vindos do Ministério do Turismo. O empreendimento foi novamente paralisado depois que a empresa responsável, a Mark Construções e Engenharia, passou a cobrar dívida de R$ 1,2 milhão. A prefeitura reconhece débito de apenas R$ 200 mil.

Enquanto isso, o canteiro está abandonado e tem desvalorizado propriedades nas redondezas, do Cabreúva e incomoda a população.

“Qualquer obra inacabada é dinheiro jogado fora. Cada dia pagamos mais taxas, os impostos só têm subido e um espaço desses, se fosse uma praça, já seria suficiente, mas é um esconderijo de mendigos”, diz o vistoriador Hudson Motti, 27 anos.

“Com certeza é dinheiro jogado fora. Para que fazer uma coisa dessas?”, diz o vendedor Mikaelson Ferreira dos Santos, 18 anos. Na opinião dele, a verba poderia ter sido investida em segurança ou saúde, áreas em que a população mais carece de atenção.

Relógio das Flores está tão danificado que os números estão praticamente invisíveis sobre a grama (Foto: Gerson Walber)
Relógio das Flores está tão danificado que os números estão praticamente invisíveis sobre a grama (Foto: Gerson Walber)
Ponteiro do Relógio das Flores foi danificado por vândalos (Foto: Gerson Walber)
Ponteiro do Relógio das Flores foi danificado por vândalos (Foto: Gerson Walber)
Até a placa com o nome da obra está gasta (Foto: Gerson Walber)
Até a placa com o nome da obra está gasta (Foto: Gerson Walber)

Largado – Localizado na Avenida Duque de Caxias, o Relógio das Flores foi inaugurado em 2012 pelo ex-prefeito Nelson Trad Filho (PTB). Nele foram gastos R$ 44,6 mil.

A intenção era tornar o local um dos cartões postais de Campo Grande, mas sem manutenção, o mecanismo que o fazia marcar as horas parou de funcionar, foi depredado e se deteriorou. Até mesmo a placa que identifica o nome do empreendimento está gasta.

Dos números, que antes apresentavam flores coloridas, só restam as molduras cobertas por mato e transformam o local em somente um monte de grama. Um dos ponteiros foi arrancado por vândalos.

“Acho um descaso. Era para ser uma obra de referência de beleza na cidade e infelizmente está abandonada”, diz o militar Audrey Ernesto de Lima, 21 anos.

Para a farmacêutica Raíssa Borges, 26 anos, o dinheiro gasto no monumento poderia ter sido injetado em áreas mais necessitadas, como saúde.

“É obra parada, é rua esburacada. Até ciclovia tem buracos”, comenta.

Vagões da Orla Ferroviária estão abandonados e poucos devem ser reaproveitados (Foto: Fernando Antunes)
Vagões da Orla Ferroviária estão abandonados e poucos devem ser reaproveitados (Foto: Fernando Antunes)
Projeto não emplacou e vários quiosques foram fechados (Foto: Gerson Walber)
Projeto não emplacou e vários quiosques foram fechados (Foto: Gerson Walber)
Um dos vagões que deveriam ser lanchonetes foi destruído por incêndio em outubro (Foto: Fernando Antunes)
Um dos vagões que deveriam ser lanchonetes foi destruído por incêndio em outubro (Foto: Fernando Antunes)

Deu errado – Construída em 2013 para ser um polo gastronômico e lugar de lazer para as famílias da Capital, a Orla Ferroviária não emplacou e hoje está abandonada. Vários quiosques em formato de vagões de trem alinhados por entre o calçadão estão vazios e se tornaram reduto de usuários de drogas e moradores de rua.

No dia 16 de outubro, um dos espaços pegou fogo e ficou completamente destruído. Os comerciantes que trabalham ao redor da orla sentem-se inseguros e pedem que os quiosques sejam retirados para evitar problemas.

A Secretaria Municipal de Turismo tem um projeto para revitalizar e dar outra finalidade ao calçadão. A obra inicial custou R$ 4,8 milhões e ainda não há estimativa de quanto terá que ser gasto novamente para as reformas.

“Com certeza é dinheiro jogado fora. E as obras que deveriam estar fazendo, não fazem”, diz a lojista Ana Paula Rodrigues, 29 anos.

A dona de casa Kelly Laura da Silva, 45 anos, concorda que o investimento foi um desperdício. “Hoje em dia tudo está descontrolado. É uma falta de respeito com o povo”, afirma.

Trem do Pantanal fracassou e Estação Indubrasil ficou abandonada (Foto: Fernando Antunes)
Trem do Pantanal fracassou e Estação Indubrasil ficou abandonada (Foto: Fernando Antunes)
Hospital do trauma, por enquanto, segue parado (Foto: Fernando Antunes)
Hospital do trauma, por enquanto, segue parado (Foto: Fernando Antunes)
Porto Seco prometia resolver problemas de logística na cidade e também está parado (Foto: arquivo)
Porto Seco prometia resolver problemas de logística na cidade e também está parado (Foto: arquivo)

Fazem falta – Em 2007 o município começou a construção do Porto Seco, obra que prometia melhora a logística na cidade por reunir vários modais de transporte, já que por ele passam rodovia, ferrovia e fica ainda perto do aeroporto. Nele foram gastos R$ 17 milhões e ainda não saiu do papel. Hoje o local está abandonado.

Outro prédio que representa verbas públicas desperdiçadas é a Estação Indubrasil, que recebeu R$ 1,6 milhão de investimento para reforma e foi inaugurada em 2009 como ponto de partida do Trem do Pantanal. O alto custo do passeio, aliado a baixa velocidade das composições e o trecho entre Miranda e Corumbá retirado do itinerário fizeram com que o projeto fracassasse.

Em abril, a ALL América Latina Logística anunciou a suspensão da atração e o local está abandonado desde então. Parte do forro de PVC caiu, há vidros quebrados, mato alto e vários outros problemas.

A construção do que promete ser a solução para a falta de leitos em unidades de pronto-atendimento, o Hospital do Trauma, está parada. Existem recursos barrados em contas cuja liberação depende de autorização do Ministério da Saúde. A parte que já está pronta custou R$ 6 milhões. O poder público promete retomá-la em 2016.

Nos siga no Google Notícias