Com MS em alta de feminicídios, Capital aposta em aplicativo para salvar vítimas
Ferramenta de emergência funciona desde agosto e atua em casos de risco iminente de feminicídio
RESUMO
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Campo Grande registra queda nos casos de feminicídio em 2025, com sete ocorrências até o momento, em contraste com os 11 casos do ano anterior. A redução de quase 50% destaca-se no cenário estadual, onde Mato Grosso do Sul já contabiliza 39 vítimas este ano, configurando o terceiro pior período desde a criação da Lei do Feminicídio. A capital sul-mato-grossense implementou o aplicativo Proteja Mais Mulher como ferramenta de emergência para mulheres em situação de risco. O sistema, exclusivo para vítimas cadastradas na Casa da Mulher Brasileira, permite acionar socorro rapidamente, com tempo de resposta entre dois e quatro minutos e meio, resultando em prisões em flagrante em todos os casos atendidos.
Em meio a um cenário alarmante de violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul, que já soma 39 feminicídios em 2025, Campo Grande aparece como uma exceção dentro do próprio Estado. Enquanto Mato Grosso do Sul vive o terceiro pior ano desde a criação da Lei do Feminicídio, em 2015, a Capital registra redução no número de mortes e aposta em ferramentas de resposta rápida, como o aplicativo Proteja Mais Mulher, para evitar que casos de violência doméstica cheguem ao desfecho mais extremo.
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Os números estaduais reforçam a gravidade do problema. Com 39 vítimas neste ano, 2025 fica atrás apenas de 2020, quando foram registrados 40 feminicídios, e de 2022, com 44 casos. Autoridades e especialistas destacam que a maioria dessas mortes é precedida por um histórico de agressões, ameaças e reincidência, o que torna a resposta rápida um fator decisivo.
Em Campo Grande, no entanto, os dados mostram um comportamento diferente. Em 2024, a Capital registrou 11 feminicídios. Até agora, em 2025, foram sete vítimas. Segundo a secretária municipal da Secretaria Executiva da Mulher, Angélica Fontanari, a redução ocorre em meio a uma série de mudanças estruturais no atendimento às vítimas.
“Indo na contramão dos índices nacionais, onde o feminicídio infelizmente explodiu, Campo Grande reduziu esses números em quase 50%. De 11 casos no ano passado para sete neste ano”, afirmou. Segundo ela, o município pode ser hoje a única capital do país com queda nos registros. “Pelos dados que nós temos, Campo Grande é a única capital do Brasil que conseguiu reduzir o feminicídio”, disse, ao atribuir o resultado ao fortalecimento da rede de proteção.
Ferramenta de emergência - Uma das apostas da instituição é o aplicativo Proteja Mais Mulher, implantado em agosto deste ano. A ferramenta funciona como um botão de emergência exclusivo para mulheres que já passaram pela Casa da Mulher Brasileira, registraram boletim de ocorrência ou solicitaram medida protetiva.
“O nosso aplicativo não é o botão do pânico. É o botão da vida. É um botão de emergência para aquela mulher que corre risco iminente de morte”, explicou Angélica. Segundo ela, o sistema foi criado justamente para situações em que a violência está prestes a escalar.
O acionamento pode ser feito sem que a vítima desbloqueie o celular. Ao apertar uma combinação de botões externos, o aplicativo grava cinco segundos de áudio ambiental e envia automaticamente o georreferenciamento da mulher para a Central da Guarda Municipal.
“Esse pedido de socorro chega com a localização exata da vítima. A Guarda Municipal, que está distribuída nas sete regiões da cidade, desloca a equipe mais próxima. Hoje, nosso tempo de resposta está entre dois minutos e meio e quatro minutos e meio”, disse.
De acordo com a secretária, todos os acionamentos feitos até agora resultaram em prisão em flagrante dos agressores. “Todos os casos que foram acionados tiveram resposta imediata e o agressor foi autuado em flagrante”, afirmou.
Uso restrito e responsabilidade - O aplicativo não é disponibilizado ao público em geral. Segundo Angélica, ele é restrito às mulheres que já passaram pela Casa da Mulher Brasileira justamente para evitar banalização do uso.
“Esse aplicativo é para aquela mulher que já está identificada como vítima e que corre risco real de morte. Para a população em geral, continuam valendo o 190, o 180 e o 153. Além disso, quem já tem a medida protetiva e não tem o aplicativo, pode vir até aqui, que vamos instalar”, explicou.
Atualmente, cerca de 400 mulheres estão cadastradas no sistema. O uso não é obrigatório, mas recomendado. Para ter acesso, a vítima assina um termo de compromisso, se responsabilizando por acionar o botão apenas em situações reais de emergência.
“A gente orienta que, se ela conseguir falar, diga informações básicas. Se o agressor está armado, como ele está vestido, porque isso ajuda a equipe que está chegando”, explicou.
Mudanças após caso Vanessa Ricarte - A intensificação das políticas públicas de enfrentamento à violência doméstica em Campo Grande ocorre após a morte da jornalista Vanessa Ricarte, assassinada em fevereiro deste ano. O crime gerou forte repercussão e levou a revisões nos procedimentos da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e da Casa da Mulher Brasileira.
Entre essas mudanças está também a ampliação do atendimento integrado dentro da Casa da Mulher Brasileira, onde a vítima encontra acolhimento psicossocial, registro de ocorrência, pedido de medida protetiva, atendimento do Judiciário, Defensoria Pública, Ministério Público e exame de corpo de delito no mesmo espaço.
Acompanhamento contínuo - Além do atendimento emergencial, a rede municipal mantém acompanhamento psicossocial continuado por até oito meses. “Essa mulher recebe ligações, visitas e acompanhamento para entender que ela não está sozinha. O objetivo é fortalecer e encorajar para romper o ciclo da violência”, disse a secretária.
Outro reforço citado por ela é o Programa Recomeçar Moradia, que concede auxílio financeiro por até um ano e meio para mulheres vítimas de violência, ajudando com despesas básicas enquanto reconstroem a vida.
Apesar da redução registrada na Capital, Angélica ressalta que o cenário estadual exige atenção permanente. “A diminuição dos números não significa que o problema acabou. O feminicídio não começa na morte. Ele começa na agressão, na ameaça, na reincidência. Por isso, a importância de denunciar e de agir rápido”, afirmou.



