Com padrinhos na publicidade, Praça do Peixe sofre abandono e queixas
Espaço de lazer no Vilas Boas tem diversos problemas, apesar de ser adotado por empresas
A Praça do Peixe, que reúne lazer e esporte no bairro Vilas Boas, em Campo Grande, também chama atenção pelas placas. As que contam a história do lugar, como a que detalha que o nome oficial do espaço é Demosthenes Martins (homenagem ao ex-prefeito) ou a que informa a revitalização em 2011 ficam de escanteio e uma delas foi depredada. Já as que anunciam os empresários “padrinhos” da praça têm grande exposição, contrastando com as reclamações de abandono, que vão da falta de água a brinquedos estragados.
“Isso aqui está um caos. Não tem banheiro, não tem água, os brinquedos estão estragados. E faz horas que está assim. Acho que essa placa de padrinho é só mídia. Se fosse padrinho mesmo, manteria a praça”, afirma Ádila Jerônymo, 39 anos.
A praça que, olhada de cima tem formato de peixe, é o destino dela e das filhas Beatriz, Alice e Sophia aos finais de semana. “Não dá para usar o escorregador porque o sol esquenta muito. As crianças acabam indo brincar na academia ao ar livre por falta de opção”, conta Ádila.
Na tarde de domingo (dia 2), o sol iluminava a brincadeira das crianças no parquinho infantil com seis opções de diversão. A gangorra está parcialmente quebrada, enquanto o escorregador, de fato, fica bem quente para receber crianças. Boa parte da meninada prefere brincar com baldinhos na areia, que para os pais precisa ser trocada. Na entrada do parquinho, onde ficam os pequeninos chinelos das crianças, um dos portões está quebrado.
Na praça, Karla, 8 anos, sai em disparada com a bicicleta. A menina conta que gosta de sentir o ventinho no rosto, resultado da velocidade e também das muitas árvores que asseguram a brisa no fim de tarde. Se a alegria fica clara no passeio de bike, a reclamação é direcionada para o parquinho. “A gangorra está quebrada e faltam mais brinquedos”, diz a menina.
Mãe de Karla, Elizandra Pereira Florentino, 37 anos, conta que vai à Praça do Peixe toda semana. “É sempre esse mesmo aspecto de abandono. Falta banco, as calçadas estão desniveladas. E o banheiro das mulheres só fica limpo porque tem que pegar a chave no quiosque. Mas se você vier de manhã, trazer uma criança para brincar, o banheiro está fechado”, conta.
O piscineiro Luiz Carlos Elias Mariano, 41 anos relata que no banheiro masculino, a situação é pior, sem condições de uso. A água também é uma questão delicada na Praça do Peixe. O espaço não tem bebedouro e, como a conta de água é compartilhada entre o proprietário do quiosque de cachorro-quente e a turma do futevôlei, a torneira só funciona quando o registro é ligado por eles.
O microempresário Rudemar Amorim, 46 anos, conta que a situação da água gera reclamações, mas o controle é necessário para evitar desperdícios e porque a conta chega a R$ 300 por mês. Os amigos que jogam futevôlei na praça se organizam em grupo de WhatsApp, com cerca de 20 participantes, e dividem despesas.
Além da conta de água, pagaram R$ 650 para renovar a areia da quadra e colocaram lixeiras. “É muito bem frequentada, uma opção de lazer. Não podemos deixar a praça morrer”, afirma o microempresário. No caso da turma do futevôlei, a doação é sem placas de propaganda.
A Praça do Peixe atrai muitos moradores de bairros vizinhos. A médica veterinária Danielle Lopes Cardoso Peixoto, 38 anos, mora no bairro Rita Vieira e sempre leva as cachorrinhas Meg e Sol para passear. “É a praça mais próxima de onde moro”, diz.
A comunidade evangélica Viva a Vida leva atividades lúdicas para a praça, das 15h30 às 17h30. No ano passado, voluntários fizeram limpeza e pintura no local. De acordo com Bruno Casal, o plano é fazer eventos a cada 15 dias e também apadrinhar a praça para melhoria do espaço público. O cenário neste domingo era de lixeiras cheias, lixo pelo grama, telas da quadra de esporte danificadas e equipamentos enferrujados.
Padrinhos – Sem dar o nome, o proprietário do quiosque diz que explora o ponto comercialmente, mas como contrapartida faz roçada, limpeza e manutenção. Ele ainda paga parte da conta da água, mas não quis informar o valor. No quiosque também fica a chave do banheiro. O dono conta que recolhe o lixo e, em acordo com os vizinhos, coloca nas lixeiras de imóveis próximos para que os resíduos sejam levados pela coleta.
Na praça, placas informam que o local é mantido por padrinhos por meio do Propam (Programa de Parceria Municipal). No projeto, empresas ou pessoas físicas apadrinham locais públicos para manutenção e conservação de praças, parques, áreas verdes, canteiros e rotatórias. Em contrapartida, ganham direito a fazer publicidade no local, com tamanho e layout determinado pela Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano).
Oficialmente, como informam as placas, a Praça do Peixe é apadrinhada pelo Box do Gordinho e pela Gigante Cesta Básica. A reportagem não conseguiu contato com as empresas neste domingo.
A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) informou que vai averiguar a situação. “Se não estiverem fazendo o que está assinado no Propam, podem perder essa condição de parceria. A fiscalização vai averiguar e denúncias podem ser feitas por meio do 156”, afirma o secretário Luís Eduardo Costa.
Homenageado – Demosthenes Martins foi prefeito de Campo grande entre 1942 e 1945. A homenagem foi oficializada em 22 de setembro de 1995 pelo então prefeito Juvêncio César da Fonseca, por meio da publicação da Lei 3.188.

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