ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
OUTUBRO, TERÇA  28    CAMPO GRANDE 31º

Capital

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul

Mas 13 anos depois, moradores do Jardim Parati ainda sofrem com ruas sem asfalto e sem drenagem na região

Por Mylena Fraiha | 28/10/2025 14:19

Em 13 anos, o Jardim Parati, bairro localizado na região Anhanduizinho, em Campo Grande, passou por uma transformação intensa. O que antes era uma área com poucas casas, hoje tem um comércio diversificado, grandes franquias e um fluxo populacional que mais que dobrou. A população do bairro, que girava em torno de 5 mil pessoas antes do empreendimento, já ultrapassa 11 mil habitantes, segundo dados da Prefeitura.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O Jardim Parati, bairro da região Anhanduizinho em Campo Grande, passou por uma transformação significativa nos últimos 13 anos. A chegada do Condomínio Village Parati em 2012, com 2.256 casas distribuídas em 14 hectares, impulsionou um crescimento populacional expressivo, elevando o número de habitantes de 5 mil para mais de 11 mil. O desenvolvimento atraiu grandes franquias e diversificou o comércio local, especialmente na Rua da Divisão, que se tornou um importante corredor gastronômico. Apesar do progresso comercial e populacional, o bairro ainda enfrenta desafios de infraestrutura, principalmente relacionados à drenagem e pavimentação das vias públicas.

O motor dessa mudança, segundo os próprios moradores, foi o Condomínio Village Parati, inaugurado em 2012. Com 2.256 casas distribuídas em 14 hectares, o conjunto habitacional é considerado o maior do tipo em Mato Grosso do Sul.

Rodeado por duas importantes vias, a Rua da Divisão e a Avenida Senador Filinto Müller, o Village Parati foi lançado em 2009 dentro do programa federal Minha Casa, Minha Vida. São 2.256 casas, com opções de dois e três quartos, distribuídas em uma área de 14 hectares, o equivalente a 140 mil metros quadrados. A direção do condomínio estima que, atualmente, cerca de 8 mil pessoas vivam dentro do residencial.

A influência do Village foi tamanha que até mesmo franquias conhecidas se instalaram no entorno, como Subway, Chiquinho Sorvetes, Fort Atacadista e agências bancárias. Pequenos comerciantes também aproveitaram o embalo e abriram mercearias, lanchonetes e lojas de variedades, o que gerou empregos e ampliou a circulação no bairro.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Fachada de comércios na Rua da Divisão; nos últimos dez anos, região teve um "boom" e virou corredor comercial (Foto: Osmar Veiga).

O churrasqueiro Pedro Hugo Flores, 46 anos, mora há oito anos no Jardim Parati e acompanhou parte dessa transformação. Ele relata que conheceu a região quando o condomínio ainda estava em fase de ampliação. “Eu morava no bairro Caiobá. Aqui era da patroa da minha esposa. Mas quando a gente chegou aqui, praticamente o condomínio não tava todo ajeitado. Agora tem até as duas partes”, relembra.

Pedro afirma que o aumento de moradores impulsionou o comércio local. “Foi uma transformação boa, muita gente veio morar para cá. Tem muita coisa agora, como mercado, sorveteria, tem até lojinhas de utilidades e de coisas de casa. Tem muito comércio agora".

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Fabrício relata que cresceu vendo o Parati se transformar ao longo dos anos com a chegada do condomínio (Foto: Osmar Veiga).

Outro morador que testemunhou o crescimento do bairro é Fabrício Silva Domingues, 33 anos, dono de uma serralheria na Rua da Divisão, herdada do pai, Alécio Domingues, falecido em 2021 de covid-19. Ele relata que cresceu vendo o Parati se transformar. “Aqui era uma fazenda, tinha gado que chegava até aqui, mas isso foi há uns 15 ou 20 anos atrás”, relembra. “Depois teve o loteamento, que foi quando o meu pai comprou esse terreno da oficina, e anos depois o condomínio veio”, comenta Fabrício.

O serralheiro conta que a movimentação aumentou com a chegada do Village. “Como o meu comércio é mais nos fundos, meus clientes são mais por telefone, mas assim, eu noto que está muito movimentado. Tem o Fort, o Banco Sicredi, muitas farmácias, então a região desenvolveu bastante.”

Moradora da região há 20 anos, a líder do bairro Dieniffer Caroline também concorda que o Village Parati foi determinante para o crescimento da região. “Por ser o maior condomínio, ele abriga muitos moradores e movimenta bastante o comércio local. Acredito, sim, que o condomínio foi uma bênção para todos, valorizando muito as casas da região",

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Entrada principal do Condomínio Village Parati, localizada na Rua da Divisão (Foto: Osmar Veiga).

Boom populacional e comercial – O aumento na população do Parati também é confirmado em dados. De acordo com os relatórios Perfil Socioeconômico de Campo Grande 2025, elaborados pela Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano) com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o bairro teve uma taxa média de crescimento anual da população entre 2010 e 2022 de 5,1% a 10%, uma das maiores da região Anhanduizinho.

Em 2007, o bairro tinha população estimada entre 2 mil e 5 mil pessoas, figurando entre os menos populosos da área. Já em 2010, o Censo registrou 5.314 habitantes e 1.716 domicílios particulares permanentes, com média de 3,09 moradores por residência e rendimento nominal médio de R$ 2.377,91.

Doze anos depois, o levantamento de 2022 revelou um salto expressivo: o Jardim Parati passou a abrigar 11.538 moradores, mais que o dobro do registrado no início da década anterior, reflexo direto da construção do Condomínio Village Parati e da expansão imobiliária que se seguiu.

Recentemente, o condomínio passou por uma nova inauguração no começo do ano, a chamada “fase 4”. Foram construídas mais 2.256 casas em uma área localizada no entorno do condomínio já consolidado. Assim como na primeira fase, as unidades são voltadas ao programa Minha Casa, Minha Vida, mas dessa vez com opções de dois e três quartos, variando de 41 a 51 metros quadrados, além de uma vaga de garagem por residência.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
José Moretti diz que quem comprou apartamentos na planta se beneficiou (Foto: Osmar Veiga).

No meio desse “boom”, quem comprou apartamentos na planta também se beneficiou. O vice-síndico do Village Parati, José Cláudio Moretti, foi um dos primeiros moradores a adquirir uma casa na planta, ainda em 2009. Ele recorda que o programa Minha Casa, Minha Vida oferecia condições atrativas. “Era muito viável. Quem comprou na época da presidente Dilma [Rousseff] não tem do que reclamar. Eram parcelas de R$ 400 ou R$ 450.”

Hoje, Moretti observa que o aluguel dentro do Village subiu consideravelmente. “Quem aluga aqui dentro, aluga acima de R$ 1.000”, diz o vice-síndico do condomínio.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Vista aérea do Condomínio Village Parati, no bairro Jardim Parati (Foto: Osmar Veiga).

Segundo ele, o condomínio reúne perfis variados de moradores. “Maioria é classe média, mas também tem classe média alta e ainda tem gente de renda básica bem baixa”, explica Moretti.

De forma mais ampla, no bairro, a população também é considerada de classe média. Já os dados do IBGE mostram que o rendimento nominal médio mensal dos domicílios particulares permanentes era de R$ 2.377,91 em 2022, considerado classe C.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Galeria comercial na Rua da Divisão abriga lanchonete Subway, lotérica e pequenas lojas (Foto: Osmar Veiga).

No comércio, apesar de se concentrar na Rua da Divisão, a transformação também foi visível e atraiu lojistas de diferentes áreas. De atacadistas a lojas de R$ 9,99, a Rua da Divisão, no bairro Parati, é o principal ponto comercial e gastronômico da região. Moradores chegam a compará-la como “a segunda mais importante rua gastronômica da cidade”, atrás apenas da Avenida Bom Pastor, no bairro Vilas Boas.

Em 2017, por meio da Lei nº 5.798, de 3 de janeiro de 2017, o então prefeito Marcos Trad sancionou a criação do Corredor Gastronômico Turístico e Cultural do Bairro Parati na Rua da Divisão entre a Avenida Guaicurus e a Avenida George Chaia.

Desde então, o local tem atraído diferentes tipos de empreendimentos, com galerias de lojas, pequenos comércios e franquias. Uma delas é a de Rosane Ferreira Amorim, 52 anos, proprietária da Ótica Paraty, localizada em uma galeria.

Rosane relata que chegou ao bairro há dez anos. Em sua visão, a Rua da Divisão se tornou uma boa opção porque atende tanto o Jardim Parati quanto bairros populosos ao redor, como o Aero Rancho. “Aqui eu tenho um bom movimento e grande parte dos meus clientes são do condomínio, mas tenho muitos clientes de outros bairros".

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Rosane diz que Rua da Divisão se tornou uma boa opção porque atende tanto o Jardim Parati quanto bairros populosos ao redor (Foto: Osmar Veiga).

Outro comerciante, mais recente, é Rodrigo Reis, 30 anos, um dos proprietários da Makes Maquiagens e Acessórios, loja de maquiagens, produtos de beleza e acessórios com preços a partir de R$ 9,99. Ele relata que a loja abriu há sete meses e que, ao invés de escolher o centro da cidade, o ponto na Rua da Divisão foi escolhido por “ter grande fluxo de pessoas”.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Rodrigo diz que ponto na Rua da Divisão foi escolhido por “ter grande fluxo de pessoas” (Foto: Osmar Veiga).

“O centro da cidade, ao meu ver, praticamente se esgotou. Hoje, a saída para o bairro é uma grande alternativa. E aqui, na Rua da Divisão, a gente vê um fluxo tremendo de pessoas. Isso trouxe várias vantagens. Para o comércio, é bom porque o fluxo é constante, então a gente consegue ter visibilidade. E, ao mesmo tempo, as pessoas se sentem mais acolhidas por estar do lado de casa”, explica Rodrigo.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Na Rua da Divisão, diversos restaurantes e pequenos comércios funcionam durante o dia (Foto: Osmar Veiga).

Sonho no papel – Entretanto, o “boom” ainda não se traduziu na promessa de melhorias na infraestrutura, especialmente na parte de asfalto e drenagem. Entre dezembro do ano passado e janeiro deste ano, o Campo Grande News noticiou como, em dias de chuvas intensas, a Rua da Divisão ficou completamente alagada.

O vice-síndico aponta que a questão do asfalto e da drenagem realmente é crítica na região e que era prometida desde o lançamento do condomínio, em 2012. Segundo ele, a responsabilidade agora segue nas mãos da Prefeitura. “Ficou muito a desejar, tanto que os asfaltos no perímetro que ficaram de entregar, não entregaram. As duas laterais e parte do fundo lá não têm asfalto. Isso era compromisso no começo, mas ninguém se comprometeu. Agora é com a prefeitura”, diz Moretti.

No meio desse impasse, tanto os moradores do condomínio quanto do bairro sofrem há anos com a falta de drenagem adequada. A reportagem também notou que, na Avenida Senador Filinto Müller, parte de trás do condomínio está abandonada, com estrada de terra e lixo espalhado.

Já no interior do bairro, entre as ruelas, a reclamação é pela falta de um asfalto que sempre é prometido, mas nunca chega. O morador Pedro aponta que, nos oito anos em que está no bairro, só ouviu promessas. “É uma coisa que foi prometida há um bom tempo, mas até agora nada”, diz. “Falta principalmente aqui dentro do bairro [Parati] mesmo. Tem umas ruas aqui complicadas, especialmente em dias de chuva".

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Nerio diz que mora na Rua Esperidião Castelo Branco desde 2005 e que promessa de asfalto "é antiga" (Foto: Osmar Veiga).

Um morador que sofre no dia a dia é Nerio Sobrinho de Oliveira, 84 anos, que mora no bairro desde 2005. Ele explica que as melhorias vieram com o condomínio, mas, em sua visão, só na Rua da Divisão. “Eu sempre faço compra por lá [Rua da Divisão], uso o mercado e lotérica”, conta. “Mas só algumas partes do bairro têm asfalto. Ninguém vai deixar de pôr uma venda, um açougue, uma loja, em um lugar que tem asfalto.”

Apesar de notar os benefícios do comércio mais próximo, Nerio acredita que a vinda do condomínio também aumentou o fluxo de carros, enquanto as vias pioraram. “As ruas estão mais fundas”, comenta. “Aí quando chove, vira uma enxurrada que leva a terra para rua abaixo".

Ele mora na Rua Esperidião Castelo Branco, uma das vias próximas ao condomínio, mas que ainda é de terra, com trechos cascalhados. Segundo ele, a história de chegada do asfalto “é promessa antiga” e alguns vizinhos improvisam melhorias.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Pedaço asfaltado por vizinho de Nerio na Rua Esperidião Castelo Branco (Foto: Osmar Veiga).

Quase em frente à sua casa há um trecho asfaltado, mas que não foi feito pela Prefeitura. Ele explica que um vizinho chegou a asfaltar a própria frente da residência. “Ele fez na frente da casa dele. Pra mim não melhorou, mas não estragou também. Ele beneficiou ali a casa dele, pra ele tá bom, melhor do que era".

A líder do bairro, Dieniffer, diz que a falta de drenagem e asfalto “é um abandono por parte da prefeitura”. “Em dias de chuva, a situação vira um verdadeiro caos, sem falar nos buracos.”

Ela aponta que há um grupo no bairro que há anos reivindica essas melhorias. “Nossa luta já tem tempo ali; tínhamos até faixas cobrando”, explica. “Temos crianças com deficiência na rua que usam cadeiras de rodas”, relata Dieniffer.

De casas populares a franquias, condomínio provocou efeito dominó na região sul
Após chuva, Rua Francisco José Barreto fica com parte alagada (Foto: Osmar Veiga).

Em julho deste ano, o secretário Marcelo Miglioli informou que a Prefeitura havia encaminhado uma carta-consulta à Caixa Econômica Federal para buscar financiamento de R$ 572 milhões destinados a obras de pavimentação e drenagem, inclusive para a região do Jardim Parati.

Em nota, a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) informa que, após a aprovação da carta-consulta, deu início à contratação dos projetos executivos, etapa que deve ser concluída até o final do ano. “Após isso, a Sisep só irá depender da autorização para dar início ao processo licitatório.”

Segundo a pasta, a obra que está sendo licitada faz parte do projeto de drenagem e pavimentação do Jardim Botafogo, mas impactará positivamente também os bairros vizinhos, como Parati, Pioneiros, Jardim das Nações e Alto da Boa Vista.

“Com essa obra do Jardim Botafogo, será criada uma via alternativa que vai desafogar a Rua da Divisão, interligando a região do bairro Piratininga à Avenida Guaicurus, com o asfaltamento da Rua dos Gonçalves entre a Rua Ana Luisa de Souza e a Avenida Filinto Müller”, diz a Sisep em nota.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.