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Capital

Dormir em fila não garante consulta a pacientes e 1 morre devido a demora

Luana Rodrigues | 27/11/2015 10:17
Centenas de pessoas amanhecem o dia na fila a espera de uma ficha para consulta. (Foto: Marcos Ermínio)
Centenas de pessoas amanhecem o dia na fila a espera de uma ficha para consulta. (Foto: Marcos Ermínio)
Luciano José foi o primeiro a chegar ao posto, às 23h30. (Foto: marcos Ermínio)
Luciano José foi o primeiro a chegar ao posto, às 23h30. (Foto: marcos Ermínio)
Fatima Romana de 57 anos, encarou a fila pela terceira vez.(Foto: Marcos Ermínio)
Fatima Romana de 57 anos, encarou a fila pela terceira vez.(Foto: Marcos Ermínio)

Mais de seis horas na fila para conseguir uma ficha que garante atendimento médico para daqui uma semana, essa é a realidade vivida por quem busca o agendamento de uma consulta na Unidade Básica de Saúde do Coophavila II, em Campo Grande. Na manhã desta sexta-feira(27), cerca de 200 pessoas esperavam na fila. São adultos, idosos, crianças e até recém-nascidos, que os pais não tem com quem deixar, que passam a noite e amanhecem o dia debaixo de sol quente para conseguir uma consulta.

O primeiro da fila, Luciano José de Souza, 40 anos, chegou ao posto por volta das 23h30. Ele busca atendimento com dentista e clínico geral e não é a primeira vez que passa horas esperando para conseguir uma ficha. "É a terceira vez que venho e tem que passar a noite se não, não consegue. Não tem nem o que dizer, é vergonhoso", considera.
O montador de elevadores Heberton Alirio, 28, estava na unidade desde a meia noite. "Sem dormir, e daqui a pouco tenho que ir trabalhar. É um sofrimento muito grande, um absurdo", disse.

Fatima Romana, 57, também está encarando a fila pela terceira vez. A espera é para conseguir uma consulta com um ginecologista, retorno que obrigatoriamente precisa ser marcado para o mês de dezembro. "Espero conseguir agora, porque já fiz até amizade na fila de tanta vezes que vim e fiquei esperando. Graças a Deus nunca precisei de nada urgente porque se precisasse com certeza morreria", relata a dona de casa.

A tragédia temida por Fátima ocorreu na vida do agricultor Abidias Cardoso, 60. "Perdi meu filho depois dele ter vindo quatro vezes aqui e não conseguir nada. O câncer no estômago se espalhou e quando foram abrir não tinha mais jeito", contou o idoso, emocionado.

Segundo Abidias, o rapaz tinha 31 anos e morreu em decorrência das complicações do câncer. "O menino não comia e a gente achava que era grave, mas uma vez viemos aqui e disseram que não era nada. Hoje vendo qualquer coisa que tiver, mas pago pra ser atendido por que não adianta ter dinheiro, carro e não ter saúde e depender do SUS", considera o agricultor.

 Abidias Cardoso de 60 anos perdeu o filho após tentar atendimento por quatro vezes. (Foto: Marcos Ermínio)
Abidias Cardoso de 60 anos perdeu o filho após tentar atendimento por quatro vezes. (Foto: Marcos Ermínio)

O Campo Grande News apurou que são distribuídas cerca de 280 fichas toda sexta-feira na unidade. O número de vagas para consulta parece muito, mas não é a maioria das pessoas volta para casa sem conseguir marcar a visita ao médico porque uma mesma pessoa fica na fila para conseguir ficha para várias pessoas da família.

Sandra Conceição, 35, aproveitou que ficou na fila na semana passada e já marcou pediatra para os dois filhos de 6 anos e 9 meses. "Estão gripados, não querem comer. Acho que desde que meu filho nasceu só o trouxe no médico cinco vezes, porque com essa demora", conta a dona de casa.

O sacrifício vivido por centenas de pessoas a cada semana é acompanhado pelo comerciante Eloi Pereira Nunes de 72 anos. Ele tem uma lanchonete bem em frente ao posto, apesar de ter ganho clientela, não comemora a fila. "Eu acho um absurdo marcarem consulta só uma vez na semana, por isso fica essa fila ai. É triste de ver, muito sofrimento", diz.

Segundo os pacientes, o tumulto no posto do Coophavila II ocorre porque não há médicos atendendo em outras unidades da região.

O Campo Grande News entrou em contato com a Prefeitura, mas até a publicação desta reportagem não houve retorno.

Moradores levam cadeiras para aguentar tempo de espera. (Foto: Marcos Ermínio)
Moradores levam cadeiras para aguentar tempo de espera. (Foto: Marcos Ermínio)
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