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Empresa de assistência financeira "some", mas segue faturando com promessas

Consumidores relatam prejuízos e promessas não cumpridas de redução de dívidas

Por Anahi Zurutuza | 06/03/2025 13:00
Empresa de assistência financeira "some", mas segue faturando com promessas
Cliente faz propaganda de O Facilitador no ano de 2022 dizendo que teve o valor de sua dívida reduzida (Foto: Reprodução)

Muitos consumidores acreditavam que a empresa OFX Assessoria Contratual EIRELI, conhecida como "O Facilitador", havia encerrado suas atividades após anos de processos e denúncias. No entanto, a realidade é que a empresa segue operando e acumulando novos relatos de prejuízos financeiros.

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A empresa OFX Assessoria Contratual EIRELI, também conhecida como "O Facilitador", continua operando apesar de inúmeros processos e denúncias de clientes lesados. A empresa promete reduzir juros de financiamentos e dívidas, mas clientes relatam que, na prática, a empresa apenas intermediava a quitação antecipada dos contratos e orientava clientes a deixarem de pagar as parcelas do financiamento, o que, em muitos casos, resultou na apreensão de veículos e negativação do nome. O Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) abriu inquérito para investigar a empresa em 2022 por supostas práticas abusivas contra o consumidor e o Procon-MS aplicou multas que somam mais de R$ 1 milhão. Apesar de ter diminuído a publicidade, a empresa continua acumulando processos e novos relatos de problemas.

Um desses casos é o de um homem de 65 anos, que prefere não se identificar, e que viu sua busca por alívio financeiro se transformar em um prejuízo de quase R$ 9 mil. Esse caso foi sugerido por leitor que enviou mensagem pelo canal Direto das Ruas.

No dia 20 de fevereiro deste ano, o idoso procurou a empresa em busca da redução dos juros de um financiamento junto ao Banco Omni. A atendente, Thais Silveira, garantiu que a OFX entraria com uma ação contra o banco e que a negociação seria feita sem custos para o cliente. O valor de R$ 59,8 mil mencionado na conversa foi apresentado como um acordo diretamente com a instituição financeira.

O pagamento foi estruturado em duas etapas: uma entrada de R$ 8,8 mil e sete parcelas de R$ 3 mil, totalizando R$ 29,8 mil. O problema veio depois: ao assinar o contrato digitalmente pelo celular, ele não teve a oportunidade de ler o documento na hora. Apenas quando chegou em casa percebeu que o contrato indicava que os R$ 29,8 mil não seriam pagos ao banco, mas sim como taxa de serviço da OFX. Sentindo-se enganado, ele tentou cancelar o contrato e reaver o valor pago, mas a empresa se recusou.

Esse relato, no entanto, é apenas um entre centenas. Levantamento feito pelo Campo Grande News a partir do sistema do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) mostra que a OFX Assessoria Contratual EIRELI acumula pelo menos 200 processos judiciais.

As ações envolvem principalmente pedidos de rescisão contratual e devolução de dinheiro, demonstrando que muitas pessoas se sentiram lesadas pela empresa.

Os processos estão distribuídos por diversas varas cíveis, incluindo as 1ª a 16ª Varas Cíveis de Campo Grande, além de Juizados Especiais em cidades como Dourados, Nova Andradina e Rio Negro. Em muitos casos, a empresa já foi condenada a devolver valores pagos por clientes, mas a dificuldade na execução das sentenças segue sendo um problema para os consumidores.

Casos recentes na Justiça - Em dois processos judiciais movidos em 2025, os consumidores alegam terem sido vítimas do mesmo tipo de prática. Em um dos casos, um cliente que financiou um veículo no valor de R$ 29,4 milfoi atraído pelas promessas da empresa de reduzir os juros em até 70%. Ele assinou um contrato e pagou mais de R$ 3,7 mil à OFX, sendo orientado a parar de pagar as parcelas do banco. Ao perceber que os serviços prometidos não estavam sendo prestados e que o banco continuava cobrando as prestações, ele tentou cancelar o contrato, mas a empresa se recusou a devolver o dinheiro.

Outro processo recente narra uma situação semelhante, envolvendo um consumidor que financiou uma moto no valor de R$ 37,7 mil. Ele foi convencido a assinar um contrato com a OFX e pagou R$ 4,2 mil à empresa. Seguindo a orientação de suspender o pagamento ao banco, acabou recebendo notificações de cobrança e teve que renegociar sua dívida diretamente com a instituição financeira, sem qualquer suporte da OFX. Sentindo-se enganado, entrou com ação para reaver o valor pago.

Empresa de assistência financeira "some", mas segue faturando com promessas
Consumidores protestam contra empresa em maion de 2022 na Capital. (Foto: Henrique Kawaminami) ...

O que "O Facilitador" promete - A empresa "O Facilitador" se apresenta como uma solução para consumidores endividados. Ela promete reduzir significativamente valores de financiamentos de veículos, cartões de crédito e empréstimos bancários, afirmando negociar descontos de até 70%.

As promessas incluem: renegociação de dívidas diretamente com bancos e instituições financeiras e garantia de segurança e eficiência, usando supostos casos de sucesso para atrair clientes.

Na prática, no entanto, clientes relatam que a empresa apenas intermediava a quitação antecipada dos contratos – algo que o próprio consumidor pode fazer diretamente com o banco, sem intermediários. Além disso, há registros de que a OFX orientava clientes a deixarem de pagar as parcelas do financiamento, o que, em muitos casos, resultou na apreensão de veículos e negativação do nome.

MP investigou e Procon multou, mas... - Em 2022, o Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS) abriu um inquérito para investigar a OFX Assessoria Contratual EIRELI por supostas práticas abusivas contra o consumidor. A investigação foi conduzida pela 25ª Promotoria de Justiça, que recebeu denúncias de pelo menos 70 pessoas.

Os relatos indicavam que a empresa fazia promessas de renegociação, mas, após o pagamento dos valores, os clientes se viam sem qualquer resposta ou solução. Em muitos casos, a situação financeira dos consumidores piorava, com aumento da dívida e apreensão de bens financiados.

O Procon-MS também aplicou multas à empresa, que somam mais de R$ 1 milhão. Apenas em 2022, foram 16 processos administrativos resultando em penalizações que totalizaram R$ 292,9 mil. No ano anterior, 2021, as multas chegaram a R$ 492,9 mil.

Além disso, a empresa foi alvo de protestos organizados por clientes lesados. Em maio de 2023, um grupo de consumidores se reuniu na Praça dos Imigrantes, em Campo Grande, exigindo a devolução dos valores pagos e o encerramento das atividades da OFX no estado.

Operando sem alarde - Diferentemente dos anos de 2021 e 2022, quando a empresa investia pesado em publicidade na televisão e na internet, atualmente as propagandas praticamente desapareceram. O sumiço das campanhas gerou a impressão de que a "O Facilitador" teria encerrado suas atividades, mas a realidade é outra. Os processos continuam se acumulando, e novos clientes seguem relatando problemas com a empresa.

A reportagem tentou contato com representantes da OFX Assessoria Contratual EIRELI para comentar as acusações, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. O espaço segue aberto.

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