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Capital

Estacionar sobre piso tátil vira rotina e complica vida de quem não enxerga

Antonio Marques | 12/06/2015 15:58
No caminho diário de Damião Zacarias para levar o filho de 2 anos na creche é rotina encontrar veículos estacionados no piso tátil (Foto: Marcelo Calazans)
No caminho diário de Damião Zacarias para levar o filho de 2 anos na creche é rotina encontrar veículos estacionados no piso tátil (Foto: Marcelo Calazans)
O locutor da Rádioweb do Ismac diz que a caminhada até a creche do filho só não é pior porque Daniel Lucas, de 2 anos, ajuda na orientação do caminho. (Foto: Marcelo Calazans)
O locutor da Rádioweb do Ismac diz que a caminhada até a creche do filho só não é pior porque Daniel Lucas, de 2 anos, ajuda na orientação do caminho. (Foto: Marcelo Calazans)

A lei de acessibilidade vai completar 15 anos, mas a população em geral ainda não se adaptou. A falta de conscientização de boa parte dos motoristas tem provocado transtornos para pessoas com deficiências na Capital e no Brasil. E não é só o cadeirante que sofre. Os deficientes visuais têm disputado as calçadas com veículos estacionados em cima do piso tátil. Estacionar em área de passeio é infração grave, somam 5 pontos na carteira e pode custar R$ 127,69.

O médico veterinário Frederico Rios, 34 anos, criou o blog e um site “Acessibilidade na Prática” para denunciar os casos de desrespeito à legislação nos espaços públicos. “O objetivo também é fiscalizar e conscientizar a população sobre os direitos das pessoas com deficiências, especialmente, relativos à acessibilidade urbana”, explica ele, que ficou tetraplégico devido a uma lesão medular na altura da vértebra C5, depois de sofrer um acidente de moto em agosto de 2008.

Frederico recebe fotografias de flagrantes de pessoas que, por desatenção ou pressa, estacionam em locais não permitidos ou mesmo sobre o piso tátil. “Não queremos constranger ninguém, apenas chamar a atenção para um problema que, lamentavelmente, tornou-se comum”, comentou ele. Nas fotografias aparecem os veículos, mas sem identificação das placas.

O ex-técnico em lavanderia Damião Zacarias Souza Silva, 39 anos, também sofre na pele com o problema. Locutor voluntário do programa Mistura Musical da Rádioweb do Ismac (Instituto Sul-Mato-Grossense para Cegos Florisvaldo Vargas), todos os dias ele faz o trajeto entre o Instituto e a Centro de Educação Infantil Eleodes Estevan, no Jardim dos Estados, para levar o filho Daniel Lucas, 2 anos, à creche.

O deficiente visual relatou à reportagem que enfrenta dificuldades no caminho de menos de mil metros entre os locais, que inclui uma caminhada com bengala pelas ruas 25 de dezembro, Da Paz, Osvaldo Cruz e a Piratininga. Segundo ele, a situação só não é pior porque o pequeno Daniel Lucas também orienta ele quando tem obstáculos. “Busco o piso tátil como orientação, mas em alguns locais aparecem carros na calçada, placas de propaganda e alguns casos até buracos que requer muito mais cuidado e atenção”, explica.

Damião é um dos 68.440 deficientes visuais no Estado, conforme o censo demográfico de 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Desse número total, 59.786 pessoas moram na área urbana e boa parte utilizam o piso tátil para se guiar nas cidades. “Se as pessoas normais tivessem um pouco mais de consciência para evitar criar obstáculos para quem não enxerga e, como elas, utilizam os espaços urbanos também, nosso mundo seria bem melhor”, ressaltou.

Legislação - Frederico Rios e Damião Zacarias são dois exemplos de milhares de pessoas com deficiência que diariamente sofrem com a mesma situação. Do lado deles existe uma legislação, que prevê multas para quem não respeita o direito de ir e vir e à sinalização específica.

Conforme a assessoria de imprensa da Agetran (Agência Municipal de Trânsito), são realizadas campanhas educativas, mobilizações e palestras de sensibilização sobre diversos assuntos relacionados ao sistema viário, inclusive, a respeito da acessibilidade, que é coordenado pela Divisão de Educação para o Trânsito.

Em relação a fiscalização, a Agetran informou que conta com 138 agentes nas ruas, que trabalham diuturnamente em todas as regiões de Campo Grande, inclusive nos bairros distantes. No entanto, a Agência revela que depende da colaboração da sociedade “por ser impossível estar em todos locais ao mesmo tempo”, diz a assessoria, complementando que as pessoas podem comunicar denúncias, pelo telefone 118 ou WhatsApp (067) 9182 2677, para que a central encaminhe uma equipe até o local.

Conforme CTB (Código de Trânsito Brasileiro), estacionar em área de passeio é infração grave, representa 5 pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e pode custar R$ 127,69, além da remoção do veículo. E deixar de dar preferência a pedestre, incluindo pessoa com deficiência, cabe multa de R$ 191,54 e 7 pontos na carteira, por ser considerada infração gravíssima.

Para quem quiser enviar flagrantes de motoristas ao blog ou o site Acessibilidade na Prática, basta acessar http://www.acessibilidadenapratica.com.br/ ou enviar pelo e-mail acessibilidadenapratica@hotmail.com.

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