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Capital

Histórias de envolvimento com a droga "escondidas" atrás de um muro

Mariana Lopes | 27/09/2012 19:57
 Histórias de envolvimento com a droga "escondidas" atrás de um muro
Canto do terreno onde os usuários ficam para consumir drogas (Foto: Pedro Peralta)
Canto do terreno onde os usuários ficam para consumir drogas (Foto: Pedro Peralta)
Usuários se escondem no terreno para fumar (Fotos: Pedro Peralta)
Usuários se escondem no terreno para fumar (Fotos: Pedro Peralta)

Um terreno grande e bem murado. Quem chega à rua Oboé, no Tiradentes, em Campo Grande, talvez não imagine o problema social que há por trás do famoso “murão” do bairro. Os tijolos levantados para proteger o local, há anos escondem a fumaça da droga consumida pelos tantos usuários de drogas que frequentam o terreno. Mas o drama vai bem além dos muros, está por trás da história de cada usuário, que deixa a droga ser a dona da vida deles.

Uma jovem bonita, comunicativa e inteligente. Aos 25 anos, ela conta como começou a usar maconha, ainda quando tinha apenas 12. "Desde pequena vi meus pais nos botecos, bebendo... Comecei dentro de casa e me acostumei com essa vida", se lembra Laís, que hoje vê a história se repentindo.

Mãe de dois filhos, um de 3 e outro de 6 anos, ela afirma que até pensa nos pequenos, mas que não consegue mudar de vida. "A droga não deixa a gente amar a ninguém, você só consegue viver para a droga, ela te cega e te domina", fala a jovem, com a cabeça baixa, um dos únicos momentos da entrevista no qual ela deixa a expressão visivelmente abatida e triste.

De bermuda curta, top e descalça, conta que trocou os chinelos por pasta base. “Na hora a gente dá tudo para fumar”, afirma Laís. Para conseguir dinheiro para comprar as drogas, ela se prostitui desde os 14 anos. “Vendo o meu corpo para não precisar roubar”, justifica.

Da vida que leva hoje, ela joga um pouco da culpa nos pais. "Se eles tivessem pegado na minha mão e me levado para a igreja quando eu era mais nova, talvez eu não estivesse aqui agora", desabafa, com um tom de amargura na voz. Mas logo ela muda de assunto e volta a procurar um isqueiro para acender o cachimbo.

Cachimbos e drogas encontrados no terreno (Foto: Pedro Peralta)
Cachimbos e drogas encontrados no terreno (Foto: Pedro Peralta)

De repente, no quadrilátero do terreno, aparece um senhor. De camisa preta, calça social com a barra dobrada, pés descalços e barba comprida, ele diz que é pastor, se chama Napoleão e fala frases sem sentido. "Ele é louco, acho que as drogas afetaram a cabeça dele", comenta outro usuário.

No meio da batida policial, ocasião na qual a reportagem do Campo Grande News conversou com os usuários, entra no terreno uma senhora, mãe de um dos dependentes que estava lá.

A senhora de 60 anos foi buscar o filho, de 37 anos. "Para mim é um derrota ter que entrar aqui atrás do meu filho". Ele estava lá há quatro dias consumindo crack e sem dormir.

Ele conta que trabalha em uma fazenda e todo o dinheiro que ganha gasta em drogas. "Já consegui ficar quatro meses limpo, mas acabei voltando a usar, tem quase um ano", conta.

O sonho de dona é um dia ver o filho longe das drogas. "Queria que ele aceitasse se internar, mas ele não quer", lamenta a mãe de seis filhos. "Ele foi o único que me deu problemas", diz.

Na calçada de um bar, no Tiradentes, Osvaldo montou um abrigo (Foto: Pedro Peralta)
Na calçada de um bar, no Tiradentes, Osvaldo montou um abrigo (Foto: Pedro Peralta)

Fora dos muros, as ruas também abrigam usuários de drogas. Na calçada de um bar no bairro, o homem de 51 anos praticamente montou uma casa, com direito a colchão, roupas e utensílios domésticos. Às 17h, quando a reportagem do Campo Grande News passou pelo local, ele já estava visivelmente bêbado.

Ele é alcoólatra e tem casa no bairro Nova Lima, mas confessa que estava dormindo na calçada do bar há uma semana. “Aqui tem gente que me dá comida, que me dá dinheiro para eu comprar minha pinga”, diz, justificando que bebe para espantar o frio, mesmo que em Campo Grande os termômetros estivessem registrando quase 30ºC.

E assim, a rotina do bairro segue. Segundo a polícia, o problema relacionado à droga no Tiradentes se espalha por praticamente o bairro todo, até chegar ao Dalva de Oliveira II.

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