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Capital

"Hulk" é condenado a 17 anos de prisão por matar ex e esconder corpo em fossa

Acusação argumentou que Grazi estava presa em situação de vulnerabilidade extrema, que a arrastou até a morte

Anahi Zurutuza e Geisy Garnes | 03/09/2021 14:10
"Hulk" é condenado a 17 anos de prisão por matar ex e esconder corpo em fossa
Edson Firmo Camargo, de 39 anos, o “Hulk”, ouviu a condenação de cabeça baixa. (Foto: Geisy Garnes)

Um ano e três meses após o crime, Edson Firmo Camargo, de 39 anos, o “Hulk”, conhecido traficante no Bairro Morada Verde, em Campo Grande, foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão por matar a ex-namorada Graziele Quele Ferreira Gomes, 39.

“Hulk” foi acusado de homicídio qualificado por feminicídio (quando o crime é praticado pelo desprezo à condição da mulher), meio cruel, ocultação de cadáver e fraude processual. O defensor público Rodrigo Stochiero conseguiu livrar o “cliente” do aumento da pena por ter matado Grazi de forma atroz, mas os sete jurados – seis mulheres e um homem – consideraram o réu culpado pelos outros crimes.

O juiz Aluízio Pereira dos Santos, titular da 2ª Vara do Tribunal do Júri, calculou a pena por feminicídio em 16 anos de prisão e para ocultação de cadáver em 1 ano e seis meses. Por fraude processual (modificar a cena do crime), Edson Firmo terá de cumprir um ano de detenção.

Graziele Quele foi encontrada morta na Rua Pintassilgo, no dia 1º de maio do ano passado. Segundo apurou a polícia, ela era constantemente agredida durante o relacionamento com “Hulk” e foi morta com golpes de pé cabra na região da nuca, que fraturaram sua coluna cervical, e teve o corpo escondido em fossa desativada. Ainda conforme a apuração policial e acusação, o ex-companheiro a matou durante uma discussão.

No plenário – O réu nega que tenha matado Grazi. Na frente dos jurados, admitiu ter brigado com ela e dado uma cotovelada que a fez sangrar. No dia do crime, Edson disse que passou a tarde no bar e, ao chegar em casa, já à noite, encontrou Grazi na varanda, dizendo que estava ali para conversar. Conforme o depoimento, ela pediu R$ 20, mas ele negou e os dois brigaram. “Ela me avançou, eu levantei o braço e pegou no nariz dela mesmo”.

“Hulk” negou ainda que fosse marido ou namorado da vítima. "A Grazi era usuária de droga, fazia programa para sobreviver e também manter o vício. A gente se conheceu em um bar e depois de uma conversa, decidimos morar juntos, já que ela não tinha como pagar aluguel. Mas não éramos um casal", contou Edson ao júri.

"Hulk" é condenado a 17 anos de prisão por matar ex e esconder corpo em fossa
Juiz Aluízio Pereira dos Santos, no centro, lê a setença no plenário. (Foto: Geisy Garnes)

Acusação - O promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, responsável pela acusação, usou seu tempo em plenário para rebater o réu. Douglas defendeu que feminicidas “têm linguagem própria” e que dizer que a vítima era prostituta é só mais uma forma de desprezar a vida dela.

Sobre o fato de ninguém ter testemunhado o crime, o promotor lembrou que os homicídios são muito diferentes dos feminicídios e, por isso mesmo, o contexto em que a vítima vivia tem muito mais peso para se chegar a uma conclusão sobre o caso. “Quando fala de violência doméstica, ela acontece entre quatro paredes, não existe testemunha. Quando ele desse o cacete na mulher dentro de casa, quem vai testemunhar? Convido os jurados a irem lá na Vara de Violência Doméstica e Familiar para perguntar: quantos casos tem testemunha?”.

Embora nenhuma das pessoas que prestaram depoimento à polícia tenha sido encontrada para falar na fase judicial, neste momento, o promotor lembrou de oitiva de uma amiga da vítima, de 18 anos, que não conhecia “Hulk”, mas disse que Grazi o descrevia como “um louco, psicopata” e dizia que o namorado batia nela, além de já tê-la ameaçado com uma faca.

A moça relatou ainda ter visto a vítima dias antes da descoberta do corpo, toda machucada e com os cabelos cortados.

Para o promotor, Grazi estava presa em situação de vulnerabilidade extrema, que a arrastou até “Hulk”, a afundou em ciclo de violência e a levou à morte.

"Hulk" é condenado a 17 anos de prisão por matar ex e esconder corpo em fossa
Foto da vítima mostrada para jurados: "essa Grazi já não existia quando morreu", disse defensor de réu. (Foto: Reprodução das Redes Sociais)

Defesa – Rodrigo Stochiero defendeu o tempo todo que não havia provas de que Edson Firmo era assassino. “Existem fortes indícios, eu admito isso. Mas não existe prova que foi ele”, disse, acrescentando que por isso, o réu não poderia ser condenado.

"'Hulk' e Grazi estavam inseridos em contexto de vulnerabilidade social", também argumentou. "Nada garante que qualquer outro usuário tenha usado o pé de cabra encontrado depois na casa do acusado para matar a mulher", também alegou Stochiero. "Faltam testemunhas e exame de DNA feito na suposta arma do crime foi inconclusivo".

O defensor amenizou o fato de Edson Firmo dizer que a vítima era garota de programa. “Todo mundo usava droga, se prostituía. Essa Grazi que vocês estão vendo aqui, já não existia quando morreu”, disse mostrando uma foto da mulher, quando ela ainda era cabeleireira, antes de passar a viver na rua.

O mesmo depoimento usado pelo promotor foi citado por Stochiero. A amiga de Grazi disse tê-la visto “toda arrebentada” e o exame necroscópico não conseguiu determinar quando e se as lesões encontradas no corpo da vítima haviam sido causadas durante a briga que a levou à morte.

Por fim, o defensor desqualificou a acusação de homicídio por meio cruel. Explicou que a morte causada por uma pancada na cervical é instantânea. Neste ponto, os jurados concordaram com a defesa.

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