Juíza manda investigar prisão de mulher que diz ter sido "jogada em camburão"
Motorista de 58 anos foi presa na sexta-feira e fez reclamação em pedido de liberdade, que foi concedido
Presa na noite de sexta-feira (30) - enquadrada em seis ilícitos, entre eles dirigir embrigada e resistir a prisão, a funcionária pública Neide Peretto Prado, 58 anos, alegou ter sido vítima de truculência policial em pedido de liberdade provisória, que acabou acatado pela juíza Jaqueline Machado, durante o plantão do fim de semana. A magistrada determinou o envio da denúncia para investigação do órgão do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) responsável por fiscalizar o trabalho policial.
Anexada ao processo, uma fotografia mostra o dedo machucado da mulher. Ela sofreu um corte quando foi colocada na viatura para ser levada presa.
“Algemaram a requerente e a jogaram com toda força no compartimento de transporte lhe causando um ferimento em seu dedo indicador da mão direita”, descreve a petição do advogado Ronaldo Dias.
“Apertaram forte as algemas que os pulsos ficaram com vermelhidão e escoriações”, continua.
Para ele, são “fatos desnecessários por ser uma senhora de 58 anos”.
Não foi assim - Na argumentação do defensor, o episódio não ocorreu conforme narrado pela equipe da Polícia Militar que levou a mulher até a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento) do Centro, na Rua Padre João Crippa, onde o flagrante foi homologado pelo delegado Danilo Mansur.
O relato dos PMs é de que foram xingados pela mulher, e que ela os ameaçou, dizendo que ligaria para o superior deles, depois de ser flagrada fazendo zigue-zague com o veículo no qual estava, pela pista da Avenida Julio de Castilhos.
Segundo afirmaram no boletim de ocorrência, a motorista chegou a transitar pela contramão da via. Ao ser abordada, não quis fazer o teste de alcoolemia e, segundo informado, ofendeu a equipe, em tom agressivo.
Acabou presa, algemada e colocada no camburão da viatura, por diririr embriagada, por direção perigosa, resistência, desacato . Como já estava fora do horário do toque de recolher, também foi enquadrada em infração à medida sanitária.
O relato policial diz que toda a confusão começou porque a mulher queria entrar de novo no carro, já depois de ser abordada, o que foi negado. A tentativa era de pegar um cigarro.
A defesa disse à Justiça que ela admitiu ter bebido, mas alega desproporção na reação dos agentes de segurança pública.
Uma senhora com 58 anos de idade, qual seria a tamanha força para se oposuer (sic) a execução de ato legal, ainda mais com violência, sendo que do outro lado estavam 4 (quatro) policiais militares do sexo masculino”, afirma o advogado.
Nas palavras dele, “não tem como se medir as forças nesse caso”.
Neide Peretto Prado teve o flagrante homologado pelo delegado e passaria por audiência de custódia só nesta segunda-feira.
Antes disso, no dia 1º de maio, a defesa entrou com pedido de liberdade provisória sem fiança. O promotor de plantão, Sílvio Amaral Nogueira Lima, defendeu a liberdade, mas com pagamento de fiança de R$ 5 mil.
A juíza plantonista, Jaqueline Machado, decidiu liberar a servidora sem fiança, impondo a ela medidas restritivas de liberdade. Não pode sair da cidade por mais de 10 dias sem comunicar a Justiça e tem que se apresentar a cada dois meses.
“Em razão da notícia de agressão sofrida por ocasião da prisão (do corte no dedo da flagrada, no momento da entrada no camburão), encaminhe-se cópia dos autos ao Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial (GACEP), para as providências que reputar cabíveis”, acrescentou a magistrada.
Foi determinado pela autoridade a realização de exame de corpo de delito. A reportagem apurou que seria feito nesta tarde.
Procurada, a Polícia Militar manifestou-se sobre o caso afirmando que, de acordo com os auto, “foi necessário por parte dos policiais militares o uso da força moderada para conter a condutora e encaminhá-la em flagrante por desacato, resistência, desobediência, direção perigosa em via pública e conduzir veículo com capacidade psicomotora alterada”.
Foi tentado contato com Neide, vi advogado, mas ela não respondeu ao pedido da reportagem para falar do assunto.