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Capital

Moçada abusa da vodka, bebida com 8 vezes mais álcool do que a cerveja

Elverson Cardozo | 18/07/2012 08:40

Consumo da bebida virou moda e turbina bebedeira dos adolescentes em Campo Grande

No meio das latas e garrafas de cerveja, a vodka não falta. (Foto: Minamar Junior)
No meio das latas e garrafas de cerveja, a vodka não falta. (Foto: Minamar Junior)

Coincidência ou não, no início deste mês, antes de colidir o veículo que conduzia contra um coqueiro localizado no canteiro da avenida Mato Grosso, em Campo Grande, a acadêmica de direito Jaelke Carrelo Rodrigues, de 19 anos, havia ingerido duas doses de vodka.

A declaração, da própria jovem, foi feita à Polícia Civil no mesmo dia. Do acidente, além das cinco vítimas que estavam no carro, uma morte: Naiane de Melo Nunes, que faleceu aos 19 anos.

Duas doses de vodka é o suficiente para embriagar e alterar os reflexos “finos”, especialmente entre as mulheres, que tem uma deficiência na enzima desidrogenase, responsável, entre outras funções, pela absorção de álcool no organismo.

A explicação técnica vem do médico psiquiatra Marcos Estevão Moura, de 53 anos, que atua no tratamento de dependentes químicos desde a década de 80.

E é o próprio especialista quem simplifica: “Primeiro ocorre a perda crítica, que é você medir a situação como um todo, depois a perda dos reflexos, que são retardados”.

A vodka, afirmou, “é o whisky piorado”. Marcos Estevão explica que o teor alcoólico da bebida é acima dos 40%. Comparado à cerveja, que concentra, em média, 5% de álcool, seria necessário consumir, na mesma quantidade, oito vezes mais a bebida para se atingir o mesmo teor, ou seja, a cada 50 ml de vodka seria necessário beber 400 ml de cerveja.

Seja pelo preço ou “sabor mais forte”, o fato é que o destilado caiu no gosto do povo. Uma garrafa de 980 ml da Balalaika, uma das marcas mais acessíveis, custa, em média, R$ 12,00, e pode ser facilmente encontrada em conveniências e supermercados da cidade. Na composição da bebida, 39% de teor alcoólico.

"Zero risco só existe se não beber”, explica o psiquiatra Marcos Estevão. (Foto: Pedro Peralta)
"Zero risco só existe se não beber”, explica o psiquiatra Marcos Estevão. (Foto: Pedro Peralta)

Um litro da “Izbica Strong Tridestilada”, da fabricante Clamore Ind, tem 48% da susbtância. As internacionais também concentram grande quantidade de álcool em sua fórmula, como a Skyy, Smirnoff Black e Grey Goose.

As mais leves geralmente são as vodkas de sabor, como as Caipiroska Smirnoff de limão, maracujá e frutas vermelhas, que concentram 21% de álcool em suas composições.

Mas, mesmo com baixo teor alcoólico – se comparado às outras da mesma natureza -, o consumo deve ser encarado com precaução, explica o psiquiatra. Quem bebe tem a sensação de que ainda não se embriagou e, para compensar, acaba ingerindo cada vez mais.

Consumo – “Aqui em casa não falta”, disse um jovem de 23 anos, que só aceitou falar sob a condição de não ser identificado. Na área de trabalho do apartamento, no dia da entrevista, 6 garrafas vazias de bebidas estavam separadas para ir ao lixo. Todas vazias.

Reportagem flagra garrafas vazias na varada de apartamento. Bebidas foram consumidas em uma noite. (Foto: Rodrigo Pazinato)
Reportagem flagra garrafas vazias na varada de apartamento. Bebidas foram consumidas em uma noite. (Foto: Rodrigo Pazinato)

Foram consumidas em única noite, durante uma festa que reuniu várias pessoas. Situação que ele considera comum. “O pessoal trocou o tereré pela bebida”, comenta uma amiga dele, com quem divide o apartamento há alguns anos.

A jovem - que também não aceitou ser identificada - revela que começou a beber aos 16 anos, sem a mãe saber. “Ela sabe que eu bebo, mas não que eu bebo, bebo”, enfatiza.

Mas o segredo, completa, tem justificativa. Há um caso de alcoolismo na própria família. “Ela tem medo”, contou. Embora diz beber socialmente, a universitária revela que depois que entrou na faculdade o hábito aumentou.

A “vaquinha amiga”, relata, é comum em dias de festas, assim como a compra de bebidas no país vizinho, o Paraguai.

Vodka, no apartamento deles, quase nunca falta. Um dos motivos é o preço "mais em conta". Fora isso, o consumo da bebida, para eles, está relacionado à aceitação social.

"Quando alguém bebe pinga ele é considerado bêbado de bar e quando bebe vodka é mais aceito”, disse o rapaz, acrescentando que, apesar de beber, nunca fez nada de errado, "mas a juventude é inconsequente”.

Beber socialmente – Para o psiquiatra Marcos Estevão, a vodka não é uma bebida social, mas já que não há como barrar a comercialização é preciso consciência.

O ideal, explica o médico, seria consumir não mais que 4 doses (50 ml) da bebida por semana. “Isso significa baixo risco. Zero risco só existe se não beber”, disse.

Um litro do destilado, exemplificou, poderia render para 20 pessoas, com consumo, sempre em local seguro, de 50 ml, no máximo.

Perigo - O consumo exagerado pode trazer graves consequências à saúde. As misturas com energéticos, por exemplo, podem levar ao coma alcoólico.

É que a substância estimulante tira o valor depressor da bebida. Com isso, o consumo aumenta, muitas vezes sem a percepção do indivíduo.

Segundo o médico, o álcool demora cerca de 30 minutos para ser absorvido pelo organismo e aproximadamente 6 horas para ser eliminado. Os riscos à saúde vai da possibilidade do surgimento de doenças no fígado à destruição do sistema nervoso central.

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