Acreditando na impunidade, prefeito de Terenos e mais 25 fraudaram 17 licitações
Veja as trocas de mensagens que comprovam como a administração municipal virou um ‘balcão de negócios’
O prefeito afastado de Terenos, Henrique Wancura Budke, e outras 25 pessoas foram denunciados à Justiça por fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. A denúncia foi apresentada em 23 de setembro pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e assinada pelo procurador-geral de Justiça, Romão Ávila Milhan Júnior.
RESUMO
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O prefeito afastado de Terenos, Henrique Wancura Budke, e outras 25 pessoas foram denunciados pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul por fraudes em licitações, corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo a denúncia, apresentada em 23 de setembro, o prefeito transformou a prefeitura em um "balcão de negócios" para fraudar contratos. As investigações apontam que o esquema movimentou R$ 16,5 milhões em 11 processos licitatórios fraudados, envolvendo obras públicas. Budke teria recebido R$ 646 mil em propinas entre 2021 e 2024. Durante operação realizada em 9 de setembro, foram apreendidos R$ 11,3 mil em espécie na residência do prefeito afastado.
De acordo com o MP, Budke transformou a prefeitura em um “balcão de negócios” para fraudar contratos e desviar recursos públicos. O documento aponta que os esquemas continuaram mesmo após a Operação Velatus, deflagrada em agosto do ano passado no município, e que deu origem aos desdobramentos da Operação Spotless. Para a acusação, o grupo “acreditava na impunidade”.
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“A despeito da operação deflagrada e da denúncia já oferecida na Operação Velatus em face de parte de seus membros — os até então identificados —, a organização criminosa se mantém ativa e em plena atuação, inclusive em 2025, já que os mesmos agentes públicos continuam contratando as mesmas empresas e empresários corruptos, de modo a desafiar o ordenamento jurídico e o sistema de Justiça, na expectativa da completa impunidade”, afirma o MP.
No dia 9 de setembro, quando a operação foi realizada, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) apreendeu R$ 11,3 mil em espécie na casa de Budke, apontado como “maior beneficiário das propinas pagas pelos empresários envolvidos no esquema criminoso”.
Conforme já revelado pelo Campo Grande News, o prefeito afastado recebeu, entre 2021 e 2024, ao menos R$ 646 mil em propinas, segundo relatórios anexados às investigações.
A denúncia detalha que ao menos 17 processos licitatórios foram fraudados, sempre com negociação de propinas e acertos para direcionar os vencedores. O valor movimentado chegou a R$ 16,5 milhões entre contratos iniciais e aditivos. Os certames envolviam obras públicas, como reformas de unidades de ESF (Estratégia Saúde da Família), escolas, calçadas e pavimentação. Havia revezamento entre as empresas escolhidas para garantir que todos os envolvidos fossem beneficiados.
“Note-se que, em 2024 e já em 2025, diversos contratos foram assinados ou aditivados e vários continuam em vigor, com as mesmas empresas utilizadas pela organização criminosa, demonstrando claramente que o esquema criminoso em Terenos continua em pleno funcionamento, sob a liderança do prefeito”, diz a denúncia.
Além de Budke, foram denunciados: Arnaldo Godoy Cardoso Glagau, Arnaldo Santiago, Cleberson José Chavoni Silva, Daniel Matias Queiroz, Edneia Rodrigues Vicente, Eduardo Schoier, Fábio André Hoffmeister Ramires, Felipe Braga Martins, Fernando Seiji Alves Kurose, Genilton da Silva Moreira, Hander Luiz Corrêa Grote Chaves, Isaac Cardoso Bisneto, Leandro Cícero Almeida de Brito, Luziano dos Santos Neto, Maicon Bezerra Nonato, Marcos do Nascimento Galitzki, Nádia Mendonça Lopes, Orlei Figueiredo Lopes, Rinaldo Córdova de Oliveira, Sandro José Bortoloto, Sansão Inácio Rezende, Stenia Sousa da Silva, Tiago Lopes de Oliveira e Valdecir Batista Alves.
Interceptações
As interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça e reunidas na denúncia da Operação Spotless mostram, em detalhes, como o prefeito Henrique Budke, e empresários aliados negociavam licitações, dividiam obras e acertavam pagamento de propinas.
As conversas, gravadas entre 2022 e 2023, foram destacadas pelo Ministério Público como principais provas do funcionamento da organização criminosa.
1. 09/09/2022 – Prefeito combina certame com empresário
Na primeira interceptação destacada, Budke fala com Eduardo Schoier, dono da Conect Sistemas Elétricos. O prefeito assegura que a licitação já estava definida.
Transcrição:
– Henrique Budke: “Fica tranquilo, essa já tá na tua mão. Só ajeita a proposta como combinamos.”
– Eduardo Schoier: “Pode deixar, prefeito. Vou arrumar tudo certinho. O senhor sabe que pode contar comigo.”
2. 14/10/2022 – Cobrança de acerto após medição de obra
Um mês depois, o prefeito volta a falar com Schoier, dessa vez cobrando repasse depois de liberação de pagamento.
Transcrição:
– Henrique Budke: “Saiu a medição, agora você tem que acertar aquele negócio.”
– Eduardo Schoier: “Sim, prefeito, hoje mesmo faço o repasse.”
3. 23/01/2023 – Conversa sobre divisão de contratos
Em diálogo interceptado, o empresário Arnaldo Godoy Cardoso Glagau, da Agpower Engenharia, conversa com outro membro do grupo sobre a partilha de obras.
Transcrição:
– Arnaldo Glagau: “A escola fica comigo, a unidade de saúde vai pro Rinaldo. Tá tudo certo.”
– Interlocutor: “Fechou, do jeito que o prefeito pediu.”
4. 15/03/2023 – Pedido de cobertura política
Budke aparece em nova ligação, dessa vez pedindo a um aliado que “segure” vereadores da base para evitar questionamentos.
Transcrição:
– Henrique Budke: “Fala com eles, diz que tá tudo dentro da lei, não tem risco nenhum.”
– Aliado: “Pode deixar, vou acalmar os caras. Não pode vazar nada.”
5. 27/07/2023 – Prefeito reclama de atraso em propina
Já em meados de 2023, Budke pressiona Rinaldo Cordoba de Oliveira, da Tecnika Construções, pelo atraso em um repasse.
Transcrição:
– Henrique Budke: “Você tá atrasado comigo, esse acerto já era pra ter sido feito.”
– Rinaldo Cordoba: “Prefeito, eu sei, mas ainda não caiu tudo na conta. Assim que cair eu levo aí.”
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