Motociclista morta por vereador era manicure e teve um domingo "alegre"

O luto bateu à porta de Neirian Crisley na antevéspera do aniversário de 19 anos. A jovem é filha de Célia Abud Almoreno, 35 anos, que morreu, ontem, em acidente no Bairro Coophavila II, em Campo Grande. A moto conduzida por Célia foi atingida por um Celta na Rua Nasri Siufi. O motorista do veículo, que invadiu a pista contrária, era o vereador Ayrton Araújo (PT).
A tristeza das últimas horas faz contraponto a um domingo que começou alegre. Manicure em um salão de beleza, Célia, que morava no bairro União, aproveitava o dia para visitar a família no Coophavila II. “Estava bastante alegre, falava muito que me amava, que eu era o amor da vida dela”, relata Neirian. A jovem conta que a rotina cheia impedia que elas se encontrassem nos outros dias da semana.
A notícia do acidente chegou até Neirian quando ela estava na casa de amigos. A jovem correu para o local, mas a mãe tinha falecido. “É difícil assimilar, ontem estava próxima e hoje...”, diz.
Padrasto da vítima, Neuro Ancler, 47 anos, afirma que no local do acidente nem souberam quem era o condutor do carro. O tom entre os familiares é de que houve uma fatalidade. Namorado de Neirian, o auxiliar de carregamento Willian Ferreira Lima, 21 anos, conta que o trecho do acidente é perigoso.
“Ela não é a primeira e, se não mudar, não será a última (vítima). Estamos perdendo pessoas que amamos e que não podemos mais ver e abraçar”, lamenta. Para ele, o fato de o condutor ser vereador poderia levar ao menos que a Câmara Municipal se mobilizasse para que a via recebesse melhor sinalização.
O velório será na casa da família, que mora no bairro há 30 anos. A escolha do local foi para dar conforto à mãe de Célia, bastante abalada. O sepultamento será amanhã, no cemitério Jardim da Paz, na saída para Sidrolândia.
Tragédia na Coophavilla - Conforme o boletim de ocorrência, registrado na Depac Piratininga (Delegacia de Pronto Atendimento), Ayrton Araújo fugiu do local e deixou seu filho de 35 anos responsável pelo carro. Houve tumultos com moradores.
O motorista passou mal logo depois e procurou atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento Comunitário) do bairro Universitário. Por volta das 23h, duas depois do acidente, o vereador se apresentou na delegacia.
O teste de alcoolemia não indicou a existência de álcool no sangue do motorista. O caso foi registrado como homicídio culposo.
Segundo o presidente da Câmara Municipal, vereador Mario Cesar (PMDB), Ayrton foi acolhido em uma casa perto do local. O vereador do PT havia saído de uma reunião partidária no Santo Amaro e se dirigia para o Parque do Sol.