Nada mudou e oferta de radioterapia segue restrita a hospital e clínica
A promessa é de ampliar a oferta, mas, um ano depois da operação Sangue Frio, que revelou a “Máfia do Câncer”, o tratamento de radioterapia por meio do SUS (Sistema Único de Saúde) prossegue restrito ao Hospital do Câncer Alfredo Abrão e a uma clínica particular, que ganhou novos donos e nome.
O Hospital do Câncer, que mudou a direção e pôs fim a contratos superfaturados, aguarda para receber um acelerador linear, equipamento para radioterapia. “Mato Grosso do Sul tem cinco equipamentos de radioterapia. O sexto equipamento deve chegar na metade do ano para o hospital”, afirma o diretor-presidente Carlos Coimbra.
A média é de 60 pacientes por mês no setor de radioterapia. Diante da demanda, foi preciso abrir terceiro turno no período da noite.
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Na Santa Casa, nada mudou no tratamento. Os pacientes são encaminhados para a clínica Radius, novo nome da NeoRad. A empresa, que pertencia ao então diretor do Hospital do Câncer, Adalberto Abrão Siufi, foi vendida para um novo grupo.
O hospital, por orientação do gestor público, manifestou ao Ministério da Saúde o interesse em obter um equipamento para radioterapia. “Mas, até o momento, ele não decidiram por colocar (o acelerador) na Santa Casa. Continuamos à disposição, se o gestor entender que é do interesse da rede”, afirma o diretor-presidente da ABCG (Associação Beneficente de Campo Grande), Wilson Teslenco.
A Santa Casa foi habilitada para ofertar o tratamento desde 2011, quando foi classificada como Unacon (Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia). No entanto, em 12 de janeiro de 2012, foi anunciado que o serviço seria terceirizado para a clínica particular.
“Continuamos deficientes. Mas não tem outro. Como as pessoas vão ser assistidas?”, questiona Teslenco, ao analisar a reduzida oferta de tratamento para radioterapia em Campo Grande.
A reportagem entrou em contato com a direção da clínica Radius, que não quis dar declaração. Logo após o escândalo, Adalberto Siufi vendeu a clínica para o grupo Oncoclínicas do Brasil Serviços Médicos S.A., de Belo Horizonte (MG).
Em seguida, a empresa mineira oficializou a venda da NeoRad para um grupo de 24 médicos de Campo Grande por R$ 3,8 milhões. Investigação revelou que o grupo cobrava do Hospital do Câncer 70% acima da tabela definida pelo SUS.
Portas fechadas – Além do Hospital do Câncer e da NeoRad, o HU (Hospital Universitário) de Campo Grande foi alvo da operação da PF (Polícia Federal). Atualmente, o hospital continua com o serviço de radioterapia suspenso. Conforme a assessoria de imprensa, a expectativa é pela chegada do acelerador linear repassado pelo Ministério da Saúde.
A radioterapia do HU foi desativada pela primeira vez em 2005 e tinha voltado a funcionar em abril do ano passado, mês seguinte à Sangue Frio. No mês de junho, diante de irregularidades apontadas pela Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) o setor foi fechado. O hospital tem aparelho de cobaltoterapia, tecnologia considerada ultrapassada.
Licitando – O HR (Hospital Regional) Rosa Pedrossian também aguarda equipamento do Ministério da Saúde para começar a oferecer o serviço.
De acordo com a assessoria de imprensa da SES (Secretaria Estadual de Saúde), são duas etapas de licitações. A primeira é para contratar empresa que fará o projeto da obra. A licitação foi lançada em novembro de 2013 com prazo de 180 dias para conclusão.
O segundo processo licitatório é para a execução da obra. O HR fez o levantamento para ver equipamento e recursos necessários para a construção do bunker, local com blindagem especial onde ficará o aparelho.