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No atendimento a crianças vítimas da Aids, maior doação é de amor

São 15 crianças soropositivas e 32 que convivem com algum familiar infectado; na Afrangel, elas recebem atendimento psicossocial, saúde e educação

Christiane Reis | 01/12/2016 16:55
Um dos quatro bebês que são atendidos pela Afrangel. (Foto: Alcides Neto)
Um dos quatro bebês que são atendidos pela Afrangel. (Foto: Alcides Neto)

Elas passam o dia recebendo atenção, muitas não sabem que estão ali porque são soropositivas ou que algum familiar tem Aids. Entre carinho e brincadeiras, elas recebem apoio psicossocial, de saúde e educacional. Desde 1996, a Afrangel (Associação Franciscanas Angelinas) – Lar das Crianças Vivendo e Convivendo com HIV-Aids – faz este trabalho em Campo Grande.

Atualmente, a instituição atende 47 crianças, de 0 a 12 anos de idade. No grupo estão quatro bebês.

Quem recebe o atendimento se emociona ao falar do trabalho oferecido. “Esse apoio que recebemos é maravilhoso. Faz uma grande diferença na minha vida e da minha família. Eles cuidam das nossas crianças com muito amor”, diz uma mãe, de 33 anos, que prefere não se identificar.

Ela é soropositiva e tem quatro filhos. Descobriu o HIV quando tinha 16 anos, após ter o primeiro bebê, que recebeu atendimento na Afrangel até os 12 anos, quando recebeu o exame negativado.

“Eu tive um relacionamento e ele não me contou, então quando eu descobri me separei. Ele já sabia e não me contou, não teve coragem”, relata. Dos outros três filho, apenas um está soropositivo.

Hoje, ela encara a situação com normalidade. Conta que fala sem medo, quando é questionada, “mas também não fico dizendo aos quatro cantos que tenho HIV”, diz. A grande conquista, aos olhos dela, foi ter conseguido um novo casamento. “Eu contei a ele o que estava acontecendo e mesmo assim ele me assumiu e disse que ficaria comigo porque me ama”.

Do total de crianças, 32 convivem com algum familiar que tem HIV ou Aids e 15 são soropositivas. “Todas as nossas crianças são saudáveis”, diz a assistente social da Afrangel, Juciele de Carvalho Costa.

Ali, os 20 profissionais da instituição agendam consultas e buscam medicamentos – pelo SUS – e providenciam padrinhos para viabilizar exames mais complexos e demorados pelo sistema público, como ressonância, que chega a custar até R$ 2 mil. Mesmo assim, a despesa chega a até R$ 70 mil mensais. Doações mantêm o local.

Logística – As crianças atendidas pela Afrangel não moram no local. Um ônibus busca nas proximidades de casa e leva à escola as que estão em idade escolar. O veículo sai da instituição às 4h15 e segue para pontos estratégicos de Campo Grande onde pegam as crianças.

Às 11h30 as que estudam já estão de volta todas almoçam, descansam e depois participam de atividades variadas. Não não é oferecido reforço escolar. As 16h30 o ônibus sai novamente para devolver as crianças às suas famílias.

Segundo a assistente social, a maior parte das crianças é encaminhada pelo hospital em que nasceram, “mas ocorre de vir gente direto aqui, e os que o fazem são recebidos”.

Na Associação, as crianças recebem carinho e participam de brincadeiras. (Foto: Divulgação)
Na Associação, as crianças recebem carinho e participam de brincadeiras. (Foto: Divulgação)

Gestantes – Dados da SES (Secretaria de Estado de Saúde) apontam que de 2010 a 2016, Mato Grosso do Sul registrou 512 casos de HIV em gestantes. Em 2010, foram 68 ocorrências e, este ano, 59, uma redução de quase 13%.

A gerente técnica do Programa Estadual DST-Aids, Daniele Martins, explica que o ideal é que os casos reduzam a cada dia, por que dependem muito de um acompanhamento adequado e pré-natal bem feito. “Quando as mães buscam esse caminho as chances de reduzir a transmissão vertical do HIV são bem grandes”. Ela lembra que desta foram é possível manter a carga viral baixa e o vírus não ser transmitido ao bebê.

Na quarta-feira (30), o ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou a Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical do HIV, que será concedido a municípios com mais de 100 mil habitantes que atendam a critérios, registro de taxas de detecção iguais ou inferior a 0,3 para cada mil crianças nascidas vivas; proporção menor ou igual a 2% de crianças com até 18 meses expostas ao HIV identificadas como infectadas e estão em acompanhamento na rede pública.
A certificação será avaliada por um comitê nacional que fará a verificação dos parâmetros. Ao todo, 1.952 municípios estão elegíveis.

O documento será entregue no dia 1º de dezembro do ano seguinte, data em que é lembrado o Dia Mundial de Luta contra a Aids. “Motivaremos os municípios para que tenham atenção nesse processo e consigam zerar a transmissão de mãe para filho”, disse o ministro da Saúde, Ricardo Barros.

A estratégia conta com o apoio da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) no Brasil.

* Os interessados em contribuir com a Afrangel podem entrar em contato pelo número (67) 3365-0590 ou diretamente no local – Rua do Seminário, 2.170, Jardim Seminário.

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