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Capital

“O último a sair apaga a luz” é o desespero de quem para de trabalhar amanhã

Incerteza sobre o futuro toma conta de quem não sabe se terá emprego ou como pagar as contas

Izabela Sanchez e Lucas Mamédio | 20/03/2020 12:39
“O último a sair apaga a luz” é o desespero de quem para de trabalhar amanhã
Quase sem movimento, o que chama a atenção na Rua 14 de Julho nesta sexta-feira é as máscaras (Foto: Marcos Maluf)


É dia de despedida, temporária no comércio de Campo Grande. No último dia antes que passe a valer decreto que obriga diversos setores comerciais a fecharem as portas até o dia 5 de abril, desespero e melancolia dividem espaço entre os dos trabalhadores. Sem saber se terão emprego ou mesmo como pagar as contas, o medo do contágio do coronavírus parece ter perdido a prioridade. No comércio da pandemia, o último que sair apaga a luz é o desespero de quem vende para comer.

Um clima de ineditismo, de que esta é uma época que entrará para os livros de história, já começa a se refletir nos semblantes de funcionários e pequenos proprietários nesta sexta-feira (20), que por não terem referências para lidar com o cenário, estão preenchidos por incertezas. Há, entre eles, quem não estava sabendo do decreto que suspendeu o atendimento presencial para conter a pandemia na cidade.

Com os acontecimentos diários (que levam em conta principalmente a evolução dos casos) o comércio não conseguiu planejamento a tempo e promoção para fisgar os clientes antes do encerramento não se vê. Por outro lado, algumas lojas já fizeram escalas com os funcionários e não estão recebendo mais produtos dos fornecedores.

Gerente de uma loja de roupas na Rua 14 de Julho, Tatiana Aparecida da Silva está preocupada porque a empresa ainda não deu informações sobre o salários dos funcionários. “Estou preocupada com o meu salário, como a empresa vai lidar?”, comentou.

“O último a sair apaga a luz” é o desespero de quem para de trabalhar amanhã
O ourives Nagib já está resignado e vai se refugiar em uma chácara enquanto a quarentena do comércio vigorar (Foto: Marcos Maluf)

O ourives Nagib Maluf, proprietário de loja na Rua Barão do Rio Branco, já está resignado. Isso porque não foi preciso decreto para que ele entendesse o que ia acontecer. O movimento já caiu completamente.

“Para mim tanto faz. Costumo receber 50 pessoas por dia, ontem vieram 3, hoje nenhuma, pra mim impedir é só ratificar uma cosia que já vinha acontecendo”, disse ele, que pretende ir para a chácara onde vive e não realizar nenhum trabalho interno na loja, modalidade permitida pelo decreto.

Nunca passei por isso na minha vida - O desespero toma conta da cabeleireira Aparecida Maria da Silva, 64, que trabalha em um salão de beleza na Rua Cândido Mariano. Em 42 anos de profissão, é a primeira vez que ela presencia uma medida como esta. Aparecida representa o símbolo da vulnerabilidade ao vírus: depende do emprego e é idosa.

“Nunca passei por isso na minha vida, ouvi rumores, mas não sabia do decreto. Eu moro sozinha, sou viúva, minha única fonte de renda é essa. Não sei como vai ser assistência do poder público, não sei como vou pagar as contas, estou muito preocupada. Eu tenho que trabalhar, prefiro correr o risco a ficar sem ganhar esse dinheiro”, admitiu.

“O último a sair apaga a luz” é o desespero de quem para de trabalhar amanhã
Aparecida Maria, símbolo de quem está a mercê do desastre do coronavírus (Foto: Marcos Maluf)


Diego Moura, 35, se antecipou e deu férias coletivas aos funcionários de uma loja de semi joias na Rua 14 de Julho, na quinta-feira (19). “Só eu vou fazer trabalho interno”, disse, em alusão a pequenos consertos. Consciente, já ligou para muitos clientes avisando que não podem ir até a loja a à partir de amanhã.

Livros esquecidos – Na histeria de quem estoca comida e deixa os outros sem ter o que comprar no mercado, os livros ficam no fim da pilha de prioridades. Para quem vende histórias, esse é o desespero. Moacir Goires, 59, já se aposentou, mas complementa a renda curta com uma banquinha de livros no centro. O movimento já despareceu essa semana. O medo, disse, é não conseguir pagar nem o valor fixo pelo uso do espaço. O aposentado contou que as despesas como luz e aluguel custam R$ 1 mil.

“Nesses 15 dias não vou poder ganhar dinheiro, não sei como vou fazer para pagar as contas, estou com medo desse tempo impactar e eu não poder arcar com as obrigações”, lamentou.

Quem ajuda os vulneráveis – Em Campo Grande, a Prefeitura já anunciou que a cobrança das contas de água e luz estão suspensas por 60 dias. A grande expectativa, ainda assim, se volta ao governo federal, que ainda não consolidou plano claro para conter o que já parecer ser uma das piores recessões econômicas da história do país.


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