Paciente com câncer vai à Justiça e protesta para conseguir tratamento
Sem voz, por conta do câncer, Lucila Cleufa Andrade, 43 anos, consegue expressar de outras formas o desejo de ser tratada com a substância fosfoetanolamina sintética, apelidada como “fosfo”. Uma foto dela, divulgada nas redes sociais, segurando um cartaz com os dizeres: “2014 – Minha mãe morreu de CÂNCER. 2015 – Minha irmã morreu de CÂNCER. 2016 LIBEREM A FOSFO PARA QUE EU POSSA VIVER”, mostra a esperança no novo tratamento.
Ela soube da substância vasculhando a internet em busca de informações sobre a doença. Encontrou notícias e grupos em redes sociais a respeito da “fosfo” que tem o poder, segundo seus defensores, de fazer tumores regredirem. A fosfoetanolamina é um composto químico orgânico presente naturalmente no organismo de diversos mamíferos, mas agora é fabricada num laboratório do Instituto de Química da USP (Universidade de São Paulo) no campus de São Carlos.
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Foi no município paulista que Lucila ingressou com uma ação judicial para ter acesso a substância. Por não ser legalizada como medicamento, a "fosfo" não tem indicação médica, mesmo assim dá esperança para pacientes que convivem com o câncer. A mãe dela faleceu em dezembro de 2014 e a irmã em julho de 2015, ambas tinham câncer.
“Temos relatos de pessoas que já utilizaram e apresentam uma grande melhora. É sobrevida, qualidade de vida. E estamos envolvidos na campanha nacional para que a "fosfo" seja legalizada. Aguardamos aprovação do Senado e da presidente (Dilma Rousseff)”, disse o marido de Lucila, Jonas Totola Carbajal, 38 anos.
Lucila é assistente social e árbitra, mas atualmente vive o drama de tratar um câncer que começou na mama em 2006. Após duas cirurgias – além de quimioterapia e radioterapia realizadas em São Paulo – a doença voltou em 2013. Um exame de rotina apontou metástases nos pulmões e axilas. “Iniciei todo tratamento convencional para câncer. Muitas sessões de quimioterapia e nenhum resultado favorável. Mas continuava firme e confiante na cura, fazendo quimioterapia”.

Para responder as perguntas do Campo Grande News, Lucila precisou escrever um e-mail, já que atualmente tem câncer nos pulmões e ossos, e vive com máscara de oxigênio 24 horas por dia. “Qualquer esforço físico, por menor que seja, me causa um desgaste enorme. Noites sem dormir com taquicardia, internações devido à infecção, líquido nos pulmões, início de pneumonia”, disse.
No dia 8 de março deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que libera a “pílula do câncer”, como a "fosfo" é também chamada. Atualmente, o uso da substância é proibido e o remédio não é reconhecido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Também não está claro os efeitos da "fosfo" sobre os pacientes.
A proposta aprovada na Câmara permite a produção, importação, distribuição e prescrição “independentemente do registro sanitário, em caráter excepcional, quanto estiverem em curso estudos clínicos” sobre a substância. Só agentes autorizados pelo governo vão poder produzir e distribuir a pílula. Agora o projeto segue para o Senado.
Mesmo assim Lucila quer tentar a diz que tem esperança “da cura mais perto”. “Entramos com pedido na justiça para que eu tenha o direito de viver. Muitos casos já foram relatados de pessoas que usaram a "fosfo" e hoje estão curadas. Queremos que a substância fosfoetanolamina sintética deixe de ser chamada como substância e passe a ser o remédio da cura”.
E mesmo com nada definido sobre o uso da substância ela faz planos. “Quero muito ficar bem e voltar a realizar meus sonhos. Meu sonho é participar das Olimpíadas como árbitra”.
Vitória - No dia 9 de março o desembargador Julio Roberto Siqueira Cardoso, do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, concedeu antecipação de tutela para o pedido de liminar de uma paciente com câncer de 58 anos, que vai receber a "fosfo".