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Capital

Pai e mãe que acorrentaram menina em casa responderão por tortura

"Se eu tiver que pagar alguma coisa, eu vou pagar", diz mãe que "não aguentava mais" as fugas da filha

Anahi Zurutuza e Clayton Neves | 16/01/2020 11:57
Pai e mãe que acorrentaram menina em casa responderão por tortura
Delegada Franciele Candotti durante entrevista na manhã desta quinta-feira (16) (Foto: Henrique Kawaminami)

O pai e a mãe da menina de 12 anos que era acorrentada pelo pai para não sair com o namorado responderão pelos crimes de tortura e abandono intelectual.

Inicialmente, o pedreiro de 32 anos foi preso por violência doméstica e maus-tratos, mas segundo a delegada da Depca (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), Franciele Candotti, nos depoimentos das vítimas -além da menina, um adolescente de 13 anos e outra garota de 7 anos- ficou evidente que os dois mais velhos eram vítimas de tortura.

“A mais nova presenciava tudo. Foi uma testemunha fundamental”, explicou a responsável pelo inquérito.

O caso veio à tona depois que o pai levou a menina de 12 anos até unidade a PM (Polícia Militar) do Bairro Coophavilla 2 pedindo ajuda para impedir que a garota se encontrasse com o namorado, que também tem menos de 18 anos.

Segundo apurado pela reportagem no início do mês, a criança já vinha sendo acorrentada e trancada na casa onde mora com os pais, mas mesmo assim teria conseguido fugir, na manhã do dia 4 de janeiro, para ver o namorado, também menor de idade.

A polícia apurou depois que ela chegou a passar a noite presa a uma cadeira de fio, na varanda de casa. O adolescente também era amarrado, mas “aceitava melhor” o castigo.

A mãe, uma diarista de 43 anos, responderá pelo crime de tortura, segundo Franciele Candotti, porque não só presenciava, mas também consentia que as punições fossem aplicadas pelo pai.

Tortura, pelo Código Penal, é a imposição de dor física ou psicológica por crueldade, intimidação, punição, para obtenção de uma confissão, informação ou simplesmente por prazer da pessoa que tortura. “O pai torturou a menina para saber quem era o namorado”, explicou a delegada.

O casal também responderá na Justiça por abandono intelectual, porque os dois filhos mais velhos não estavam na escola. A delegada pediu ainda que a criança mais nova, de 7 anos, seja abrigada, porque revelou muitos detalhes sobre os maus-tratos e corre riscos.

Pai e mãe que acorrentaram menina em casa responderão por tortura
Mãe chorou durante toda a entrevista realizada na manhã do dia 6 de janeiro(Foto: Clayton Neves/Arquivo)

Desaparecida – Logo após a prisão do pai, a garota de 12 anos foi levada para abrigo, mas fugiu no dia 9 de janeiro do local. A mãe contou ao Campo Grande News que só ficou sabendo da fuga porque um parente viu a menina no Bairro Santa Emília. Depois de alguns dias, a diarista recebeu ligações da filha, mas que não sabe onde ela está. “Ela me contou que agrediu uma garota lá com um extintor e fugiu”.

A mãe defende o marido, diz que a filha fugia de casa para frequentar locais onde se faz uso de drogas. “A gente não tinha mais vida, um ia trabalhar o outro ficava, um dormia o outro ficava acordado”.

A mulher relata ainda que a filha diz estar grávida. “Ontem ela me ligou de novo, me xingou muito, eu coloquei o celular no viva voz para que tivesse testemunha do que ela estava falando. Só que agora ela é responsabilidade do Estado. O que eu posso fazer? Se eu for procurar e chegar perto, ela ainda vai dizer que eu bati e quem vai presa sou eu”.

A diarista disse não saber que o inquérito na Depca havia sido concluído. “Fui lá na semana passada, prestei depoimento e só. Se eu tiver que pagar alguma coisa, eu vou pagar. Mas eu não posso mais ir atrás”.

A filha de 7 anos ainda está em casa, segundo a mãe. A conselheira tutelar Alice Arakaki Yamazaki, que atendeu o caso da adolescente, já havia dito que família vive em conflito, que vinha sendo acompanhada pela rede de assistência e por diversas vezes, os pais foram orientados sobre essa questão de violência doméstica. O pedreiro já respondia por maus-tratos.

A mãe disse à reportagem que “hoje dorme com medo de morrer”. “Já tinha medo antes, dela me matar, mas agora tenho mais. Ela sabe como entrar em casa e tudo”.

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