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Para provar que vale a pena doar, ONG mapeia dados da periferia

Ideia do Instituto Maná do Céu é criar banco de dados com informações sobre famílias que precisam de ajuda

Aletheya Alves | 23/06/2021 06:35
pPortal da Solidariedade conta com informações de 478 famílias entrevistadas. (Foto: Kísie Ainoã)
Portal da Solidariedade conta com informações de 478 famílias entrevistadas. (Foto: Kísie Ainoã)

Sem encontrar base de dados atualizados com detalhes para comprovar que a periferia de Campo Grande precisa de ajuda, uma ONG do Jardim Canguru resolveu ir para as ruas e criar o próprio portal. Até agora, 477 famílias foram entrevistadas e as realidades são disponibilizadas para quem quiser ver.

Durante os últimos três meses, equipes do Instituto Maná do Céu para os Povos se revezam entre busca por dados e seleção de famílias. Presidente da ONG, Carla Rodrigues explica que muita gente acaba desistindo de doar por não acreditar na efetividade da ação e, por isso, os dados mostram quais são os perfis de pessoas reais.

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Escutamos que as pessoas desanimam de doar porque a doação não atendeu. Nossa ideia é também mostrar que, mais do que precisar de qualquer coisa, as famílias têm necessidades específicas, Carla diz.

Separado em nove áreas, o Portal da Solidariedade reúne dados sobre os bairros das famílias, índices de desemprego, fragilidades e perfis com gráficos detalhados. Para conferir as informações completas, clique aqui. Ainda de acordo com Carla, as informações auxiliam justamente para atender cada família conforme sua necessidade.

Partindo dos dados, a presidente do Instituto explica que é possível direcionar a ajuda. "Não adianta eu entregar comida crua em uma casa que não tem água, por exemplo. Isso mostra que a doação precisa ser direcionada para a realidade de cada um ou não funciona".

Parte da equipe responsável pela gestão de dados, Cassiane Vieira dos Santos, de 22 anos, explica que os dados mais destacados pelas famílias são a cara da pandemia: desemprego e falta de alimentos. Do total, 129 pessoas indicaram os dois temas como maiores fragilidades.

Pessoas recebendo cesta básica no Instituto Maná do Céu para os Povos. (Foto: Kísie Ainoã)
Pessoas recebendo cesta básica no Instituto Maná do Céu para os Povos. (Foto: Kísie Ainoã)

Com cinco filhos e nenhum emprego, Daniele Souza Neves, de 30 anos, conta que é uma das histórias transformadas em estatística. “Em casa tá todo mundo desempregado, só Deus na glória. A gente vai correndo atrás, coloca mais água no feijão, macarrãozinho e vai embora. Hoje ainda recebi um cobertor porque o frio está aí”, conta.

Sobre receber doações, ela explica que fazer com que as pessoas entendam sua necessidade envolve níveis variados de preconceitos.

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A gente vem pegar doação e tem gente que chama a gente de mendigo. Tento deixar para lá porque preciso criar meus filhos e procurar um jeito de arrumar emprego. Melhor pedir do que roubar, Daniela comenta.

Bocas para alimentar - Gráficos gerados pelas entrevistas indicam que a maioria dos participantes tem três crianças dentro de casa. Pensando em como manejar o alimento para os filhos, Paula Pereira Bento, de 31 anos, conta que precisa controlar a comida, "Em casa mesmo só piorou, lá na invasão também. A comida é controlada e vai continuar assim até arrumar um serviço fixo. Vamos controlando tudo".

Sem vergonha ou medo de pedir apoio, ela diz que o jeito é ignorar os comentários negativos. “Eu vou atrás de emprego, quando aparece um bico eu faço. Mas as pessoas precisam entender que não é fácil, chega na hora do sufoco, vem o aperto”, explica.

Maioria das famílias relataram que possuem 3 crianças/adolescentes em casa. (Foto: Reprodução/ Instituto Maná do Céu)
Maioria das famílias relataram que possuem 3 crianças/adolescentes em casa. (Foto: Reprodução/ Instituto Maná do Céu)

Efeito pandemia - Entre as informações colhidas, o Maná do Céu também inseriu o perfil das famílias em relação à covid-19. Do total, 11,9% dos entrevistados indicaram que foram diagnosticados com coronavírus até o momento da coleta de dados.

Em outra parte do questionário, 6,9% disseram que alguém da família foi infectado, enquanto três pessoas perderam um familiar para a doença.

Estatísticas sobre como os entrevistados foram atingidos pela pandemia. (Foto: Reprodução/ Instituto Maná do Céu)
Estatísticas sobre como os entrevistados foram atingidos pela pandemia. (Foto: Reprodução/ Instituto Maná do Céu)

Se recuperando, Silvana da Silva, de 36 anos, relata que após ter contraído covid, a necessidade de procurar ajuda se tornou ainda maior. “Lá na minha casa a pandemia não está melhorando, o desemprego aumentou. Depois do coronavírus não consigo procurar emprego, continuo com dor de cabeça e no corpo. Não tem melhora”, diz.

Silvana explica que além de precisar lidar com quatro pessoas desempregadas dentro de casa, tem tido dificuldades causadas pelas sequelas. "Não é fácil e ninguém sabe o que fazer. Meu marido trabalha, mas o salário diminuiu e as contas vão atrasando".

Silvana da Silva relata que além do desemprego, tem lutado contra as sequelas deixadas pelo coronavírus. (Foto: Kísie Ainoã)
Silvana da Silva relata que além do desemprego, tem lutado contra as sequelas deixadas pelo coronavírus. (Foto: Kísie Ainoã)


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