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Pelos olhos do Aero Rancho, ONG viu Capital mudar e bairro seguir vulnerável

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Pelos olhos do Aero Rancho, ONG viu Capital mudar e bairro seguir vulnerável

Fotos registraram mudanças visíveis aos olhos e a memória dos fundadores da ONG conta história difícil

Aletheya Alves | 24/08/2021 06:20
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade
Retrato de rua ao lado da ONG é registro da memória. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo Pessoal)
Retrato de rua ao lado da ONG é registro da memória. (Foto: Kísie Ainoã/Arquivo Pessoal)

Em meio às ruas do Aero Rancho, bairro mais populoso de Campo Grande, árvores altas compõem um cenário que parece ter estado sempre por ali. Se confundindo não só com a história da região pelas fotos, as paredes da ONG Obras Sociais Francisco Thiesen, erguidas com produção própria de tijolos, "viram" terra se tornar asfalto, vegetação crescer, além da persistente vulnerabilidade em 22 dos 122 anos de Campo Grande.

Chegada do asfalto e vegetação, que foi plantada pelos fundadores da ONG, demonstram mudança. (Foto: Kísie Ainoã)
Chegada do asfalto e vegetação, que foi plantada pelos fundadores da ONG, demonstram mudança. (Foto: Kísie Ainoã)

Quando quase tudo era terra em 1999, na Avenida Engenheiro Lutero Lopes, tijolos artesanais começaram a ser produzidos pela família Morelo Rosa e alguns voluntários. Foi com eles que muitas paredes da organização, que seguem em pé, foram levantadas. Hoje, cerca de 300 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade são atendidas no espaço.

Vendo o cenário mudar com o decorrer dos anos, João Carlos Rosa, de 64 anos, presidente da ONG, lembra que quando o terreno foi conquistado, os moradores lamentavam pela perda do espaço. “Falaram “puxa, nosso campinho”, faziam cavalinho de pau e tal. Não tinha nada, nem um pé de capim. Tudo o que tem de planta aqui, nós plantamos e as paredes nós construímos”.

Tijolo artesanal utilizado para construção da sede da Organização. (Foto: Kísie Ainoã)
Tijolo artesanal utilizado para construção da sede da Organização. (Foto: Kísie Ainoã)

Seguindo pelos caminhos da organização, João destaca que assim como Campo Grande no sentido geral, o Aero Rancho também se tornou outro. “Melhorou muito na questão socioeconômica, era realmente uma situação de favelas”, disse.

João Carlos Rosa, de 64 anos, relata que o cenário visto no Aero Rancho segue mudando. (Foto: Kísie Ainoã)
João Carlos Rosa, de 64 anos, relata que o cenário visto no Aero Rancho segue mudando. (Foto: Kísie Ainoã)

Mesmo assim, explicando que nem tudo são flores, disse que enquanto alguns problemas diminuíram, novos começaram a aparecer, “antes, a gente tinha que descobrir onde tinha boca de fumo no bairro, hoje, eu posso te apontar os locais que tem”.

Terreno da OSC antes da sede ser construída. (Foto: Arquivo Pessoal)
Terreno da OSC antes da sede ser construída. (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi partindo do assunto do pai, que Victor Morelo Rosa, de 34 anos, relatou que, justamente devido aos problemas continuarem, a organização também existe. “A missão é tirar as crianças da rua, estamos tirando elas da beira da rodinha do tráfico. A fila da campanha contra fome é a coisa mais impressionante para quem pensa que o Aero Rancho está super bem, foi uma fila enorme de gente esperando comida”, disse.

De acordo com a família, as atividades da organização começaram em 1996, antes mesmo do terreno chegar, com contraturno para crianças. Com o decorrer dos anos, o espaço ganhou estruturas e hoje, além do contraturno seguir, há ensino escolar integral do maternal até a pré-escola nível 2, além de aulas regulares para o 1º, 2º e 3º ano do ensino fundamental e um polo universitário.

Crianças durante aula realizada em contraturno escolar. (Foto: Kísie Ainoã)
Crianças durante aula realizada em contraturno escolar. (Foto: Kísie Ainoã)

Visível aos olhos - Se lembrando de quando o Aero Rancho ainda estava em formação, assim como a Organização, a também fundadora e esposa de João, Iara Elizabeth Morelo Rosa, de 62 anos, conta que as crianças atendidas em atividades de contraturno escolar precisavam se sentar na terra.

Antes da construção, crianças eram atendidas em terreno improvisado. (Foto: Arquivo Pessoal)
Antes da construção, crianças eram atendidas em terreno improvisado. (Foto: Arquivo Pessoal)

Negando que a poeira e pobreza tenham prejudicado os trabalhos feitos no bairro, ela explica que são vários os exemplos de crianças que conseguiram ter futuros antes não imaginados. “Mesmo com todas as dificuldades, durante o tempo todo, nosso foco continuou o mesmo. Temos uma criança que ficou com a gente desde o maternal e hoje, está em São Carlos, fazendo doutorado”.

Filha de Iara e João, Letícia de Vital Morelo Rosa, 27 anos, também cresceu entre as construções e hoje, trabalhando com a família, reforça os resgates das ruas que aconteciam no passado, continuam. “As situações diminuíram muito, mas ainda acontece. Por isso, continuamos reforçando sobre trabalho de higiene com banho, cobrança de roupa limpa”, disse.

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Tenho crianças aqui que hoje, estão na orquestra e que antes não tomavam banho. Urinavam na calça, porque não viam diferença entre o cheiro do corpo e o cheiro de urina, Letícia explica.

Testemunhando as mudanças com oportunidades, Melissa Mendes Lopes, de 28 anos, foi uma das crianças atendidas há 20 anos e hoje se tornou educadora na ONG. “Há pouco tempo comecei a trabalhar aqui, mas nunca realmente me separei. Aqui é minha segunda casa desde sempre”, conta.

Presidente da organização, João explica que assim como em 1999 pensava em futuros melhores para crianças como Melissa, o sonho de mudança no Aero Rancho continua. "A gente sempre quis oferecer uma escola do futuro e oportunidades. Algumas pessoas falam que a gente é chato, outras que a gente é insistente. Mas é isso, mesmo com períodos muito difíceis, a gente não desistiu e vamos continuar tentando".

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