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Capital

Relatório sobre ataques a casais interligou crimes do "Maníaco do Segredo"

João Leonel da Silva tem prisões desde 2011 por atacar casais na região da Mata do Segredo

Marta Ferreira e Liniker Ribeiro | 09/05/2020 07:21

“Uma pessoa que não demonstra culpa, nem medo, nem temor do Estado, nem de condenação”.

Fernanda Felix, delegada de Polícia Civil.

“Há grandes chances de que alguns crimes deles não tenham sido notificados”.

Carlos Delano, delegado de Polícia Civil.

"Dos crimes que eu já investiguei, foi o que mais me aterrorizou, principalmente pela forma como ele agia”.

Wanusa Macedo, investigadora de Polícia Civil.

As três frases acima referem-se a João Leonel da Silva, 40 anos, o “Maníaco do Segredo”, condenado por estupros e roubos e que, agora, responde por latrocínio ocorrido fevereiro de 2016, em Campo Grande, no chamado corredor do Bairro Nova Lima, primeiramente investigado como crime passional.

Os policiais citados conhecem bem o preso. Todos trabalhavam nos inquéritos contra o maníaco e sustentam: trata-se de criminoso em série, espécie de bandido cujas ações seguem padrão e, normalmente, só param quando tirados do convívio social.

“Era triste ver as vítimas relatando", testemunha Wanuza, que traçou perfil do autor dos ataques a casais registrados na região da Mata do Segredo e é considerada uma das responsáveis principais pela ligação entre os fatos.

Corredor do Nova Lima, no dia em que corpo de rapaz de 28 anos foi achado. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
Corredor do Nova Lima, no dia em que corpo de rapaz de 28 anos foi achado. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

O inquérito mais recente, relatado nesta semana pelo delegado Carlos Delano, acusando o maníaco do assassinato de Diego Sá Barreto, 28 anos, achado morto em primeiro de fevereiro de 2016, lista sete boletins de ocorrência, entre 2011 e 2016, nos quais João Leonel figura como autor.

Em todos os registros, os mesmos elementos estão presentes, em maior ou menor grau de violência. João Leonel agia no entorno de casa, no Bairro Nova Lima, sempre a pé, a distância inferior a 2 quilômetros. Ameaçava, com arma em punho, casais que escolhiam ruas sem movimento para namorar, em parte dos casos estuprou as mulheres, em outras obrigou as vítimas a terem relações enquanto olhava e se masturbava.

Há 18 anos na corporação, Wanuza Macedo trabalhou por oito deles na Deam, responsável pelas investigações de quatro estupros atribuídos ao criminoso. O relatório sobre o criminoso em série tem muito trabalho de campo e observação da investigadora.

Para ela, era questão de honra e desejo pessoal de solucionar investigações de violência sexual como as do maníaco. "Sentia uma responsabilidade social muito grande. Sabia que ele poderia voltar a cometer o crime, por isso a intenção era pegá-lo”, relembra.

João Leonel, no dia da prisão pela Derf em agosto de 2016. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)
João Leonel, no dia da prisão pela Derf em agosto de 2016. (Foto: Arquivo/Campo Grande News)

Suspeito de ser o responsável pelo sumiço de dois adolescentes em 2009,  inclusive com prisão temporária à época, sem encontrar provas,  João Leonel voltou a ser encarcerado em abril de 2011, por atacar namorados em um semáforo. Nesse dia, chegou a levar um tiro no braço, durante a ação de policiais militares.

Acabou sendo solto. Voltou a ser preso em 2012, depois de 2015 e, até 2016, aparece como responsável por infrações criminosas com espaços temporais inferiores a seis meses. Até ser preso e não mais liberado, em agosto daquele ano.

 “Comento que isso aconteceu à base de oração, porque não tínhamos o nome dele e dava a impressão que ele sabia como era o trabalho da polícia", testemunha Wanuza. A pedido da servidora, a imagem dela foi preservada neste material.

A delegada Fernanda Félix, atual titular da Deam, investigou João Leonel em sua primeira passagem pela delegacia, em torno de quatro anos atrás. Ela também comenta da dificuldade encontrada para conseguir provas. Detalhista, o maníaco usava luvas, cobria o rosto, fazia as vítimas entrarem na água, andarem a esmo, eliminando por exemplo, sinais de esperma.

“As mulheres tinham dificuldade e nunca a gente encontrava vestígios”, relembra Fernanda Félix.

“Ele ficava em silêncio”, completa, sobre o fato de João Leonel nunca ter confessado qualquer um dos crimes.

Cerco fechado - Foi o reconhecimento por uma das vítimas, na Derf (Delegacia Especializada de Repressão a Furtos e Roubos), onde o delegado Carlos Delano trabalhava em 2016, que ajudou a estabelecer João Leonel como culpado pelas investidas violentas. Leonel foi para cadeia por tentativa de latrocínio, envolvendo casal que parou para fazer sexo na rua Zulmira Borba, aos fundos de frigorífico abandonado.

Neste caso, um rapaz de 27 anos levou três tiros e a namorada foi estuprada. O caso se dividiu em uma apuração na Derf e outra na Deam. Ambas tiveram condenação e João Leonel cumpre pena por elas.

O caso do assassinato de fevereiro de 2016, agora no rol de crimes de João Leonel, seguia sem suspeito definido. Quando Delano foi para a atual unidade, a DEH (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios), em 2018, retomou a apuração, e, também com base no relatório da investigadora Wanuza, teve certeza de ser obra criminosa do “Maníaco do Segredo”.

Foi resgatado então, o relato da mulher da qual Diego Sá Barreto estava acompanhado quando foi morto. Todas as características citadas, caminham para a descrição de João Leonel. A companheira do acusado também deu informações importantes, como a confirmação de eliminação de roupas usadas por ele em data próxima ao ataque e a percepção de usar luvas para sair de casa em datas assim e, na volta, apresentar comportamento incomum.

O delegado Carlos Delano, responsável por inquérito que acusa João Leonel de Latrocínio. (Foto: Kísie Ainoã)
O delegado Carlos Delano, responsável por inquérito que acusa João Leonel de Latrocínio. (Foto: Kísie Ainoã)

Assim como as policiais da Deam, Delano observa traços do maníaco nos depoimentos reveladores de frieza e tentativa de ludibriar o interlocutor, da mesma forma usada com as vítimas, segundo os relatos. “Ele muda a voz, ora grave, ora aguda”, exemplifica.

Para a autoridade policial, ficou claro que há mais situações não descobertas, ou sejam crimes ocultos de João Leonel, como diz a frase no início do texto.

O preso é representado pela Defensoria Pública do Estado. A reportagem tentou contato com o profissional de Direito responsável por acompanhá-lo, sem êxito. As penas dele, no momento, vão até 2032.

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