Contratação de jovens bate recorde em MS apesar de fama ruim da CLT
A ampliação de políticas públicas, qualificação gratuita e ferramentas digitais contribuem para esse resultado

Apesar da resistência de parte da juventude à CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), os dados das fundações públicas de emprego revelam um crescimento contínuo na inserção de jovens no mercado formal em Mato Grosso do Sul. Só nos primeiros cinco meses de 2025, a Funtrab (Fundação do Trabalho de MS) já colocou 6.142 jovens com carteira assinada, o maior número da série histórica recente.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Cresce número de jovens com carteira assinada em Mato Grosso do Sul. Nos primeiros cinco meses de 2025, a Funtrab registrou a contratação de 6.142 jovens, o maior número da série histórica, com projeção de aumento de 20% em relação a 2024. A ampliação de políticas públicas, qualificação gratuita e ferramentas digitais contribuem para esse resultado. Apesar do cenário positivo, persiste a resistência de alguns jovens ao emprego formal. Muitos preferem buscar oportunidades por meio de redes sociais e aplicativos, priorizando flexibilidade em detrimento dos benefícios da CLT. Funsat aponta dificuldade de engajamento desse público, que rejeita trabalhos com horários noturnos, em finais de semana ou no comércio. Especialistas alertam para a necessidade de qualificação e os riscos da informalidade para o futuro profissional dos jovens.
De acordo com a diretora-presidente da Funtrab, Marina Dobashi, a tendência é positiva: “Se o ritmo continuar, teremos um aumento de 20% na colocação de jovens em relação a 2024. Isso é reflexo direto da ampliação das políticas públicas, da qualificação gratuita e de ferramentas digitais que facilitam o acesso dos jovens às oportunidades.”
Mas apesar dos números animadores, na prática, muitos jovens ainda evitam o caminho tradicional até o emprego com carteira assinada, preferindo redes sociais, aplicativos ou até contatos diretos com empresas. O que há por trás dessa rejeição?
Entre o celular e o balcão de empregos - Com 16 anos e cursando o 2º ano do ensino médio, Rian Filipe Vidal dos Santos esteve recentemente na Funsat (Fundação Social do Trabalho de Campo Grande) em busca de uma vaga de menor aprendiz.
“Primeiro eu procuro vagas pela internet e depois venho aqui. Hoje ele procurou por auxiliar administrativo, RH”, contou sua mãe, Maria José Vidal, de 69 anos, que o acompanhava. Rian, que já possui curso na área, lamenta as poucas oportunidades para sua faixa etária.
“A partir dos 18 já tem mais chance. Para minha idade quase não tem, e quando tem, não é o que eu procuro. Mesmo assim, ainda prefiro trabalhar com carteira assinada, por causa da segurança e dos benefícios”.
Henrique Ferreira Bogado Mendes, de 17 anos, atua como promotor de vendas. Ele nunca se cadastrou em nenhuma fundação. “Prefiro levar o currículo pessoalmente. É difícil para menor, pagam pouco e aceitam mais gente mais velha. Mas carteira assinada é melhor pelos direitos e pela segurança".
Karen Kaylane Salustiano, de 22 anos, admite que nunca buscou vaga na Funtrab ou Funsat. “Sempre vejo no Facebook, WhatsApp. Eles pedem muita experiência. A carteira assinada seria o ideal, mas como autônoma eu faço meus horários”.
Números revelam resistência e desafios - A Funsat registrou entre janeiro e junho deste ano 561 atendimentos de jovens de 14 a 24 anos, dos quais 167 foram efetivamente contratados, 14 na faixa de 14 a 17 anos e 153 entre 18 e 24. No total, os jovens representam 27% das colocações da fundação no período, o que mostra a dificuldade de engajamento com esse público.
Para o diretor-presidente da Funsat, João Henrique Lima Bezerra, a questão é cultural. “A juventude tem rejeitado vagas que exigem final de semana, noite ou comércio. Preferem tentar algo pela internet, mesmo ganhando menos. Isso está impactando diretamente o futuro profissional deles”.
Segundo ele, os jovens não têm procurado qualificação. “Temos 14 cursos aqui, inclusive com temas como inteligência artificial, e quem aparece são, em maioria, pessoas com mais de 40 anos. Em uma sala de 30 alunos, no máximo três são menores de 18”.
Ele ainda alerta para uma possível crise de mão de obra no futuro: “Hoje temos entre 1.900 a 2.300 vagas abertas diariamente em Campo Grande. E em torno de 60% delas não exigem experiência. Falta interesse”.
Do lado da Funtrab, crescimento na contramão da percepção - Apesar da percepção de desinteresse, a Funtrab mostra que os esforços de articulação com empresas e expansão dos cursos gratuitos têm surtido efeito. Em 2022, foram 4.579 jovens colocados no mercado de trabalho. Em 2023, houve leve queda (-4,3%), mas o número voltou a crescer: 5.446 em 2024 e 6.142 até maio deste ano, representando um salto de 12,8%.
“O jovem ainda tem uma visão distorcida do que é o emprego formal. Muitos não querem cumprir horário fixo, não gostam de regras. Mas temos buscado alternativas como o MS Qualifica Digital e parcerias com plataformas como o Proa para oferecer capacitação flexível e online”, explicou Dobashi.
Ela também destaca que a maioria dos jovens colocados tem nível médio e precisa se qualificar mais. “Estamos incentivando cursos técnicos, profissionalizantes e até desenvolvimento de software. A intenção é prepará-los para as vagas que realmente estão em crescimento.”
Faixa etária e inserção - Os dados da Funsat mostram que a idade média dos cadastrados varia entre 25 e 40 anos, com predominância de candidatos mais velhos, especialmente após a criação de ações como o Emprega CG 50+. Ainda assim, há iniciativas voltadas à juventude, como os eventos temáticos específicos para contratação de jovens entre 18 e 30 anos.
“A juventude ainda representa de 25% a 30% dos atendimentos. Precisamos mudar essa cultura de imediatismo e mostrar a importância da qualificação e da formalização para o futuro”, disse Bezerra.
Entre a vontade de flexibilidade e a estabilidade da CLT, a juventude sul-mato-grossense segue dividida. Por um lado, há avanços concretos em políticas públicas e números crescentes de jovens contratados. Por outro, persiste a resistência a horários fixos, à rotina e à formalidade.
A aposta das instituições públicas é que, com mais qualificação e acesso facilitado às oportunidades, inclusive por meios digitais, essa nova geração possa enxergar no trabalho formal não um obstáculo, mas um caminho viável para crescimento e segurança.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.