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Capital

Santa Casa convoca imprensa para mostrar pacientes de volta aos corredores

Irritado, secretário Geraldo Resende cobrou: “cadê os 10 ventiladores que eu deixei aqui na porta?"

Anahi Zurutuza e Laiane Paixão | 22/10/2020 11:52
Pacientes internados nos corredores, cena que não se via há muito tempo (Foto: Marcos Maluf)
Pacientes internados nos corredores, cena que não se via há muito tempo (Foto: Marcos Maluf)

A reclamação não é de agora. Segundo a Santa Casa de Campo Grande, a má gestão da regulação de pacientes, sobrecarrega o maior hospital de Mato Grosso do Sul. Depois de receber, em 5 dias, 521 pacientes mesmo sem ter como atender, os chamados “vaga zero”, a instituição chamou a imprensa e secretários de saúde para mostrar uma cena que não se via há muito tempo: pacientes internados em macas nos corredores.

“O caos está instalado aqui no hospital. Pacientes estão sendo despejados”, afirmou Heitor Rodrigues Freire, o diretor-presidente do hospital.

Também chamada para a visita, a promotora de Justiça, Filomena Fluminhan, reforçou. “Há muito tempo eu não presenciava pacientes nos corredores. Sabemos que a pandemia veio e acabou mudando um pouco o cenário, só que doença não espera”, disse a representante do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), que vai mediar uma solução em reunião nesta tarde, com as duas secretarias e diretores dos hospitais Regional e Universitário.

Irritado, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, chamou a convocação de “espetáculo” e depois de visitar várias alas do hospital, ressaltou que há setores da unidade desativados, como todo o 6º andar.

Em resumo, o chefe da pasta afirmou que também têm problemas internos e superlotação “sempre existiu”. “Nós não podemos fazer espetacularização das situações, nós não podemos fazer cenas para a mídia. Eu entendo que a mídia tem seu papel mas ela pode ser muito bem convocada quando a gente tiver soluções. Versão de A ou versão de B não interessa ao nosso principal usuário que é paciente do SUS (Sistema Único de Saúde), nós poderíamos ter feito essa reunião de hoje de uma forma tranquila”, afirmou.

Nesta manhã, ala vermelha estava lotada (Foto: Marcos Maluf)
Nesta manhã, ala vermelha estava lotada (Foto: Marcos Maluf)

Números – Entre sábado (17) e ontem (21), a Santa Casa recebeu 1.764 pacientes, um terço deles classificados como “vaga zero”.

No fim de setembro, “a situação crítica” já havia sido denunciada pela direção do hospital. Documento enviado ao CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) alertava para o “altíssimo risco de desassistência aos pacientes”.

Do meio do ano para cá, a Santa Casa – referência em atendimento de alta complexidade, como casos graves de neurologia e ortopedia – vem fazendo os alertas de superlotação. Em julho, chegou-se ao ponto de pacientes serem mantidos vivos por meio do ambu, por falta de respiradores mecânicos, situação que se repete desde então

“Desde março, com a covid, a situação vem piorando. Nós acabamos absorvendo uma demanda absurda de pacientes, chegando a quadruplicar os índices de pacientes clínicos. Todos os dias temos de fazer a manutenção de pacientes com o ambu na ala vermelha [pronto-socorro]”, afirmou a médica infectologista Priscila Alexandrino, coordenadora média da Santa Casa.

Secretário Geraldo Resende visitou o hospital e criticou "espetáculo" (Foto: Marcos Maluf)
Secretário Geraldo Resende visitou o hospital e criticou "espetáculo" (Foto: Marcos Maluf)

O secretário Geraldo Resende rebateu a denúncia sobre a volta do uso do ambu com uma cobrança: “onde estão os 10 ventiladores de transporte que eu deixei aqui na porta? Eu não vi nenhum ventilador de transporte sendo usado lá”, disse, referindo-se à visita feita no pronto-socorro do hospital nesta manhã.

Ainda de acordo com o hospital, hoje, todos os 70 leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) estão ocupados e a taxa de ocupação dos leitos críticos para pacientes isolados com a covid-19 é de 80%.

Custeio – O secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, lembrou dos recursos já injetados no hospital, que a direção afirma ser insuficiente. “É importante dizer que nós estamos aqui, Estado e município, para que possamos tomar as providências. Mas, foram repassados mais de R$ 220 milhões para o hospital de dezembro pra cá e que a Santa Casa teve portarias para comprar medicamentos e insumos para ajudar a absorver esse impacto também. É importante deixar claro que houve portarias e termos aditivos para que se compre insumos e medicamentos. No entanto, a gente observa que há necessidade de organização de fluxo que nesse momento se faz necessário”.

O presidente diz que esse repasse não é investimento, é sim o pagamento de serviços já prestados. “Temos contrato de prestação de serviços e recebemos por cada item do que já foi prestado. Apresentamos comprovante e recebemos pelo que fazemos", explica.

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