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Capital

Sem manutenção permanente, árvores centenárias estão ameaçadas

Mato Grosso também é outra via que revela a falta de cuidado com a centenária paisagem da cidadee

Chloé Pinheiro | 03/09/2016 09:31
As árvores da Afonso Pena são um dos cartões postais de Campo Grande. (Foto: Fernando Antunes)
As árvores da Afonso Pena são um dos cartões postais de Campo Grande. (Foto: Fernando Antunes)
Seu Odair, que vende raízes aos pés das árvores da calçada esquerda da Afonso Pena. (Foto: Fernando Antunes)
Seu Odair, que vende raízes aos pés das árvores da calçada esquerda da Afonso Pena. (Foto: Fernando Antunes)

"Eu sempre digo: Deus fez o sol para todos, mas a sombra só para quem merece", dita Odair do Carmo Figueira, 59 anos, que há quatro vende raízes e remédios naturais na avenida Afonso Pena. E será que Campo Grande merece a fresca sombra das árvores que emolduram suas principais vias?

O estado em que estão os exemplares, alguns com mais de cem anos de idade, da própria Afonso Pena indica que não. No último dia 24, há menos de uma semana, um ingazeiro "quarentão", há anos infestado por cupins, teve que ser cortado pelo risco de queda. 

O fato causou tristeza nos comerciantes e moradores do entorno, mas a estrutura comprometida não é exceção. "Assim como nós, humanos, as árvores precisam de manutenção constante, e há anos não é feito nada ali", expõe o paisagista Hilarion Chaparro. "E muitas árvores da região estão com a estrutura comprometida, correndo risco de terem que ser arrancadas". 

Chaparro fez parte, entre 2009 e 2011, do Brigada Verde, projeto da Prefeitura que corria a cidade para verificar a saúde das árvores. "Fizemos um grande estudo sobre o diagnóstico das árvores da capital e, a partir disso, recuperamos 80 na Afonso Pena e estipulamos visitas de manutenção de seis em seis meses", conta Marcos Cristaldo, que, na época, era Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano. 

(Foto: Fernando Antunes)
(Foto: Fernando Antunes)

Parte desse esforço envolveu a recuperação da grande figueira que fica na altura da Rua Padre João Crippa, em 2010, e estava com 60% de sua raiz comprometida. Para que ela vivesse, recebeu uma super dose de vitaminas e apoio. Agora, ela já está recuperada, mas o descaso é tamanho que os apoios continuaram ali.

"As autoridades vieram, plantaram uma muda do lado que nem sol pega e foram embora. Depois, nunca mais veio ninguém cuidar das árvores, só cortar a grama", revela um comerciante do entorno, que não quis revelar seu nome. Ele se refere a inauguração de uma muda feita a partir do galho da figueira, que ocorreu em 2015. 

"Se eles vêm, é aos finais de semana, porque fico aqui o dia todo e nunca vi ninguém fazer manutenção aqui. Só podaram uma vez faz tempo, mas olha como cresceu", mostra o vendedor de remédios naturais Odair.

Os galhos que quebram com as chuvas. (Foto: Fernando Antunes)
Os galhos que quebram com as chuvas. (Foto: Fernando Antunes)

Além dos pequenos bichinhos que acabam com o interior dos troncos e raízes e devem ser combatidos, a poda também é um instrumento importante de preservação das árvores.

Isso porque os grandes galhos mais compridos, com outros galhos menores ramificados a partir deles, tendem a quebrar quando chove e venta muito. Daí, podem cair sob carros, fiação elétrica e causar transtornos. "A poda também é uma medida preventiva, que deve ser utilizada com mais frequência", aponta Chaparro. 

Convivência entre carros e árvores deveria ser menos íntima na Mato Grosso, segundo especialistas. (Foto: Fernando Antunes)
Convivência entre carros e árvores deveria ser menos íntima na Mato Grosso, segundo especialistas. (Foto: Fernando Antunes)

Já na Avenida Mato Grosso, o problema é mais embaixo. As raízes expostas a poucos metros dos carros são até que normais, decorrentes da idade da árvore, mas a vizinhança engarrafada também não ajuda. "Ali deveria ser feito como na Afonso Pena um canteiro que desse espaço para as árvores. Elas ficam à mercê de enxurradas, dos carros, de lixo", comenta Chaparro. 

"Na época, tentamos aprovar esse canteiro, mas foi difícil negociar com os comerciantes da região", conta Marcos. O estacionamento no meio da avenida, ali tão pertinho delas, "afunda" a raiz e o asfalto sufoca a base da planta, que não consegue absorver água e fica cada vez mais frágil.

"Não é uma questão de se é possível cair. Isso vai acontecer se nada for feito", alerta Chaparro.   

Procurada pela reportagem para contar as atuais medidas para preservar as árvores das duas avenidas, a Prefeitura ainda não se manifestou, mas, na semana passada, quando caiu o ingazeiro, afirmou que as árvores do canteiro central da Afonso Pena são acompanhadas por biólogos. 

Região da Mato Grosso entre a 13 de maio e a 14 de julho. (Foto: Fernando Antunes)
Região da Mato Grosso entre a 13 de maio e a 14 de julho. (Foto: Fernando Antunes)

Patrimônios da cidade - As árvores da Mato Grosso já são tombadas desde 2011 como patrimônio histórico e cultural da cidade. O canteiro da Afonso Pena também deveria ter sua preservação garantida por lei, como acontece com o que vira patrimônio, mas o processo para o tombamento se arrasta desde 2009. Em março de 2016, o Tribunal de Justiça do estado determinou que o canteiro seja definitivamente tombado, mas até agora, nada. 

Campo Grande é, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a capital mais arborizada do país, com um índice de 0,9 árvores por domicílio. Ou seja, a cada 100 municípios, mais de 90 possuem pelo menos uma árvore. Nas vias públicas, hoje são cerca de 240 mil árvores. 

 

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