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Capital

Taxistas temem que profissão ‘chegue ao fim’ com aumento de aplicativos

Aplicativos de mobilidade foram 'salvação' para diversos trabalhadores em um ano de crise, mas taxistas viram profissão "chegar ao fim" de forma repentina

Izabela Sanchez | 28/10/2017 09:10
Taxistas a espera de clientes em ponto da rua Maracaju (Foto: Marina Pacheco)
Taxistas a espera de clientes em ponto da rua Maracaju (Foto: Marina Pacheco)

Motoristas profissionais e motoristas “caroneiros” são duas categorias que não se entendem em Campo Grande. São, também, “profissões” que sentiram o impacto da crise econômica em 2016.

Enquanto o ano que chega ao fim consolidou a primeira empresa de aplicativo de mobilidade na Capital e 'salvou' a renda de milhares de homens e mulheres, os taxistas sentiram o oposto: nas ruas, o clima é de despedida de uma profissão quase centenária.

Um dos pontos mais tradicionais de Campo Grande, conhecido como 'ponto do Extra', na Rua Maracaju, exibia expressões de desânimo. Em frente ao local vários colegas conversavam no meio da tarde. A impressão, ali, era de um domingo, mas o dia era comercial, quarta-feira.

"Na verdade, a Uber acabou, não tem mais táxi. Os 'americanos' estão levando todo o dinheiro dos brasileiros. Eu trabalhei 25 anos e saí agora porque eu não tenho mais condições de trabalhar", comentou um taxista que acabou de se aposentar e não quis revelar o nome. O clima de despedida, para ele, foi literal.

Um não entende o outro - Na cidade, a tentativa de regulamentação da atividade dos caroneiros emperrou na Justiça e cada uma das categorias avaliou o decreto da Prefeitura de forma diferente. Enquanto representantes dos aplicativos criticaram a 'cara de táxi' do Decreto, taxistas viram na regulamentação uma balança mais igualitária: os caroneiros iriam pagar imposto, e logo, o preço a ser repassado para o consumidor iria aumentar, equilibrando a disputa invisível.

Motorista de táxi há 20 anos, Olivete Castro Junior, 47, comentou sobre a 'rapidez' com que os aplicativos "acabaram" com os táxis. Ele afirma que hoje, na Capital, cerca de 40 táxis estão parados nas ruas. Enquanto Olivete falava, um dos 'colegas' taxistas escondia o desânimo dentro do carro.

"Funciona assim, o aplicativo entrou e levou quase cem anos para o táxi ser o que é. Desde a época da carroça existia um tipo de transporte, foi muito rápido. Por exemplo, chegou agora para a gente pagar e correr pista, é um documento que a gente paga para o Inmetro [Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial]. É uma coisa que a população pediu e foi colocado para os taxistas".

Pela avaliação dos taxistas, as duas categorias, de fato, não se entendem. Isso porque o 'entender' também desafia países. Como cobrar impostos e como regulamentar o vínculo trabalhista são duas questões que dividem o poder público no Brasil e no mundo.

O motorista profissional explicou que a atividade dos taxistas onera os cofres municipais por meio de uma série de regulações: lei de uso e ocupação do solo, cursos de renovação e seguro. Agora, os valores já começam a pesar: "R$ 600 'conto' para pagar aqui, quem aguenta pagar?", questionou Olivete.

Ainda assim, enquanto os taxistas sentem que os aplicativos 'aposentam' a profissão, 'aposentados' de diversas profissões são parte bem ativa dos caroneiros de aplicativos. É o caso de Romildo Pereira da Silva, 56. Mais otimista, Romildo acredita que há espaço para todo mundo. Além disso, avalia, a mesma crise que diminuiu a renda fez com que a população criasse apego aos aplicativos, já que muitas vezes trajetos pequenos custam pouco mais do que a passagem de ônibus.

"Eu já acho que tem campo pra todo mundo, tem muitas pessoas que não tem carro e precisam de um transporte mais acessível. Na realidade, eles [taxistas] estão querendo tirar a uber, mas nós colhemos muitas assinaturas e o pessoal não quer que tire", comentou.

Aproximação - Outra diferença entre taxistas e caroneiros é a proximidade com a população. Diversos 'agrados' são oferecidos pelos motoristas de aplicativos. O taxista profissional explicou que as 'balinhas' não adiantam e explica uma matemática "que não fecha".

"Você trabalha 24h, aí vem outro parceiro e você trabalha mais 24h. São fatores: km pago e diária. Quando você trabalha com frotista, que tem vários carros, ele exige um valor mínimo e você tem que trabalhar em cima disso. Eu trabalho por 35%, se eu dou 30% de desconto eu vou trabalhar com 5% e 5% não paga conta"

Trânsito e motoristas inexperientes - Enquanto a atividade da Uber e da '99 pop' não tem regulamentação, a atividade dos taxistas passa por investigação na Câmara Municipal, alvo de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). A conclusão das duas questões ainda deve proporcionar novidades às 'categorias'.

Olivete também comenta que as empresas de aplicativo não oferecem segurança aos motoristas e clientes. Um dos aspectos dessa insegurança, opina, são os 'universitários'. É assim que os taxistas chamam os motoristas jovens, que acabaram de tirar a licença e já dirigem para os aplicativos. Tudo culmina, comentaram os dois motoristas, em um trânsito "caótico". Nessa questão, ambos concordam.

"Tem pessoas com dois anos aí, nem com dois anos, esses universitários, mas o cara não tem qualificação nenhuma e está transitando. Se você vai em uma garagem de carros a primeira coisa que todo mundo pergunta: é pra pegar um Uber?", comentou Olivete, sobre o trânsito.

É o que também avalia Romildo. "O que está acontecendo é que está crescendo desordenado, muitos habilitados novos, muita gente está tirando carteira agora e não sabe nem onde parar e tornar mais perigoso pra gente. Isso não passa muita segurança para gente, a gente corre muito perigo".

Confira a galeria de imagens:

  • Olivete afirma que 40 táxis estão fora das ruas (Marina Pacheco)
  • (Marina Pacheco)
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