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Capital

"Um joga a culpa, outro nega", diz delegado sobre dupla suspeita de assassinato

Com "investigações avançadas", manutenções de prisões temporárias devem ser analisadas nos próximos dias

Dayene Paz e Bruna Marques | 27/10/2021 11:20
Márcia Catarina Lugo Ortiz posando para foto. (Foto: Arquivo Pessoal/Direto das Ruas)
Márcia Catarina Lugo Ortiz posando para foto. (Foto: Arquivo Pessoal/Direto das Ruas)

Com indícios da participação no assassinato de Marcia Catarina Lugo Ortiz, de 57 anos, a Polícia Civil deve pedir a manutenção da prisão de Carlos Fernandes Soares, de 33 anos, e Carlos Henrique Machuca, o "China". "Um se coloca na cena do crime, atribui a autoria ao outro, mas o outro nega", disse o delegado responsável pelo inquérito, João Reis Belo, titular da 6ª Delegacia de Campo Grande.

Nesta quarta-feira (27), o delegado afirmou ao Campo Grande News que aguarda "respostas via Judiciário" sobre a necessidade da manutenção das prisões temporárias e também espera pelos laudos da perícia. "Há indícios da participação dos dois no crime", disse, revelando que as investigações estão avançadas.

A polícia continua com a oitiva de testemunhas para traçar dinâmica dos fatos e apurar a motivação para o assassinato.

"Deletando provas" - Carlos Fernandes chegou a mandar apagar o DVR contendo as imagens das câmeras de segurança do lava-jato que pertence a ele, cinco dias após o corpo de Márcia ser encontrado. No dia 13 de outubro, os investigadores foram ao estabelecimento atrás dele, porque Carlos havia revelado a uma familiar da vítima que “testemunhou” o homicídio.

Conforme apurado no lava-jato, no dia 11, Carlos pediu ajuda em grupo de WhatsApp para contratar alguém que “mexe com câmera de segurança” e pouco tempo depois de enviar a mensagem, técnico teria comparecido na empresa para dar um sumiço nas imagens do equipamento.

Toyota SW4, chave da investigação, passou por perícia no pátio da 6ª DP (Delegacia de Polícia), onde homicídio é investigado. (Foto: Paulo Francis)
Toyota SW4, chave da investigação, passou por perícia no pátio da 6ª DP (Delegacia de Polícia), onde homicídio é investigado. (Foto: Paulo Francis)

Policiais do GOI também estavam atrás de um veículo, um Toyota SW4, onde a vítima embarcou na última vez em que foi vista com vida, no dia 7 de outubro. O carro foi localizado em uma tapeçaria e já havia passado por conserto na lataria. Os dois serviços foram contratados pelo suspeito.

Embora o estofado do veículo já estivesse arrumado, a equipe descobriu que o automóvel foi levado para a oficina, porque o banco estava com “furo” que, segundo as investigações, provavelmente, provocado por tiro. A SW4 passou por perícia.

Sumiço de celular – Márcia Lugo foi encontrada morta pouco mais de 12 horas após desaparecer. Com o corpo, que estava debaixo de ponte sobre o Córrego Imbirussu, na BR-262, não havia celular ou documentos, apesar de nas imagens de câmera que filmou a mulher voltando a pé para casa, na noite do dia 7, ela apareça com uma bolsa pendurada no ombro.

Câmera de segurança na rua onde Márcia morava a filmou voltando para casa na noite em que desapareceu. (Foto: Reprodução)
Câmera de segurança na rua onde Márcia morava a filmou voltando para casa na noite em que desapareceu. (Foto: Reprodução)

O celular da vítima sumiu. No dia 8, o rastreador já estava desligado e o aparelho havia sido “resetado”, uma vez que não era possível encontrar dados nem da última localização. Outro dado intrigante desvendado pela força-tarefa policial, foi que pertences de Márcia Lugo foram descartados em duas lixeiras de banheiro masculino em shopping da Capital. Duas carteiras com documentos pessoais dela e cartões de banco foram encontrados no dia 9.

Versão do investigado - Encarcerado desde o dia 15 por força de mandado de prisão temporária, Carlos sustenta, para a família da vítima e para a polícia, versão digna de filme. Ele alega que Márcia, a quem chama de “tia”, por consideração, foi morta ao defendê-lo de homem que trabalha como cobrador de agiota, o "China" – também preso e investigado como suspeito pelo crime.

O “sobrinho” relata ainda que não tinha dinheiro para pagar o agiota naquela noite e que Márcia passou a defendê-lo. A situação fugiu do controle e ele “arrancou” com a SW4, momento em que “China” disparou o tiro que atingiu a vítima na cabeça.

Carlos Henrique Machuca Santareno, o “China”, que também está preso. (Foto: Reprodução)
Carlos Henrique Machuca Santareno, o “China”, que também está preso. (Foto: Reprodução)

Carlos Fernandes diz que depois de testemunhar a execução, foi raptado por uma dupla, assistiu à desova do corpo e só não revelou nada sobre o crime a ninguém, porque estava sob constante ameaça.

Mas antes de fazer revelações para parente da vítima, o “sobrinho” tentou direcionar o foco das investigações para o marido da vítima, Guilherme Yarzon Ortiz, 66, que é policial civil aposentado.

Conforme relatado por Carlos ao Campo Grande News, na semana em que foi encontrada morta, a dona de casa estava seguindo o marido atrás de “provas” de que ele colecionava amantes. A intenção de Márcia seria expor a infidelidade do marido e anunciar a separação à família depois do aniversário dela, no dia 11 de outubro, o que poderia ser um motivo para matá-la.

Além das atitudes suspeitas, o empresário “fugiu” de todas as tentativas de contato feitas pela polícia, conforme registrado em relatório do GOI. Era interesse dos investigadores entrevistá-lo como testemunha, uma vez que Carlos foi apontado, por mais de uma pessoa que conhecia a vítima, como alguém de extrema confiança e confidente de Márcia.

A defesa do “sobrinho” argumenta que o cliente “é vítima e não um suspeito de ter cometido o crime de homicídio de Márcia Lugo”. No pedido de revogação da prisão, o advogado Matheus Machado Lacerda alega ainda que Carlos está colaborando com as investigações, uma vez que além de prestar depoimento, entregou o celular à polícia para comprovar sua versão e participou de reprodução simulada dos fatos que narrou.

Lembrou que o cliente, a quem trata como “testemunha-chave”, só não havia procurado a polícia antes, porque estava sendo ameaçado.

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