Vítima de ameaças pede medida protetiva contra colega em escola
Segundo servidora, o tratamento inadequado é com todas no trabalho, mas só ela teve coragem de denunciar
Funcionária pública de escola estadual no Bairro Lar do Trabalhador, em Campo Grande, passou quatro anos trabalhando com aquele contra quem ela pede medida protetiva para distanciamento hoje. Com medo de ameaça que recebeu dias antes de ser transferida de local de trabalho, ela busca a Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) para tentar se precaver do pior.
A mulher trabalhava como auxiliar administrativo e ameaças teriam sido feitas pelo secretário da escola, na hierarquia, chefe da servidora.
Aos 48 anos, a funcionária pública concursada tem depressão e toma remédios controlados, mas isso nunca foi motivo de desqualificação profissional ou incapacidade laboral, no entanto, para o colega de trabalho, sim.
“Ele tirava sarro também. Eu tomava remédio. Me chamava de louca. Sempre me tirando. Menosprezando na frente dos outros colegas de trabalho. Eu não entendia esses ataques dele. Ou ele me odiava muito ou não foi com a minha cara”, contou.
Ela começou na escola em 2017, e pouco tempo depois, o autor, de 46 anos, “começou a se sentir íntimo, brincando com meu nome. Sofri bullying, ele ficava falando: dá o que? E eu até levava na brincadeira”, relatou, referindo-se à chacota que o colega fazia com seu sobrenome.
Para ela, apesar de tentar dispersar, as “brincadeiras” mexeram muito com o emocional, porque ela estava passando pelo tratamento da depressão.
Segundo a servidora, o tratamento inadequado era com todas as colegas de trabalho, já que na secretaria do colégio, o ambiente era predominantemente feminino.
“Ele vinha falar com as mulheres com falta de respeito. Ele não tinha respeito nenhum com as funcionárias. Menosprezava as mulheres. Falava da vida dele, que “pegava” mulher e fazia “isso e aquilo”. A mulher era um objeto pra ele e queria mostrar pra gente que era dessa forma que ele agia com as mulheres”.
Revoltada com a situação, a vítima – que saiu de sua função na escola em agosto deste ano e passou a atuar em outro local – procurou o diretor da instituição para relatar o caso e o que recebeu foi um tapinha nas costas. “Ele (diretor) sempre apaziguava, dizia que era apenas brincadeira”.
Depois disso, ela fez uma ata relatando as atitudes do autor, mas mais uma vez, “por ser homem, o diretor defendia. Ele defendia para não dar apoio pra mim. Não me senti apoiada”, lamentou. E por isso, ela registrou o caso diretamente na SED (Secretaria de Estado de Educação), que a orientou a procurar da Delegacia da Mulher para registrar um boletim de ocorrência.
AMEAÇA – A situação que foi a “gota d’água” foi quando o colega secretário a ameaçou de morte. “Ele falou que se o prejudicassem, ele iria sumir com o corpo da pessoa. Ele falou isso quando eu ainda trabalhava na escola. Foi assim: 'se alguém quiser me prejudicar, vai se ferrar, essa pessoa não vai existir mais' e eu me senti ameaçada”.
Seguindo as recomendações, ela fez o registro na polícia e pediu medida protetiva. “Eu estava com medo dele fazer alguma coisa contra mim na escola, porque eu ainda estava trabalhando lá. Eu trabalhava à noite lá. E tinha medo dele fazer alguma coisa contra mim, porque ele estacionava o carro do lado do meu em um estacionamento escuro”.
Conforme a vítima, ainda não houve deferimento da medida e ela procurou a delegacia novamente esta semana para saber como vai ficar. Segundo ela, somente com a ida dela lá é que a delegacia vai passar o caso à vara responsável. Por não ser violência doméstica ou familiar contra a mulher, não incide na Lei Maria da Penha.
Para ela, o medo é que de várias mulheres que passaram pelo que ela passou na escola, apenas ela teve coragem de buscar a Justiça.
“Meu receio é que a secretaria dê uma advertência ou abra uma sindicância e ele vir atrás de mim tirar satisfação. Querer saber porque eu agi dessa forma. Aí que eu tenho medo da ameaça que ele me fez”.
Em nota, a SED informou estar “ciente do ocorrido e já fez os atendimentos necessários para averiguação da conduta dos servidores envolvidos, bem como a alteração da lotação da servidora para outra unidade escolar da Rede Estadual de Ensino, conforme solicitado à Superintendência de Gestão de Pessoas da pasta”.