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Capital

“Você nunca imagina que vá acontecer dentro de casa”, diz mãe de menina abusada

Paula Maciulevicius | 08/09/2011 18:58

Aos prantos, mãe de menina de 12 anos, uma das abusadas por Gustavo Frederico de Miranda, conta que havia proibido filha de ver acusado

“É muito difícil, você espera de qualquer pessoa, menos de quem você estendeu a mão”, desabafa mãe. (Foto: João Garrigó)
“É muito difícil, você espera de qualquer pessoa, menos de quem você estendeu a mão”, desabafa mãe. (Foto: João Garrigó)

“A gente vê isso na TV todo dia, eu conversava com ela. Você nunca imagina que possa acontecer dentro da casa da gente”, desabafa a auxiliar de administração, mãe de uma das meninas de 12 anos, abusadas pelo técnico de informática, Gustavo Frederico de Miranda, de 34 anos.

O olhar da jovem mãe é cabisbaixo, de quem carrega a culpa de que poderia ter feito mais para evitar que a filha fosse abusada. Ao receber o Campo Grande News as lágrimas correm no rosto e a voz chega a falhar.

O sentimento que passa no coração apertado de uma mãe que soube, nesta quarta-feira da violência sexual que a menina sofria, é indescritível. “Não dá para definir o que eu sinto. É dolorido. Uma mistura de dor e indignação e a sensação de incompetência como mãe. Parece que tudo o que eu fiz pela minha filha foi em vão”, conta.

O autor dos abusos era conhecido da família, atraía as meninas com idas ao shopping, sorvetes e até festas na igreja. E estava tentando consumar o estupro com a menina de 12 anos, desde janeiro.

O caso só veio à tona depois que Gustavo pegou a menina na frente da escola, na terça-feira. A direção do colégio entrou em contato com a mãe para informar que a menina não tinha ido a aula. “Como ela não era acostumada a faltar, a diretora me avisou. Eu comecei a ligar e ela não atendia, aí mandei mensagem dizendo que a Polícia estava atrás dela”.

Na sequência, a mãe conta que a filha mostrou a mensagem para Gustavo, dizendo que era a diretora da escola. O técnico então foi até o colégio e se passou por tio da menina, tentando justificar o porquê de ela não estar em aula.

A mãe que tinha nos planos de ir à delegacia nesta quinta-feira teve a notícia no dia anterior, pela mãe de outra menina vítima de abusos, de toda história que se passava.

As horas seguintes foram de angústia para a auxiliar de administração. Ela e esta outra mãe foram até o batalhão da Polícia Militar do bairro Coophasul, que acompanharam as mulheres até a casa de Gustavo.

“Quando ele tentou consumar o estupro, a mulher dele estava junto. Se não fizesse o que ela mandava, ela falava que ia bater na minha filha”, diz aos prantos. (Foto: João Garrifó)
“Quando ele tentou consumar o estupro, a mulher dele estava junto. Se não fizesse o que ela mandava, ela falava que ia bater na minha filha”, diz aos prantos. (Foto: João Garrifó)

“Cheguei lá ele não estava. Eu perguntei na casa ao lado, que é do irmão dele e me disseram que ele estava no Hospital, porque a mulher tinha ganho bebê”.

“Eu queria uma explicação. Quando eu liguei para ele, o Gustavo disse que estava no posto de combustíveis na Tamandaré. A Polícia foi até lá, ele até relutou, queria ir no carro dele. Aí os policiais disseram, não você já enrolou demais, vai para a delegacia agora”, conta.

A mãe completa que Gustavo ainda tentou impedir que ela registrasse a queixa. “Ele achou que fosse conseguir, chegou a pedir para parar com aquilo, que não era verdade, que jamais faria um negócio desses”.

A história tem detalhes ainda mais doentios. Segundo o delegado Divino Mendonça, que registrou o caso, a esposa que estava grávida, presenciava tudo. Ela passava a mão nas meninas e pedia que elas tocassem no órgão genital do marido.

“É muito difícil, você espera de qualquer pessoa, menos de quem você estendeu a mão”, acrescenta a mãe.

A mulher que parece carregar nas costas o peso do mundo relata que a esposa de Gustavo foi vítima de violência doméstica pelo ex-marido e encontrou na família da auxiliar de administração, o refúgio durante oito meses.

Os crimes de abuso contra quatro meninas aconteciam na própria casa do acusado, no bairro Vila Neuza. (Foto: João Garrigó)
Os crimes de abuso contra quatro meninas aconteciam na própria casa do acusado, no bairro Vila Neuza. (Foto: João Garrigó)

“Ela era vizinha aqui de frente. Se separou e não tinha onde ficar, ela era espancada pelo ex-marido e como nós ajudamos a denunciar, a delegada pediu que eu acolhesse por uma semana”.

Os sete dias se tornaram oito meses que a mãe descreve como de tempos difíceis. Segundo a mãe da menina, a vizinha tinha gênio forte e se ofendia por qualquer coisa que falassem. Antes de completar um ano, a família pediu que ela se mudasse.

O contato foi retomado há três anos, quando ela apresentou Gustavo como o atual marido. “Aí ele passou a vir aqui sempre, mas só vinha ele”.

O fato do técnico de informática só abordar meninas, passou a parecer muito estranho para a mãe. “Ele falava de levar no shopping, para tomar sorvete e começou a vir nas horas em que eu não estava em casa. Levava ela e depois trazia rapidinho”.

Há dois anos a auxiliar de administração chegou a proibir que a filha visse Gustavo. A regra não colocou limites para ela, que vivia sob ameaças.

De acordo com a mãe, ele falava para ela que ia destruir a família dela, matar todo mundo. As ameaças não vinham só de Gustavo, a esposa também fazia intimidações. “Quando ele tentou consumar o estupro ela estava junto. Se não fizesse o que ela mandava, ela falava que ia bater na minha filha”.

A menina que não quis contar detalhes nem a trama toda que viveu na frente da mãe está desde ontem de cama. “Ela não come, não dorme, não conversa”, diz.

Depois de todo episódio vir ao conhecimento da família, a mãe relata que agora percebe as mudanças no comportamento da filha. “O rendimento dela tinha caído um pouco, mas ela continuava a brincar de boneca”.

A inocência da filha que trocou as brincadeiras de boneca pelo trauma sexual dói para a mãe. “Eu perguntava se ele fazia ou tentava alguma coisa, mas ela sempre me respondia que ele nunca tentou nada”.

“Quem está de fora vai julgar, mas eu sei que eu conversava com ela, a avó, todo mundo falava”, desabafa chorando.

A filha da auxiliar de administração conhecia duas das outras vítimas por serem vizinhas de bairro e morarem bem próximas. A quarta menina, destas duas, é vizinha de Gustavo.

“Ele levava elas para tomar sorvete e perguntava se elas ainda eram inocentes e se aceitariam que ele ensinasse elas a fazerem”, conta a mãe aos prantos.

Caso - O técnico de informática Gustavo Frederico de Miranda, 34 anos, foi apresentado nesta manhã, depois de ser preso acusado de abusar sexualmente de quatro meninas, três de 12 anos e uma de 10 anos, em Campo Grande.

“Ele perguntava se elas ainda eram inocentes e se aceitariam que ele ensinasse elas a fazerem”, conta mãe. (Foto: Paula Vitorino)
“Ele perguntava se elas ainda eram inocentes e se aceitariam que ele ensinasse elas a fazerem”, conta mãe. (Foto: Paula Vitorino)

De acordo com o delegado, a menina de 10 anos diz que era colocada em frente ao computador e tinha de repetir dizeres obscenos. Ela afirma que havia uma câmera no local, mas não soube dizer se o material era gravado ou exibido.

O delegado diz que nenhuma câmera foi encontrada na casa do acusado, mas existe a suspeita de que ele utilizava webcam do computador. No local, foram apreendidos 2 computadores, vários pen drives, CDs e DVDs. O conteúdo completo ainda será analisado pela perícia, mas em princípio não foi encontrado nenhum material pornográfico.

Os crimes de abuso aconteciam na própria casa do acusado, no bairro Vila Neuza. A menina de 12 anos, que fez sexo, diz que era abusada desde janeiro deste ano. Já a garota de 10 anos afirma que era molestada desde os 6 anos.

Ele foi indiciado por estupro de vulnerável – menor de 14 anos – as quatro meninas. O caso será investigado pela DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), onde ele permanecerá preso até decisão judicial.

As meninas foram submetidas a corpo de delito, mas ainda devem passar por psicólogos e outros exames para averiguar a presença de esperma. A perícia constatou que a menina de 12 anos, que manteve relação sexual, tem o hímen complacente, o que segundo o delegado, possibilita que a garota tenha praticado sexo anteriormente, mas já tenha se reconstituído.

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