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Cidades

Hidratação em pacientes deveria começar na espera, diz infectologista

Flávia Lima | 23/12/2015 10:49
Tendas destinadas a hidratação, montadas em UPAs ficaram ociosas por duas semanas. (Foto:Fernando Antunes)
Tendas destinadas a hidratação, montadas em UPAs ficaram ociosas por duas semanas. (Foto:Fernando Antunes)

A demora no atendimento de pacientes que chegam às unidades de saúde com sintomas de dengue, zika vírus e febre chikungunya é visto por médicos infectologistas como um dos principais problemas enfrentado pela população durante a epidemia de dengue, que se agravou nos últimos dois meses.

Apesar de não ser uma doença que leva a morte em poucas horas, como a meningite, a hidratação é fundamental nas primeiras horas em que a pessoa começa a demonstrar os sintomas, segundo explica o infectologista Rivaldo Venâncio. "Todo ano é o mesmo problema que o poder público não consegue resolver", ressalta.

Segundo ele, o ideal seria um sistema de atendimento baseado no que a rede pública chama de "acolhimento", ou seja, tão logo a pessoa entre em uma unidade de saúde, ela deveria já ser recebida por um profissional que a orientasse a ingerir água, dependendo da gravidade do estado e conversasse com o paciente, buscando aliviar o nível de estresse. "O problema é que na maioria dos postos que visito nem filtro de água para a população tem", diz.

Na opinião do infectologista, esse atendimento prévio, baseado na humanização, deveria acontecer mesmo antes da classificação de risco.

Ocorre que, a demanda de pessoas com sintomas da doença, aliada aos demais pacientes que procuram os postos de saúde por outros motivos tem impossibilitado a agilidade até mesmo na classificação de risco. Conforme apurado pelo Campo Grande News durante visitas às UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) nas últimas duas semanas, a população tem esperado, em média, cinco horas pela avaliação médica.

Em alguns momentos de pico, até a avaliação inicial, feita por um profissional da equipe de enfermagem é demorada. No fim de semana, quando as escalas de profissionais são reduzidas, a situação se torna mais crítica.

No domingo, por exemplo, durante visita à UPA do Bairro Vila Almeida, o enfermeiro responsável pelo plantão enfatizou que as pessoas que chegavam com sintomas muito fortes eram classificadas como atendimento prioritário, mas o número reduzido de profissionais dificulta a rapidez.

Até mesmo para tomar a hidratação venosa era necessário esperar por mais de uma hora, dependendo do horário de chegada na unidade. Um dos recursos para aliviar o fluxo são as tendas do Exército, montada nas UPAs Vila Almeida e Universitário 2, que tem justamente a proposta de garantir a hidratação dos pacientes com sintomas de dengue.

Focos de dengue são encontrados por agentes em água parada de residências. (Foto: Marcos Ermínio)
Focos de dengue são encontrados por agentes em água parada de residências. (Foto: Marcos Ermínio)

No entanto, as barracas, mesmo montadas há duas semanas, só começaram a funcionar nesta segunda-feira (21) devido a problemas técnicos, como ar condicionado com defeito e falta de banheiros químicos. Mas o principal problema que atravancou o atendimento nas tendas, foi a falta de profissionais de enfermagem para atender os pacientes.

"As tendas são um recurso importante, mas precisam funcionar, até porque uma pessoa que apresenta sintomas de dengue e já tem algum outro problema precisa ser atendido rápido. A hidratação precoce é que vai tornar o caso menos grave", lembra Rivaldo.

Todo esse quadro de falta de recursos humanos e estrutura também é criticado pelo infectologista Maurício Pompilio. "Não adianta criar uma estrutura se não terá como colocá-la em funcionamento. Ficar cinco horas aguardando por um atendimento pode agravar seriamente o quadro do paciente", destaca.

O médico também lembra que é fundamental a pessoa começar a se hidratar em casa quando começa a manifestar os sintomas, mas afirma que a rede pública precisa se organizar de forma que o paciente não precise esperar, em alguns casos, até mais de cinco horas, pela avaliação médica.

Pompilio também destaca o atraso no envio de recursos pelo governo federal, o que inviabiliza a utilização de leitos. "Alguns hospitais ampliam as vagas, mas não há dinheiro para contratação de profissionais ou medicamentos", afirma.

Conscientização - Apesar das deficiências do poder público, os dois médicos são unânimes em lembrar que é impossível obter resultados positivos sem a união entre as ações de combate e a mudança de postura da população. "O governo usa as ferramentas que possuí, mas não dá para ter a ilusão de que o problema será resolvido sem o comprometimento da sociedade", destaca Rivaldo.

Tanto Rivaldo quanto Pompílio afirmam que é preciso rever a forma como o meio ambiente vem sendo tratado. Nesse aspecto, Rivaldo é mais crítico e diz que geralmente quando o governo lança um projeto habitacional, nem sempre tem um plano adequado de coleta de resíduos sólidos e distribuição de água.

O médico apoia a aplicação de multas para quem não executa a limpeza em seus terrenos ou propriedade, mas lembra que poder público também deve fazer sua parte. "Será que quem está multando fez a sua parte?", questiona.

Para os dois infectologistas, o investimento em educação ambiental é a garantia de um futuro longe de epidemias. Rivaldo conta que há dois anoso Japão sofreu com uma epidemia de dengue, que foi erradicada em apenas dois meses.

"Ninguém está livre do mosquito. O problema é a forma de combate, que deve ser aliada a mudança de postura e respeito ao meio ambiente. Enquanto não cair a ficha de que o maior inimigo é o nosso comportamento e não mosquito, sempre teremos epidemias. Temos que estimular o crescimento sustentável das cidades. O mosquito não surgiu do nada", conclui.

Agentes de saúde fiscalizam as casas abandonadas. (Foto: Marcos Ermínio)
Agentes de saúde fiscalizam as casas abandonadas. (Foto: Marcos Ermínio)
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