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A caminho do Pantanal, BR-262 é desafio aos condutores e risco à vida em MS

De Miranda a Corumbá, não faltam ondulações, buracos e trechos trincados ao longo da pista

Por Silvia Frias | 02/02/2024 12:35
BR-262, perto da ponte sobre o Rio Paraguai, em Corumbá (Foto: Marcos Maluf)
BR-262, perto da ponte sobre o Rio Paraguai, em Corumbá (Foto: Marcos Maluf)

A BR-262, caminho para um dos principais destinos turísticos de Mato Grosso do Sul, é desafio para qualquer condutor. Além de acarretar em possíveis danos aos veículos, a estrada irregular, com trechos trincados, cheio de remendos, buracos e muitas ondulações, representa risco de acidentes e à vida silvestre no Pantanal.

A rodovia corta os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, com extensão total de 2.295,40 quilômetros. Aqui no Estado, de um lado, se estende até a divisa com São Paulo e, do outro, até a fronteira do Brasil com a Bolívia. Segundo dados da PRF (Polícia Rodoviária Federal), em média, cerca de 3,8 mil veículos passam diariamente pela rodovia.

Ondulações na pista, no sentido Miranda a Corumbá, tornam a travessia mais difícil (Foto: Marcos Maluf)
Ondulações na pista, no sentido Miranda a Corumbá, tornam a travessia mais difícil (Foto: Marcos Maluf)

O Campo Grande News percorreu a BR-262, saindo de Campo Grande até Corumbá. A rodovia apresenta irregularidades em toda a extensão, mas a situação se torna crítica a partir de Miranda, a 208 quilômetros da Capital.

Os remendos, já antigos, começam a se abrir. Buracos se formam sobre a camada mais recente do asfalto, revelando a pavimentação antiga por baixo que igualmente não suportou a passagem dos veículos. A pista está cheia de pedaços "trincados", problema que começou com fissura e termina, em futuro próximo, com abertura de mais um buraco. Em alguns trechos, o acostamento é estreito, próximo de terreno em declive, dando pouco espaço para eventual parada de emergência.

Trechos trincados mostram a deterioração do asfalto que antecede a abertura dos buracos (Foto: Marcos Maluf)
Trechos trincados mostram a deterioração do asfalto que antecede a abertura dos buracos (Foto: Marcos Maluf)

Na pista ainda se formam “montes de asfalto”: onde tinha remendo mais recente, o peso das carretas, muitas delas carregadas de minério, fertilizantes ou de grãos, empurra o material para as beiradas ou para o meio da via, sobre a faixa de sinalização. Os sulcos se abrem, deixando a rodovia ainda mais irregular. Próximo de Corumbá, o problema se agrava, com ondulações que dificultam a travessia.

“Essa estrada está um lixo”, desabafa o caminhoneiro Jeferson Alves Dias, 50 anos, 30 anos de estrada, que estava parado há 2 dias, perto do posto de fiscalização Lampião Aceso. Desta vez, o problema na carreta não foi decorrente das condições da BR-262, mas se recorda que já ficou parado por conta da rodovia. “Já quebrei rolamento nessa BR, nunca foi boa, sempre foi largada, não tem apoio no caminho”, disse. “Quem quebrar, tá lascado”.

Jeferson passa pela rodovia há 2 anos, a trabalho: "está um lixo", reclama (Foto: Marcos Maluf)
Jeferson passa pela rodovia há 2 anos, a trabalho: "está um lixo", reclama (Foto: Marcos Maluf)

Jonathan Barbosa da Silva, 30 anos, passou pela segunda vez na rodovia para buscar fertilizante que será entregue em Mato Grosso. “Nossa, tá péssima, de Miranda para cá está tenso”, disse o rapaz, há nove anos na profissão. Ele conta que problema de suspensão é recorrente entre os colegas. Na lista, ainda tem avarias nos pneus, danos na carroceria do caminhão e quebras no eixo de direção. “Fora a carga que vai caindo pelo caminho”, conta.

Além do problema nos veículos, Jonathan também cita as dores no corpo para poder segurar a carreta “no braço”, por conta das ondulações na pista. “Força demais a carreta e a gente tem que ir meio na onda, se deixar o corpo duro, acaba com a lombar”.

Sulcos, buracos e os "montes de asfalto" que se formam com peso dos veículos (Foto: Marcos Maluf)
Sulcos, buracos e os "montes de asfalto" que se formam com peso dos veículos (Foto: Marcos Maluf)

A ondulação citada por ele é mais evidente próximo das empresas de mineração, onde os caminhoneiros transitam para acessar as empresas e utilizar a BR-262 e as rotas vicinais. Se indo para Corumbá já é um problema, no trecho de volta a Campo Grande, fica pior. As "montanhas" ficaram maiores por conta da passagem das carretas já carregadas ao destino de entrega.

“É perigoso até tombar”, disse Vagner Souza da Costa, 31 anos. Ele viajava em companhia da esposa, Sileide Soares Neves, 40 anos, passando pela primeira vez na rodovia. "É muita trepidação, asfalta deteriorado, ruim demais, dá até dor na coluna”.

Remendos são vistos em toda a extensão da rodovia (Foto: Marcos Maluf)
Remendos são vistos em toda a extensão da rodovia (Foto: Marcos Maluf)

Durante o trajeto, o Campo Grande News encontrou equipes que faziam a limpeza do matagal no acostamento, outra de pintura das pontes ao longo da rodovia e apenas uma que fazia o recapeamento do asfalto, em trecho de pouco mais de 200 metros. Também flagrou dois funcionários do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) com balança móvel, testando o peso das carretas e treminhões.

Além do asfalto deteriorado, outro desafio é a travessia da ponte sobre o Rio Paraguai. Desde março do ano passado, está no sistema pare e siga, por conta dos danos na estrutura. Na parada, à espera de cruzar a ponte, chama atenção o desnível, o asfalto gasto e os pedaços de borracha e tapumes no chão, usados para ajudar na travessia dos veículos.

Agora, para a recuperação das lajes em balanço, estão previstas pelo menos cinco interdições no trânsito para que dê o tempo de cura do concreto. O pedágio está suspenso desde setembro de 2022, após o fim do contrato com a concessionária Porto Morrinho.

Além da pista deteriorada, caminhoneiros reclamam de acostamento estreito (Foto: Marcos Maluf)
Além da pista deteriorada, caminhoneiros reclamam de acostamento estreito (Foto: Marcos Maluf)

Outro problema é o atropelamento de animais em toda a extensão. Os carcarás se arriscam em busca das pequenas carcaças na pista, que nem chegaram a ser retiradas. No acostamento, a equipe encontrou quati e jacaré, mortos na tentativa da travessia.

De maio a dezembro do ano passado, segundo o Projeto Bandeiras e Rodovias, foram 1,4 mil mortes de animais por atropelamento, no trecho de Campo Grande até a ponte do Rio Paraguai.

No “atropelômetro”, criado pelo programa Estrada Viva do governo estadual, a concentração de mortes de animais fica na Estrada Parque, na MS-450, próxima da rodovia federal. Em entrevista ao Campo Grande News, em 2023, o coordenador do Projeto Bandeiras e Rodovias, Arnaud Desbiez, chamou a BR-262 de “estrada da morte”.

Jacaré atropelado se soma à crescente estatística de animais mortos na rodovia (Foto: Marcos Maluf)
Jacaré atropelado se soma à crescente estatística de animais mortos na rodovia (Foto: Marcos Maluf)

“Vejo como positiva a iniciativa do governo, pois mostra que a gestão está começando a se preocupar com o tema. Não são só animais que morrem, mas pessoas. Isso é um problema de saúde pública. Por isso temos que continuar encorajando a ter medidas mitigadores”, disse o pesquisador, à época. No ano passado, até novembro, foram registrados 341 acidentes e 31 mortes na estrada federal.

O Governo do Estado pediu à União que a BR-262 seja repassada para responsabilidade estadual, porém, somente do trecho de Campo Grande a Três Lagoas, importante rota econômica de escoamento da safra, projeto que inclui, ainda, a BR-267 e MS-040. A ideia é, após receber as rodovias federais da União, abrir concessão para iniciativa privada. O estudo ainda está em andamento.

No meio da pista, asfalto se acumula, um dos vários problemas na travessia (Foto: Marcos Maluf)
No meio da pista, asfalto se acumula, um dos vários problemas na travessia (Foto: Marcos Maluf)

A reportagem entrou em contato com o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) sobre projeto de recuperação da rodovia. A informação repassada é que o departamento elaborou projeto executivo para restaurar o trecho que vai da ponte sobre o Rio Paraguai até a região do Buraco das Piranhas. A licitação deve ocorrer no primeiro semestre deste ano.

Sobre o pedido do governo estadual, o Dnit informou que o assunto “está em tratativas” com o Ministério dos Transportes.

Sistema pare e siga implantado sobre a ponte do Rio Paraguai, também com asfalto deteriorado (Foto: Marcos Maluf)
Sistema pare e siga implantado sobre a ponte do Rio Paraguai, também com asfalto deteriorado (Foto: Marcos Maluf)

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