Apesar de duas mortes, agro evita discussão sobre conflito em Iguatemi
Entidades e lideranças do setor aguardam mais informações do caso
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Entidades do agronegócio de Mato Grosso do Sul não se manifestaram sobre o conflito em Iguatemi, que resultou em duas mortes, incluindo um indígena guarani-kaiowá. O ataque ocorreu durante uma retomada de terras, com a Polícia Federal investigando as circunstâncias. A tensão entre indígenas e produtores é histórica, com pendências administrativas em 148 terras indígenas no estado.
Mesmo com duas mortes contabilizadas pela Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), as entidades e lideranças do agronegócio de Mato Grosso do Sul não entraram na discussão sobre o conflito na comunidade de Pyelito Kuê, em Iguatemi, cidade a 412 quilômetros da Capital.
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Ao Campo Grande News, lamentaram a letalidade do confronto, afirmaram que acompanham o caso, mas só irão se manifestar após a conclusão da investigação policial.
Segundo o MPI (Ministério dos Povos Indígenas) e a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), o indígena Guarani-Kaiowá Vicente Fernandes, de 36 anos, foi morto com um tiro na nuca após um ataque de pistoleiros que atuam na região na madrugada do último domingo (16).
A Aty Guasu, principal organização política dos povos Guarani e Kaiowá, afirma que o conflito ocorreu durante a retomada na área da Fazenda Cachoeira, onde mais de 40 indígenas estavam acampados. Segundo os indígenas, dos 12 barracos erguidos, 10 foram incendiados logo após a invasão. Um vídeo divulgado pela entidade mostra uma indígena tentando se abrigar enquanto tiros são ouvidos ao fundo.
A segunda morte, segundo a Sejusp, é do funcionário de uma fazenda da região, Lucas Fernando da Silva. Em nota, a PF (Polícia Federal) afirma que investiga o assassinato do indígena e se a morte do funcionário está relacionada ao conflito.
O presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Marcelo Bumblai, afirma que “o Poder Judiciário está ditando o andamento da situação” e que, diante dos conflitos por terras, “os dois lados ficam desamparados”. A Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), presidida por Marcelo Bertoni, também acompanha o caso, mas não se manifestou.
Histórico – Em 2013, a Funai havia aprovado as conclusões do trabalho de identificação da Terra Indígena Iguatemipeguá I, que abrange os tekoha (terras tradicionais) Mbarakay e Pyelito Kuê. A área reivindicada tem 41 mil hectares e é denominada pelos indígenas de Pyelito Kuê. Os guarani-kaiowá moram em uma aldeia próxima, de 90 hectares. Na época, conforme publicação do governo federal, o território era ocupado por 1,8 mil indígenas.
Após a identificação da área, o processo ainda não foi finalizado, sendo motivo de constante tensão entre indígenas e produtores rurais. Em junho, a Funai atualizou a composição do Grupo de Trabalho responsável por estudos complementares de identificação e delimitação dos territórios Iguatemipeguá II e III, que abrangem quatro municípios da região sul.
Em novembro de 2023, os guarani-kaiowá ocuparam parte da área. Naquele período, uma equipe de documentaristas que registrava a situação vivida pelos indígenas foi até Iguatemi e acabou sendo agredida por homens que seriam seguranças dos produtores da área reivindicada.
Relatório – Mato Grosso do Sul possui 148 terras indígenas com alguma pendência administrativa, conforme relatório divulgado nesta segunda-feira (28) pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário). O dossiê mostra que o Estado é o segundo do país com maior número de pendências, atrás apenas do Amazonas, que soma 222.
Segundo o documento, 112 terras ainda não receberam qualquer providência, 17 estão a ser identificadas, quatro já foram identificadas, oito estão declaradas e uma está sob portaria de restrição. As terras homologadas ficam nos municípios de Paranhos, com os povos Guarani-Kaiowá e Guarani-Nhandeva, além de Juti e Antônio João, também com presença Guarani-Kaiowá.
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