DNIT quer despejar Barba, personagem que vive há 23 anos às margens da BR-262
Ele é famoso por morar em cabana no Buraco das Piranhas, ponto de apoio para turistas
RESUMO
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Osmar Paulo de Lima, conhecido como Barba, de 72 anos, enfrenta ordem de despejo do DNIT após viver por duas décadas às margens da BR-262, no Pantanal sul-mato-grossense. O idoso, que sobrevive com um salário mínimo de aposentadoria, estabeleceu-se no local em 2002, inicialmente como guarda durante obras de pavimentação. O caso mobilizou o deputado estadual Paulo Duarte (PT), que protocolou pedido ao DNIT para extensão do prazo de retirada e busca de alternativa habitacional. Barba tornou-se referência local, auxiliando turistas e caminhoneiros, além de manter a limpeza da área, que está em faixa de domínio federal.
Levando uma vida tranquila no Pantanal de Mato Grosso do Sul, um homem conhecido como Barba, de 72 anos, recebeu uma ordem de despejo em ação movida pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). Ele tem 120 dias para deixar a pequena cabana onde vive há cerca de duas décadas.
“Em 2002 fui acolhido aqui por uma empresa que veio fazer o asfalto. Em 2010 foi feita a rotatória. Eu não invadi a União, foi a União que me invadiu. Não tenho nada, querem que eu pague multa. Eu não tenho do que sobreviver”, desabafou, emocionado, Osmar Paulo de Lima, o Barba.
Em entrevista ao Campo Grande News, ele contou detalhes de sua trajetória. Chegou ao Buraco das Piranhas em 28 de setembro de 2002, a convite de amigos que fez na Polícia Militar Ambiental (PMA). Logo soube da obra de pavimentação da estrada e conseguiu emprego como guarda. Mesmo após o fim do trabalho, em 2006, decidiu permanecer no local. Em 2010, o DNIT notificou-o sobre a construção de uma rotatória, concluída em 2013. Mesmo assim, sua moradia permaneceu intacta.
Barba afirma que nunca foi ouvido pela Justiça, nem visitado pela Defensoria Pública. “Recentemente, a defensora me mandou mensagem pelo WhatsApp dizendo que tenho 120 dias para sair daqui”, contou, lembrando que tentou contato presencial em Corumbá, sem sucesso.
Cabana e rotina - Aos 72 anos, vive sozinho e sobrevive com um salário mínimo de aposentadoria pelo LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social), conquistado após se aposentar aos 59 anos por problemas na coluna.
A moradia simples, cercada por plantas, se tornou ponto de referência para turistas e caminhoneiros que visitam a BR-262. Barba é conhecido por acolher visitantes, oferecer café, dar informações sobre a região e ajudar na preservação do entorno. Mantém o local limpo, recolhendo lixo, que é retirado semanalmente pela Prefeitura de Corumbá.
Entre suas rotinas, cuida de plantas, três cachorros e uma gata com cinco filhotes. “Estou aqui há 23 anos catando lixo, cuidando de tudo. Isso aqui é tudo na minha vida. Conheço todo mundo, todo mundo me respeita. Tenho minhas plantas, meus bichos e minha paz”, afirma.
Natural de Natal (RN), antes de chegar ao Pantanal, passou por São Paulo, onde trabalhou como mecânico. Com problemas na coluna, mudou-se com a família para a região do Salobra, no Pantanal de Miranda, trabalhando como pescador. Após a separação, foi para o Passo da Lontra, também atuando na pesca, e perdeu contato com a ex-esposa e dois filhos que moram em Mato Grosso do Sul, além de outros quatro de relacionamentos anteriores.
Mobilização política - A situação de Barba provocou reação do deputado estadual Paulo Duarte (PSB). O DNIT, em Brasília, justifica a ação de despejo alegando que a casa está em faixa de domínio federal e a área precisa ser desocupada. Para o parlamentar, a medida é desumana e desconectada da realidade pantaneira.
“Ali é uma BR, uma faixa de domínio federal, mas o que falta é sensibilidade. O DNIT quer tirar um senhor de 72 anos que vive ali há mais de 20 anos, como se fosse um objeto para ser descartado”, criticou Duarte. O deputado destacou que o local é sinalizado, seguro e não oferece riscos aos motoristas, e que Barba cumpre funções que deveriam ser do poder público.
“Nunca houve acidente ali. O Barba sempre ajudou os turistas e cuidou do espaço, enquanto o governo federal jamais investiu um centavo naquele ponto. Poderia ser um receptivo turístico, mas não há projeto algum, só a ordem de despejo”, afirmou.
Paulo Duarte informou que protocolou nesta terça-feira (21) um pedido oficial ao DNIT para ampliar o prazo de retirada e garantir uma alternativa de moradia ao idoso. Ele também apresentou o caso na tribuna da Assembleia Legislativa. “Conheço o Barba pessoalmente. Não é justo tratar um ser humano como lixo”, concluiu Duarte.
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