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Interior

Execução de Rafaat pode ter sido ordem de concorrente preso por tráfico

Paulo Yafusso | 17/06/2016 17:34
Hammer blindada de Jorge Rafaat foi atingido por rajada de tiros de metralhadora .50 (Foto: Direto das Ruas)
Hammer blindada de Jorge Rafaat foi atingido por rajada de tiros de metralhadora .50 (Foto: Direto das Ruas)

Uma das principais linhas de investigação da polícia paraguaia para a execução do empresário Jorge Rafaat Toumani, ocorrida na quarta-feira (15), seria uma desavença com Jarvis Chimenes Pavão, que está preso desde 2009 em Assunção e mesmo assim teria ordenado a ação. Uma das evidências é que o utilitário usado no ataque e onde foi instalada a metralhadora .50, arma de poder antiaéreo que perfurou a blindagem do Hummer de Rafaat, foi encontrada abandonada em uma obra que seria de Pavão.

O receio é que agora a fronteira fique órfã, entregue às facções criminosas do Brasil, que poderão assumir o controle do crime dos dois lados da fronteira.

Fonte ligada a área da segurança do Paraguai ouvida pelo Campo Grande News disse, nesta sexta-feira (17), que as investigações que estão sendo feitas pela Polícia Nacional do Paraguai com o apoio de outras instituições de segurança, indicam que Jarvis Pavão teria contratado o CV (Comando Vermelho) para eliminar Rafaat.

Segundo o que foi apurado, Jorge Rafaat mantinha o controle das atividades na fronteira e todas as organizações criminosas só podiam agir com a sua autorização, um sistema semelhante ao adotado pela milícia nos morros do Rio de Janeiro, por exemplo. Quem descumpria as regras, era eliminado.

Em entrevista ao jornal paraguaio ABC Color, a advogada de Jarvis Pavão, Laura Casuso, negou que ele tenha ligações com facções criminosas como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e disse que o cliente mantinha bom relacionamento com Jorge Rafaat. Ela também desmentiu a informação de que um dos filhos de Jarvis Pavão tenha sido assassinado, o que teria provocado a guerra entre os dois grupos.

Jarvis Pavão é apontado pelas polícias de vários países como fornecedor de armas para as FARC (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia) e para o Comando Vermelho, de Fernandinho Beira-Mar. A polícia paraguaia não sabe ainda qual o motivo da desavença entre Rafaat e Pavão.

Ação planejada – A ação que terminou na execução de Jorge Rafaat na noite da última quarta-feira (15) foi bem planejada e pelas imagens da câmera da segurança de um dos prédios da rua onde ocorreu o crime, tudo indica que os rivais estudaram muito cada passo do alvo. No entendimento da polícia, a própria vítima teria facilitado a sua execução, já que fazia sempre o mesmo caminho e no mesmo horário.

Execução de Rafaat pode ter sido ordem de concorrente preso por tráfico
Execução de Rafaat pode ter sido ordem de concorrente preso por tráfico

Outro detalhe que indica que tudo foi milimetricamente pensado. No caminho de casa, Jorge Rafaat costuma ultrapassar o carro da frente nos cruzamentos, por não ter paciência para esperar. Como de costume, era ele que estava ao volante da caminhonete Hummer blindada, no dia em que foi morto.

Outra situação que intriga os investigadores envolvidos no caso. Geralmente a Hummer dirigida por Jorge Rafaat tinha uma equipe de segurança em uma caminhonete à frente e outra atras. Nas imagens da câmera de segurança de um dos prédios próximo ao local da emboscada, não se vê os “batedores”.

O vídeo mostra também como os criminosos estudaram bem o comportamento do “chefão” da fronteira. No cruzamento, a SUV onde estava o atirador Sérgio Lima dos Santos e a sua potente metralhadora Brawning .50, se posiciona no meio da pista, dando espaço para a passagem da Hummer pelo lado esquerdo. Quando Rafaat se prepara para a ultrapassagem, a SUV avança e começam os disparos.

Perícia feita na Hummer mostra que os primeiros disparos foram na porta do lado do motorista. O vidro, que é a prova de tiros, é arrancado com o poder de fogo da metralhadora. Já com a visão do motorista, Sérgio dos Santos concentra fogo sobre Rafaat que morre ali mesmo.

Já fora do alcance da câmera de segurança do prédio, a SUV sai em velocidade, mas sob fogo intenso dos seguranças do “chefão” da fronteira. Sérgio da Costa, que usava capacete balístico (que protege de tiros) é baleado e seus amigos o resgatam e o levam para o hospital de Pedro Juan Caballero, onde ocorreu o crime.

Por conta da gravidade dos ferimentos, ele é transferido para hospital de Assunção, capital do Paraguai, onde está sob escolta. O motorista do carro usado por ele fugiu. A Polícia Nacional do Paraguai prendeu apenas os oito seguranças de Rafaat que ficaram feridos.

Um detalhe leva os policiais da investigação a imaginar o motivo de Sérgio da Costa ser baleado. No carro, ele levava quatro cintas de munição com 100 tiros cada. Ele praticamente descarregou uma delas no carro de Rafaat. Foram 99 tiros. O último teria engasgado e o atirador não teve tempo de recarregar a metralhadora. As fotos que se espalharam pelas redes sociais, mostra que na SUV, ao lado da metralhadora, estão as outras cintas de munição e o capacete balístico.

Preocupação – A morte de Jorge Rafaat é agora motivo de preocupação tanto dos cidadãos como dos integrantes das forças de segurança da fronteira. É que o empresário, que tinha loja de venda de pneus e teria envolvimento com tráfico de drogas, tinha o comando das ações criminosas entre o Brasil e o Paraguai, e ele não permitia que se matasse policiais, por exemplo.

O medo é que, sem um um comando, a fronteira fique aberta às facções criminosas do Brasil, como o PCC e o CV, que tem modo de atuação violenta, com ataques e explosões a bancos e atentados a unidades militares.

E a preocupação não é só para quem vive na fronteira entre o Brasil e o Paraguai. Em entrevista à imprensa nacional, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, alerta sobre o risco da morte de Rafaat. “Temos relatórios dando conta de que a facção já atua no Paraguai e isso, se confirmado, vai mexer com o futuro da criminalidade no Brasil. A morte desse traficante é um alerta muito grave para todos nós", disse Beltrame.

A situação comentada por quem vive na fronteira condiz com a análise feita pelo secretário José Mariano Beltrame. "Já atuei em investigações sobre esse traficante [Rafaat], que era antigo no crime e conhecido por tentar impedir que quadrilhas brasileiras se instalassem na região. A morte cinematográfica dele evidencia que criminosos brasileiros resolveram tomar o controle da região, e se isso se confirmar será um alerta muito grave para as autoridades de todo o país", declarou.

Segundo Beltrame, se for confirmado o que se desenha, a facção brasileira passaria a controlar os dois lados da fronteira e, com isso, o Brasil passaria a enfrentar o problema de conter o domínio desse bando na venda de drogas no Brasil.

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