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Interior

Famílias se armam contra invasões de áreas de preservação na Itamarati

Barracos e lavouras brotam todos os dias em Áreas de Preservação Permanente no Itamarati

Helio de Freitas, de Dourados | 23/10/2020 10:51
Terra preparada para plantio e barraco em área de preservação no Itamarati I (Foto: Direto das Ruas)
Terra preparada para plantio e barraco em área de preservação no Itamarati I (Foto: Direto das Ruas)

Áreas de preservação ambiental estão sendo invadidas no maior assentamento da reforma agrária do Brasil, o Itamarati, no município de Ponta Porã, fronteira com o Paraguai. Os espaços destinados para reflorestamento durante a divisão dos lotes, ainda nos anos 2000, se transformaram em alvos de invasores que entram nas terras para morar e plantar soja.

Proprietários de lotes que assumiram a responsabilidade de cuidar das APPs (Áreas de Preservação Permanente) tentam impedir as invasões. Recentemente, alguns moradores receberam o invasores com tiros de armas de fogo, mas as ocupações irregulares continuam.

Moradores relataram ao Campo Grande News que as invasões começaram há pelo menos dois meses e ocorrem tanto no Itamarati I quanto no Itamarati II. No primeiro, vários barracos já estão sendo instalados e áreas de preservação desmatadas para plantio de soja.

No segundo, por enquanto existem apenas invasões para lavoura, mas os assentados temem ampliação das ocupações diante do descaso das autoridades públicas.

“Já fizemos várias denúncias, mas nada foi feito. As APPs sofrem uma onda de invasão desenfreada. Todos os dias chegam mais e mais invasores e parece que eles vieram para ficar”, afirmou um morador. Temendo pela segurança, ele pediu para não ter o nome divulgado.

Segundo a denúncia, parte dos invasores vem do próprio núcleo urbano do assentamento. Entretanto, há também pessoas residentes na cidade de Ponta Porã que estão invadindo as áreas e até gente do Paraguai.

“São pessoas que já foram assentadas, perderam ou venderam os lotes, são moradores da cidade e até parentes dos próprios assentados”, afirma o morador.

O Assentamento Itamarati foi criado em 2003, no primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A área tem 57 mil hectares. Nas décadas de 70 e 80 foi considerada a maior produtora de soja do País, quando ainda pertencia ao “Rei da Soja” Olacyr de Moraes (morto em 16 de junho de 2015).

Com pelo menos 20 mil moradores, quatro escolas e três postos de saúde, o assentamento foi transformado no distrito de Nova Itamarati em 2015 e desde 2018 sonha em se tornar o 80º município de Mato Grosso do Sul.

APPs ameaçadas – Dos 57 mil hectares totais do assentamento, 800 hectares foram destinados à formação dos APPs. Em dezembro de 2010, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) lançou o projeto “Novos Campos”, com investimento de R$ 2 milhões para a preservação ambiental nos assentamentos de Mato Grosso do Sul.

Como toda a área desapropriada em 2002 já era de lavoura, ou seja, não tinha mais vegetação nativa, no assentamento Itamarati não houve a reserva legal deixada no fundo dos lotes.

Para compensar, foram criadas as APPs, entregues aos cuidados dos próprios assentados. A maioria dessas áreas de preservação, localizadas onde tem rios, córregos, lagoas e nascentes, está sendo reflorestada com vegetação nativa, mas as invasões ameaçam o futuro desse projeto.

Segundo os moradores, em algumas APPs do Itamarati I os invasores já fizeram a divisão dos lotes e começaram a preparar a terra para o plantio. “Estão dividindo e construindo os barracos nas áreas que eles acham que vão ser donos. Também tem área invadida que está sendo arrendada”, relatou uma moradora.

Veja o vídeo de área devastada:

Fogo e Tiros – Na região conhecida como Monte Rico, os invasores atearam fogo para facilitar a remoção da vegetação e preparo da terra para o plantio. Revoltados, alguns assentados teriam disparado tiros em direção aos barracos para expulsar os invasores.

“Já começaram os conflitos. Os assentados que reflorestaram e cuidam das áreas não aceitam essas invasões”, relata a moradora. “Todos têm casa na vila, alguns já pegaram lote e venderam e agora querem pegar as reservas. Tem gente que veio até do Paraguai para invadir as APPs”, denuncia.

O Campo Grande News procurou a Prefeitura de Ponta Porã e o Incra em Mato Grosso do Sul e aguarda posicionamento desses órgãos sobre as denúncias dos moradores.

Barracos instalados ao lado de estrada vicinal em assentamento (Foto: Direto das Ruas)
Barracos instalados ao lado de estrada vicinal em assentamento (Foto: Direto das Ruas)


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