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Interior

Fechada só no papel, fronteira continua rota de fuga dos mais procurados do País

Com pandemia, fronteira está fechada para quem quer fazer compras, mas criminosos ainda encontram Paraguai de "portas abertas"

Helio de Freitas, de Dourados | 24/06/2020 06:41
Militares paraguaios vigiam Linha Internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero (Foto: Marciano Candia)
Militares paraguaios vigiam Linha Internacional entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero (Foto: Marciano Candia)

Nem a pandemia do novo coronavírus, que levou ao fechamento da fronteira dos dois lados, tem barrado a rota de fuga dos criminosos brasileiros.

Quando policiais do Gaeco e do Garras invadiram, com ordem judicial, a mansão do “padrinho” Fahd Jamil Georges, 79, na madrugada de 18 deste mês, para cumprir o mandado de prisão dele e do filho, Flávio Correia Jamil Georges, 35, o “Flavinho, os dois já tinham desaparecido. Em 15 anos, foi a segunda vez que o “Turco” – como Fahd Jamil é conhecido em Ponta Porã e Pedro Juan Caballero – escapou do cerco policial.

Oficialmente a polícia e o Ministério Público não falam sobre a fuga dos Jamil Georges na terceira fase da Operação Omertà, que investiga a atuação de grupos de extermínio em Mato Grosso do Sul. Mas nos bastidores policiais existe uma certeza absoluta: Fahd Jamil e Flavinho cruzaram a fronteira e se esconderam no Paraguai.

Flavinho, à esquerda, e o pai, "Fuad Jamil", à direita, são foragidos da polícia com mandado de prisão preventiva expedido. (Foto: Reprodução da internet)
Flavinho, à esquerda, e o pai, "Fuad Jamil", à direita, são foragidos da polícia com mandado de prisão preventiva expedido. (Foto: Reprodução da internet)

Embora a atuação do governo paraguaio contra o crime organizado tenha aumentado nos últimos anos, o país vizinho continua sendo refúgio dos bandidos mais procurados pela polícia brasileira.

Desde abril, o Campo Grande News tem mostrado que o fechamento da fronteira só existe de fato no papel e que apenas quem respeita a lei cumpre a medida. Enquanto trabalhadores são barrados, presos e humilhados por militares paraguaios, os criminosos têm passagem livre. A prova cabal são as apreensões recordes de drogas e de contrabando feitas pela polícia sul-mato-grossense nos três meses da pandemia.

Na prática, a “fronteira fechada” não significou reforço nos efetivos policiais. O Exército brasileiro mantém apenas barreiras sanitárias nas regiões de Ponta Porã e Bela Vista. Já os militares paraguaios estão apenas no perímetro urbano das cidades-gêmeas, onde fazem bloqueios com pneus, valetas e arame farpado. Com quase 500 quilômetros, a Linha Internacional entre Mato Grosso do Sul e o Paraguai continua “terra de ninguém”.

Os pistoleiros José Moreira Freires (de barba) e Juanil Miranda (Foto: Arquivo)
Os pistoleiros José Moreira Freires (de barba) e Juanil Miranda (Foto: Arquivo)

Pistoleiros da Capital – Fahd e o filho Flavinho ainda não foram incluídos na lista da Interpol, mas os Jamil Georges são suspeitos de dar abrigo a dois dos 23 bandidos da lista dos mais procurados do país, criada em janeiro deste ano pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública: os pistoleiros José Moreira Freires, 46, o "Zezinho", e Juanil Miranda Lima, 43.

Ambos estão foragidos desde abril do ano passado e foram denunciados como responsáveis pela execução do estudante Matheus Coutinho Xavier, 20, ocorrida naquele mesmo mês, em Campo Grande. Matheus teria sido morto por engano. O alvo do grupo de extermínio era o pai dele.

Investigação do Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assaltos e Sequestros) revela que a Fazenda Três Coxilhas, pertencente a Fahd Jamil, estaria sendo usada como esconderijo de Zezinho e Juanil. Buscas foram feitas no local na semana passada, mas nenhum dos procurados foi encontrado.

“Japonês do cigarro” – Outro procurado incluído na lista do Ministério da Justiça que aproveita o abandono da fronteira e a corrupção da polícia paraguaia para se esconder no país vizinho é o ex-policial militar sul-mato-grossense Fabio Costa, conhecido como “Pingo” e “Japonês”.

Pingo é apontado como um dos quatro principais “patrões” da máfia do cigarro, que corrompe policiais civis, policiais militares e agentes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) para passar com as cargas de contrabando.

Fabio Costa se esconde no Paraguai bem antes de o mundo parar por causa do novo coronavírus. Mas aproveita a “fronteira fechada” para viver tranquilamente na luxuosa casa com piscina que mantém em um condomínio fechado em Salto del Guairá, cidade paraguaia a 20 km de Mundo Novo (MS).

Preso pela Polícia Federal na Operação Marco 334 em 2011 junto com outros chefes da máfia do cigarro, Pingo foi beneficiado por habeas corpus e se escondeu no Paraguai. Já foi alvo de outras operações, a mais recente em setembro de 2018, mas nunca mais foi recapturado.

Playboy – Outro bandido da Lista de Procurados Nacional que estaria escondido na fronteira – bem antes da pandemia – é Leomar Oliveira Barbosa, 56, conhecido como “Leozinho” e “Playboy”.

Nascido em Ponta Porã, Leomar foi braço direito do narcotraficante Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Como importante membro do Comando Vermelho, mantinha conexão com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Preso acusado de mandar cocaína do Paraguai para Atibaia (SP), Playboy ganhou habeas corpus em 2018, mesmo com duas condenações a cumprir. Deixou o Presídio Estadual de Formosa (GO) e nunca mais foi localizado. Não há registro da atuação de Leomar Barbosa na Linha Internacional.

Fabio Costa, o “Pingo”, se esconde da polícia brasileira no Paraguai (Foto: Arquivo)
Fabio Costa, o “Pingo”, se esconde da polícia brasileira no Paraguai (Foto: Arquivo)


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