Polícia reconstitui assassinato praticado por guardas com arma “não letal”
Morte de Elcindo Alexandre Neto ocorreu no dia 11 de outubro de 2019, em Dourados

A Polícia Civil e a Promotoria de Justiça fazem nesta quarta-feira (11), a reconstituição da morte de Elcindo Alexandre Neto, 35, ocorrida no dia 11 de outubro de 2019, em Dourados, a 233 km de Campo Grande.
Elcindo morreu no bairro onde morava, na Vila Cachoeirinha, atingido por tiros de armas consideradas “não letais”, disparados por guardas municipais que tentavam prendê-lo, após o homem atear fogo em terreno baldio e investir contra os agentes com uma tesoura.
A morte foi registrada como homicídio em decorrência de intervenção policial. Acompanham a reconstituição, a promotora de Justiça Cláudia Loureiro Ocariz Almirão e o delegado Anézio Rosa de Andrade.
Segundo o delegado, o procedimento de hoje é relativamente comum em inquéritos mais complexos, para analisar a dinâmica exata dos fatos e esclarecer eventuais divergências apresentadas pelos envolvidos.
O caso – Denunciado pelos vizinhos por colocar fogo na vegetação perto de onde morava, na região sul da cidade, Elcindo resistiu à abordagem dos guardas, foi atingido por dois tiros de munição menos letal e morreu no meio da rua.
Na época, o comando da Guarda Municipal de Dourados mandou recolher as duas escopetas calibre 12 usadas com cartucho carregado com bagos plásticos para controle de distúrbios a curta distância.
O inspetor Divaldo Machado, que comandava a Guarda, explicou na época da morte, que a munição era chamada de “não letal”, mas depois o nome mudou para “menos letal”, devido à ocorrência de mortes de pessoas atingidas pelo tiro de polietileno, assim como ocorreu em Dourados.
Conforme a ocorrência da Guarda Municipal que terminou em morte, quando a equipe chegou à Vila Cachoeirinha, percebeu que o fogo tinha se alastrado e acionou o Corpo de Bombeiros. Uma moradora informou o endereço do homem responsável pelo incêndio.
Os guardas foram até a casa de Elcindo, onde a mulher dele confirmou que o marido tinha ateado fogo na vegetação. Elcindo foi encontrado a 70 metros de casa.
Ao ver os guardas se aproximando, ele correu e se escondeu atrás de um carro. Quando o encontraram, segundo a ocorrência, os guardas deram ordem de parada, mas o homem teria fugido de novo, correndo pela rua.
Nesse momento, foram feitos os dois primeiros disparos com a escopeta carregada com munição antimotim. Entretanto, conforme a ocorrência, os tiros foram em direção aos pés de Elcindo, “visando apenas evitar sua fuga”.
Elcindo continuou a correr e entrou em uma casa, onde teria se armado com uma tesoura e investido contra os guardas municipais, dizendo “agora, eu vou matar vocês”.
Foi dada ordem para o homem largar a tesoura e se render, mas como continuou investindo contra os guardas, Elcindo foi atingido por um disparo de Spark (arma de choque). Segundo a empresa Condor, fabricante da Spark, esse tipo de arma libera 40% menos energia que os modelos de choque anteriores e atua no sistema nervoso do indivíduo.
“Elcindo sequer sentiu, provavelmente, em razão da influência de entorpecentes”, afirma a ocorrência da Guarda. O boletim citava ainda o depoimento de testemunhas afirmando que Elcindo havia consumido crack naquele dia.
Mesmo atingido pelo disparo elétrico, Elcindo teria continuado partindo para cima dos guardas com a tesoura na mão e investido também contra uma testemunha. Nesse momento, um dos guardas fez o primeiro disparo com munição antimotim.
O tiro acertou a perna esquerda e a mão esquerda do homem, que largou a tesoura, mas como continuava avançando contra os agentes, foi atingido por outro disparo de arma elétrica.
Ainda assim, segundo a ocorrência da Guarda, Elcindo não se rendeu e teria tentado fugir, sendo atingido por outro disparo com munição antimotim.
Mesmo atingido por dois disparos de dardos elétricos e dois tiros de munição de polietileno, Elcindo conseguiu sair correndo para a rua e dois quarteirões depois, trombou em uma caminhonete estacionada na calçada e caiu.
Familiares e moradores do bairro protestaram pelo fato de, mesmo ferido e caído na rua, Elcindo ter sido algemado antes de morrer. A Guarda alegou que ele ainda oferecia resistência. Com artéria atingida por um dos disparos, o homem perdeu muito sangue e morreu no meio da rua.