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Interior

Polícia reconstitui assassinato praticado por guardas com arma “não letal”

Morte de Elcindo Alexandre Neto ocorreu no dia 11 de outubro de 2019, em Dourados

Helio de Freitas, de Dourados | 11/08/2021 09:56
Polícia reconstitui assassinato praticado por guardas com arma “não letal”
Policiais fazem reconstituição de morte ocorrida durante ação da Guarda, em 2019. (Foto: Adilson Domingos)

A Polícia Civil e a Promotoria de Justiça fazem nesta quarta-feira (11), a reconstituição da morte de Elcindo Alexandre Neto, 35, ocorrida no dia 11 de outubro de 2019, em Dourados, a 233 km de Campo Grande.

Elcindo morreu no bairro onde morava, na Vila Cachoeirinha, atingido por tiros de armas consideradas “não letais”, disparados por guardas municipais que tentavam prendê-lo, após o homem atear fogo em terreno baldio e investir contra os agentes com uma tesoura.

A morte foi registrada como homicídio em decorrência de intervenção policial. Acompanham a reconstituição, a promotora de Justiça Cláudia Loureiro Ocariz Almirão e o delegado Anézio Rosa de Andrade.

Segundo o delegado, o procedimento de hoje é relativamente comum em inquéritos mais complexos, para analisar a dinâmica exata dos fatos e esclarecer eventuais divergências apresentadas pelos envolvidos.

O caso – Denunciado pelos vizinhos por colocar fogo na vegetação perto de onde morava, na região sul da cidade, Elcindo resistiu à abordagem dos guardas, foi atingido por dois tiros de munição menos letal e morreu no meio da rua.

Na época, o comando da Guarda Municipal de Dourados mandou recolher as duas escopetas calibre 12 usadas com cartucho carregado com bagos plásticos para controle de distúrbios a curta distância.

O inspetor Divaldo Machado, que comandava a Guarda, explicou na época da morte, que a munição era chamada de “não letal”, mas depois o nome mudou para “menos letal”, devido à ocorrência de mortes de pessoas atingidas pelo tiro de polietileno, assim como ocorreu em Dourados.

Conforme a ocorrência da Guarda Municipal que terminou em morte, quando a equipe chegou à Vila Cachoeirinha, percebeu que o fogo tinha se alastrado e acionou o Corpo de Bombeiros. Uma moradora informou o endereço do homem responsável pelo incêndio.

Os guardas foram até a casa de Elcindo, onde a mulher dele confirmou que o marido tinha ateado fogo na vegetação. Elcindo foi encontrado a 70 metros de casa.

Ao ver os guardas se aproximando, ele correu e se escondeu atrás de um carro. Quando o encontraram, segundo a ocorrência, os guardas deram ordem de parada, mas o homem teria fugido de novo, correndo pela rua.

Nesse momento, foram feitos os dois primeiros disparos com a escopeta carregada com munição antimotim. Entretanto, conforme a ocorrência, os tiros foram em direção aos pés de Elcindo, “visando apenas evitar sua fuga”.

Elcindo continuou a correr e entrou em uma casa, onde teria se armado com uma tesoura e investido contra os guardas municipais, dizendo “agora, eu vou matar vocês”.

Foi dada ordem para o homem largar a tesoura e se render, mas como continuou investindo contra os guardas, Elcindo foi atingido por um disparo de Spark (arma de choque). Segundo a empresa Condor, fabricante da Spark, esse tipo de arma libera 40% menos energia que os modelos de choque anteriores e atua no sistema nervoso do indivíduo.

“Elcindo sequer sentiu, provavelmente, em razão da influência de entorpecentes”, afirma a ocorrência da Guarda. O boletim citava ainda o depoimento de testemunhas afirmando que Elcindo havia consumido crack naquele dia.

Mesmo atingido pelo disparo elétrico, Elcindo teria continuado partindo para cima dos guardas com a tesoura na mão e investido também contra uma testemunha. Nesse momento, um dos guardas fez o primeiro disparo com munição antimotim.

O tiro acertou a perna esquerda e a mão esquerda do homem, que largou a tesoura, mas como continuava avançando contra os agentes, foi atingido por outro disparo de arma elétrica.

Ainda assim, segundo a ocorrência da Guarda, Elcindo não se rendeu e teria tentado fugir, sendo atingido por outro disparo com munição antimotim.

Mesmo atingido por dois disparos de dardos elétricos e dois tiros de munição de polietileno, Elcindo conseguiu sair correndo para a rua e dois quarteirões depois, trombou em uma caminhonete estacionada na calçada e caiu.

Familiares e moradores do bairro protestaram pelo fato de, mesmo ferido e caído na rua, Elcindo ter sido algemado antes de morrer. A Guarda alegou que ele ainda oferecia resistência. Com artéria atingida por um dos disparos, o homem perdeu muito sangue e morreu no meio da rua.

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