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Interior

Potencial hídrico atrai investimentos e coloca MS no mercado de pescado

Estado deve assumir liderança no ranking da aquicultura. Governo já prepara Plano Estadual de Pesca

Priscilla Peres | 05/06/2017 12:00
Hoje o Estado ocupa a 9ª posição no ranking da produção de pescado. (Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)
Hoje o Estado ocupa a 9ª posição no ranking da produção de pescado. (Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)

Inexpressiva até a década de 1990, a produção de tilápias ganhou ritmo e passou a ser o segmento do mercado de proteína animal que mais cresce no mundo.

Com a demanda crescendo muito além da oferta, os investidores descobriram no cultivo de peixes uma das atividades mais rentáveis e o novo olhar sobre a aquicultura está reposicionando Mato Grosso do Sul na produção de pescado.

Hoje o Estado ocupa a 9ª posição no ranking da produção de pescado, mas em período de até dois anos pode assumir a liderança nessa promissora atividade pecuária.

“O reposicionamento de Mato Grosso do Sul nesse mercado é irreversível, o Estado deve receber investimentos em mais dois abatedouros”, anunciou o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar, Jaime Verruck.

Segundo o secretário, hoje somos o 6º produtor nacional de pescado e a expansão do frigorífico da GeneSeas em Aparecida do Taboado este ano fez com que o Estado desse mais um salto no ranking. A classificação ainda não foi mensurada, mas é provável que já esteja alcançando a quarta ou terceira posição.

A Geneseas tinha uma projeção de embalar até 35 toneladas/dia de filé, logo que anunciou a ampliação do frigorífico, em abril de 2016. Após um ano, com a crescente demanda, a meta foi superada.

O frigorífico já processa 45 mil toneladas por dia, crescimento tão rápido que a unidade de Aparecida do Taboado está trazendo tilápia de São Paulo para a industrialização no Estado. “A oferta é ainda muito menor que a demanda, há muito espaço para crescer”, diz o gerente industrial Gerlucio Neri.

A empresa, líder nacional no cultivo de tilápias, tira 50% da produção de seus tanques-redes instalados no lago da Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira, abaixo do marco zero do rio Paraná.

De olho nesse mercado que cresce a cada dia, a Tilabras, outra líder da aquicultura, que tem produção mais voltada ao mercado externo, já obteve licença ambiental prévia para colocar tanques no lago da Usina Hidrelétrica de Jupiá e instalar um frigorífico em Selvíria.

A empresa projeta investimento de R$ 150 milhões em tanques para cultivo de tilápias e instalação de fábrica de ração e abatedouro de pescado.

A GeneSeas tem 213 tanques-redes com 1.000 toneladas de peixes nas diferentes fases do cultivo. Diariamente, na despesca, são retiradas de 20 a 25 toneladas de peixes em ponte de corte, metade da capacidade instalada do frigorífico de Aparecida do Taboado.

A quantidade de tilápias nos tanques da GeneSeas corresponde a 1% do que é produzido pela aquicultura nacional.

O frigorífico já processa 45 mil toneladas por dia.
(Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)
O frigorífico já processa 45 mil toneladas por dia. (Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)

Plano Estadual - De Acordo com o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico, o potencial de crescimento da piscicultura no Estado é muito grande e a política aquícola não se concentra apenas na grande produção.

O Estado terá um plano para incentivar a aquacultura familiar, com a produção não apenas de tilápia, mas também de peixes de outras espécies, como o pacu e o pintado, que podem ser cultivados em tanques escavados.

“É um setor que tem avançado muito, de tecnificação elevada, rentabilidade e potencial de mercado. Somente as duas líderes – GeneSeas e Tilabrás – vão explorar o cultivo de peixes em 545 hectares nos lagos de Ilha Solteira e Jupiá, em concessão outorgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Com esse novo olhar para o potencial da piscicultura, que tem um espaço muito significativo para exploração, pretendemos estabelecer um percentual de até 5% sem outorga, com licenciamento diferenciado para tanques de até 5 hectares”, diz Jaime Verruck.

Nesse pequeno módulo estão incluídas produção de alevinos e fábrica de ração. “A piscicultura deve seguir no mesmo patamar de rentabilidade da avicultura e da suinocultura, segmentos da pecuária que mais crescem no Estado. “Com uma regulamentação clara, os investidores têm segurança jurídica para explorar a atividade”, lembra o secretário de Desenvolvimento Econômico.

Além do potencial hídrico, a produção de peixes em cativeiro no Estado e em toda a região Centro Oeste é estimulada pelo clima, que mantém a temperatura da água em condições favoráveis na maior parte do ano. “O que tem puxado o crescimento da produção é o consumo. A tilápia conquistou praticamente todo o mercado interno de carne, mas ainda há muito espaço se se considerar a estatística de consumo de apenas 1 quilo per capita/ano.

Duas indústrias vão explorar o cultivo de peixes em 545 hectares nos lagos de Ilha Solteira e Jupiá.
(Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)
Duas indústrias vão explorar o cultivo de peixes em 545 hectares nos lagos de Ilha Solteira e Jupiá. (Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)

Mercado promissor -Hoje o mercado interno remunera muito melhor. O filé fresco/congelado de tilápia, qualidade exportação, tem sido comercializado nas grandes redes de supermercados do Brasil a preços que variam entre R$ 26 e R$ 30 o quilo.

Segundo o MAPA, a tilápia é produzida em praticamente todas as regiões do país, exceto na região norte onde sua produção é inexpressiva. A região nordeste é a principal região produtora, com destaque aos estados do Ceará, Pernambuco e Bahia. Na região sul, o Paraná é o maior produtor. São Paulo se destaca no Sudeste, com grande expansão nos cultivos nos últimos 10 anos.

O crescimento se deve basicamente à grande aceitação do mercado aos produtos da tilápia cultivada, principalmente porque os frigoríficos destinam ao mercado interno filés frescos com padrão exportação. Em pouco tempo a tilápia se livrou de sua antiga imagem de peixe pequeno, cheio de espinho e com sabor de barro, características comuns nas tilápias provenientes da pesca nos reservatórios das hidrelétricas. A tilápia cultivada em tanques-redes fica na superfície. O processo de engorda é à base de ração.

Verruck destaca que a qualidade é um fator, mas também contribui para o crescimento excepcional o uso de tecnologia para a produção em tanques-rede. “A oferta regular de tilápias inteiras e filés de tilápia de alta qualidade e frescos foi um fator decisivo para o consumidor adquirir confiança nos produtos da tilapicultura”, completa o gerente industrial da GeneSeas em Aparecida do Taboado, Gerlucio Neri.

Os supermercados, que no passado costumavam comprar tilápia diretamente dos produtores, hoje procuram comprar de frigoríficos com inspeção sanitária (SIF ou SIE). Assim, os produtores cada vez mais terão destinos seguros para ofertar sua produção.

O secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar considera fundamental o aproveitamento dos grandes reservatórios para o cultivo em tanques-redes, mas também a expansão dos tanques escavados com aproveitamento dos recursos hídricos de domínio do Estado, sem deixar de lado o contínuo desenvolvimento, aprimoramento e difusão de tecnologia, em especial no que diz respeito ao manejo da produção, melhoramento genético, nutrição e sanidade (biossegurança), cuidados que asseguraram ao Estado a liderança na produção de carne bovina e, na esteira, da avicultura e suinocultura.

No conjunto da produção de pescado, a taxa anual de crescimento é de 9,7%. Em relação à tilápia, é o peixe mais criado pela piscicultura no país e chega a 45,4% do total da produção total, segundo o IBGE.

Cultivo da tilápia exige manejo criterioso e  cuidado sanitário. (Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)
Cultivo da tilápia exige manejo criterioso e cuidado sanitário. (Foto: Edemir Rodrigues/Notícias MS)

Cultivo leva seis meses até o ponto da “despesca” -  Além da alta tecnificação, o cultivo da tilápia exige manejo criterioso e muito cuidado sanitário. O acesso aos parques aquícolas, por exemplo, só é permitido com rigorosa desinfecção, tanto de pessoas quanto de veículos e equipamentos. A desinfecção é feita na entrada e na saída da área onde os operários realizam o manejo e alimentam os peixes.

Até o ponto de abate, são seis meses de cuidados, que começam no berçário, onde os alevinos passam um período de classificação até serem transferidos aos tanques de engorda. A despesca (coleta dos peixes para destinação ao frigorífico) ocorre após seis meses de cultivo. As fases de cultivo ocorrem nos 205 tanques, que medem 12 metros quadrados (6x6). Os tanques de engorda da GeneSeas medem 20x20. São oito tanques no lago de Jupiá.

O frigorífico, fábrica de ração e área de cultivo empregam 320 pessoas. Entre 30 e 35 trabalham no manejo da “fazenda”. A GeneSeas investiu R$ 28 milhões em sua unidade frigorífica. Parte dos operários foi recrutada em Santa Fé do Sul, cidade paulista que fica do outro lado do rio Paraná, ligada a Aparecida do Taboado pela ponte rodoferroviária.

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