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Interior

Vazamento mobiliza todos os médicos da cidade, vítimas já tiveram alta

Paula Maciulevicius | 01/02/2012 00:53

Dos 21 internados na enfermaria da Santa Casa, todos foram liberados no final da tarde terça-feira

Palco de apreensão e desespero de familiares, Santa Casa voltou à normalidade após alta das vítimas. (Foto: Marlon Ganassin)
Palco de apreensão e desespero de familiares, Santa Casa voltou à normalidade após alta das vítimas. (Foto: Marlon Ganassin)

O vazamento de gás no curtume do frigorífico Marfrig mexeu com o município de Bataguassu, leste do Estado. A tarde foi para lá de movimentada na até então "pacata" cidade com cerca de 20 mil habitantes. No final do dia, dos 27 funcionários vítimas do vazamento, o saldo era de quatro mortos, outros três em estado grave em Presidente Prudente, já no estado de São Paulo e 21 que se recuperavam em casa, após a alta hospitalar.

A Santa Casa que foi palco do desespero de uma cidade inteira, entre médicos, enfermeiros, bombeiros e familiares, agora respira aliviada, sem nenhum paciente vindo do Marfrig internado.

A estrutura fez o que pode e os profissionais também. Entre os 27 funcionários vítimas do acidente que deram entrada na Santa Casa, três deles já estavam mortos e um morreu 10 minutos depois, nas mãos dos médicos.

O médico do Hospital e também secretário municipal de Saúde, José Sebastião de Andrade Júnior, 46 anos, relata o que nunca havia presenciado. Em 17 anos de serviço na cidade, mesmo com os acidentes graves em rodovia, o fato desta terça-feira foi o que mais mobilizou a história da saúde de Bataguassu.

"A secretaria de Saúde foi acionada pelos bombeiros logo que a ocorrência do acidente entrou. Eles diziam que parecia grave e era em relação a um vazamento. Sabíamos que eram muitas vítimas, mas ainda não sabíamos se era explosão na caldeira ou algum tipo de gás", relembra o primeiro contato com o Corpo de Bombeiros, às 11h da manhã. Neste momento José Sebastião deixou de ser secretário para assumir o papel de sua formação, salvar vidas, e foi em direção à Santa Casa.

A mobilização foi intensa. O hospital passou a contactar todos os médicos espalhados pelos postos de saúde em Bataguassu. Ao todo sete trabalharam no atendimento às vítimas que não paravam de chegar. "Convocamos enfermeiros, pedimos material extra. Não temos suporte para tanta gravidade", relata.

Em 17 anos como médico na cidade, secretário de saúde relata que acidente mobilizou toda cidade. (Foto: Marlon Ganassin)
Em 17 anos como médico na cidade, secretário de saúde relata que acidente mobilizou toda cidade. (Foto: Marlon Ganassin)

Os primeiros a chegar foram os que estavam em estado mais grave e não resistiram.

A movimentação de familiares na Santa Casa se formou tão rápido quanto a notícia que passava de boca em boca. "A Polícia Militar fechou a entrada do hospital. Era todo mundo aqui, eles diziam: meu marido, meu filho trabalham no frigorífico", conta o médico.

Segundo o médico, as ambulâncias não paravam de chegar. Viaturas do Corpo de Bombeiros de Bataguassu, Três Lagoas, do próprio Marfrig e da Secretaria.

"Os mais graves nós entubamos. Os três que foram transferidos para Prudente foram respirando por aparelhos e em coma induzido. Dois por via terrestre e um de avião. A empresa reservou UTI particular", diz o médico.

Um dos que foram encaminhados para o hospital já tinha sido reanimado, após uma parada cardíaca. "E tivemos informação de que ele teve outra a caminho de Prudente. Não sabemos o que pode ficar de sequela", acrescenta.

Entre os atendimentos aos feridos estava a viúva de um trabalhador. Uma gestante de 6 meses que entrou em choque após receber a notícia de que o seu filho viria ao mundo sem um pai. "Ela estava passando mal, mas o neném estava bem. Era o choque mesmo, o desespero", relata José Sebastião.

Sintomas - Segundo o médico, os feridos chegavam com sintomas desde leve até os mais graves. Com náuseas, vômitos, alguns insconscientes e até convulsionando. "A reação formou um gás que em 10 segundos de inalação se torna letal", declara.

Ainda de acordo com José Sebastião, o odor é de enxofre, confirmado pelas vítimas que conseguiam relatar o ocorrido. Entre os mortos a aparência era escura, por conta da falta de oxigênio provocada pela intoxicação.

Conforme o secretário, de 150 a 200 funcionários trabalhavam no curtume atingido.

"Não é todo dia que temos casos assim, não estamos acostumados, não tem antídoto", finaliza.

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