Vídeo mostra tropa agredindo umbandistas em terreiro de onde PM saiu ferido
Seis pessoas foram presas durante ocorrência na madrugada de domingo (31)
Vídeo registrado em terreiro durante a madrugada deste domingo (31) mostra tropa da Polícia Militar agredindo umbandistas em Corumbá, a 419 quilômetros de Campo Grande. Conforme a PM, a equipe foi até o local após reclamações dos vizinhos e, durante a abordagem, os militares precisaram se defender.
No registro é possível ver policiais agredindo as pessoas que estavam na casa com cassetete enquanto uma mulher diz “olha a violência, todo mundo é da casa”. Em seguida, a pessoa que estava filmando também passa a ser agredida e cai no chão tentando se defender.
Contrariando a versão policial, Luziane Silva do Nascimento, de 51 anos, disse que as agressões foram iniciadas pelos militares. Mãe de santo responsável pelo terreiro, Luziane confirmou que o vídeo foi registrado em sua casa durante um culto religioso.
Sobre a ocorrência, Luziane disse que os vizinhos acionaram a Polícia Militar por volta de 22h45min e, após conversar com os militares, ela recebeu autorização para seguir com a celebração até 00h. “Demoramos um pouco mais e a polícia voltou, pedi desculpa e expliquei que só estávamos conversando e jantando”, disse.
De acordo com a mãe de santo, ela pediu aos participantes que ainda estavam no terreiro para fazer menos barulho e seguiram para o encerramento já sem som alto. “Quinze minutos depois começaram a bater no portão, como se fosse com ferro. Eu já estava sentada e quando atendi, eles falaram que iriam me levar para a delegacia”.
Luziane disse que se negou a acompanhar os policiais e que iria aguardar a intimação. “Ele [policial] começou a me puxar para fora e eu fiz força. Meu irmão e filho de santo me puxaram, aí eu fechei a porta. Eu falei que o vizinho podia representar contra mim e que aí eu iria, disse que ia acabar de jantar e que todo mundo ia sair”, explicou.
Em seguida, os militares passaram a entrar na casa, conforme a mãe de santo. “Tinha policial subindo pelo muro, aquele desespero e eles tentando derrubar o portão. Eu falei para a minha família que ia para a delegacia e quando abri o portão eles entraram como se fosse um furacão enfurecido de ódio”.
A responsável pela casa relatou que os policiais a arrastaram para o camburão enquanto outros entraram no terreiro. “Eu já estava no camburão. Não tinha motivo para entrar aqui batendo em todo mundo, não tinha ninguém agredindo policial”, argumentou.
Ainda conforme explicado por Luziane, sua filha foi jogada no chão por um policial e, nesse momento, se defendeu com uma taça de vidro quebrada. “Ela se defendeu como qualquer pessoa poderia fazer”.
Sobre outras ações da polícia, ela relatou que vê toda a situação como intolerância religiosa. “Aqui no bairro sempre tem festa nos vizinhos até de madrugada e nunca vem polícia. Mas aqui na minha casa sempre vem porque sou umbandista, é intolerância religiosa. Nós vamos registrar boletim de ocorrência”, completou.
Outra versão - Questionada sobre o vídeo, a PM respondeu que agiu dentro da legalidade. “A Polícia Militar esclarece que sua função é a preservação da ordem pública e que agiu de forma a devolver a paz e a ordem diante de uma situação de perturbação da tranquilidade fazendo uso progressivo da força”.
Em nota de esclarecimento, a PM acrescentou que os militares tentaram conversar com a dona da casa, mas que ela e outras pessoas que estavam no local passaram a usar “palavras ofensivas”. Por esse motivo, a responsável pelo local recebeu ordem de prisão, mas resistiu enquanto os outros participantes passaram a agredir os policiais com socos, chutes e empurrões.
Sobre a continuidade da ação, a Polícia Militar informou que outras equipes foram acionadas. “Os autores continuaram a desacatar os policiais e a investir violência jogando pedras, pedaços de madeira, copos de vidro e uma das autoras, aproveitando-se da situação caótica em posse de uma taça de vidro quebrada, atacou por trás um dos componentes da equipe da Força Tática”.
De acordo com a nota, o policial conseguiu se defender, mas sofreu um corte superficial de 13 centímetros. “Os policiais após conseguir neutralizar a ação violenta, conduziram todos para a delegacia para que fossem tomadas todas as providências”.
Em relação à fala feita por Luziane de que os militares agiram por intolerância religiosa, a PM disse que não tem nada a declarar, "uma vez que, no exercício de suas atribuições legais, atende a todos de maneira igualitária".
