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Cidades

Mãe faz “via-crúcis” para livrar filho da prisão e por tratamento contra drogas

Lidiane Kober | 23/02/2014 11:35
Elizabeth tem consciência dos erros do filho, mas confia no caráter do jovem e frisa que ele merece uma oportunidade de recomeçar (Fotos: Marcos Ermínio)
Elizabeth tem consciência dos erros do filho, mas confia no caráter do jovem e frisa que ele merece uma oportunidade de recomeçar (Fotos: Marcos Ermínio)

Há 17 anos, a pensionista Elizabeth Lopes, de 57 anos, não mede esforços e enfrenta uma verdadeira “via-crúcis” para livrar o filho da prisão e das drogas. O jovem, hoje com 30 anos, está preso, mas a mãe não descansa até juntar todas as provas necessárias para libertá-lo e garantir tratamento adequado ao dependente químico.

Elizabeth tem consciência dos erros do filho, mas tem absoluta certeza de que o jovem tem um “bom coração” e merece uma oportunidade de recomeçar. A luta para trilhar um novo destino começou quando ela descobriu o envolvimento dele com as drogas.

“Ele começou a fumar maconha aos 13 anos, mas só descobri uns quatro anos depois, quando já usava crack”, relatou. Desde então, por conta do vício, o filho se envolveu em brigas e em furtos, que o levaram até a prisão.

“Nunca passei a mão na cabeça dele, sempre busquei o diálogo e sei que ele sonha em se recuperar, tanto que aceitou por 18 vezes se internar”, contou.

A primeira passagem pela polícia, segundo Elizabeth, ocorreu por conta de som alto. “O vizinho chamou a polícia e ele foi questionar porque não reclamou direto com ele. O caso acabou na delegacia e gerou B.O (Boletim de Ocorrência)”, contou.

Depois, em um dia de crise de abstinência, a própria mãe acionou a polícia para ajudar a levar o filho ao posto de saúde. “Ele entrou com um cigarro no camburão e bateram com o cacetete na mão dele, ele se queixou e, na frente dos meus netos, os policiais deram um surra nele e o socorro virou nisso”, lamentou.

O terceiro suposto mal entendido ocorreu em uma festa de casamento. “Ele se envolveu em uma briga e a pessoa que apanhou o acusou de roubar o celular e o boné”, disse a mãe. “Até hoje, ele jura que não cometeu esse furto e fui atrás de toda história e até hoje nunca confirmei essa acusação”, relatou a pensionista.

Em outro momento de crise, o jovem abandonou o lar e, segundo a mãe, foi pedir cigarro e R$ 1 a uma senhora, quando ela foi vítima de assalto. “Ele estava no lugar e na hora errada e sobrou para ele. Os assaltantes fugiram e ele, drogado, ficou parado, pegou a faca do crime na mãe e foi preso”, contou.

A mãe internou o filhos 178 vezes para se tratar
A mãe internou o filhos 178 vezes para se tratar

Em todas as situações, Elizabeth não sossegou até tirar o filho da prisão para tratá-lo. Ela chegou a conseguir liminar, mas precisou esperar por vaga em hospital. “Você entra no mundo da burocracia, não consegue sair de lá e, ao mesmo tempo, vê seu filho na dor, é muito triste”, comentou.

Após muita luta, a pensionista conseguiu vaga, mas, por causa de suposto novo mal entendido, o filho voltou para a cadeia. “Ele ganhou absolvição imprópria, ou seja, a decisão o obrigava a se tratar, mas o médico da clínica falou em absolvição e, na adrenalina de se ver livre, ele fugiu do hospital”, lembrou.

Antes, o jovem chegou a escapar do lugar e foi até a casa da mãe implorar por outro tratamento. “Ele disse que não conseguiria ficar lá, pois a droga rolaria solta e seria muito difícil resistir”, afirmou a mãe. Mas ela conseguiu convencê-lo de continuar no hospital e ele voltou.

Na segunda vez, porém, virou fugitivo. “Ele ficou internado por sete meses até ser descoberto”, relatou Elizabeth. “Repito, sei que ele errou e não foi só uma vez, mas o preço que está pagando é muito alto por um erro normal”, avaliou.

“Nossas prisões estão superlotadas, falta lugar para criminosos perigosos, enquanto isso, ele está lá ocupando um lugar, apesar de ter uma mãe capaz de tudo para tratá-lo em uma clínica especializada”, completou.

Filho exemplar – Apesar das dificuldades, Elizabeth é firme em afirmar que a certeza do merecimento do filho a alimenta na luta para livrá-lo do vício e da prisão. “Quando não está em crise de abstinência, ele é um filho exemplar, trabalhador e carinhoso como ninguém”, contou. Ao lado da avó, a neta de 11 anos confirma o carinho pelo tio e engrossa os elogios.

“Ele só tem palavras boas, não tem mágoa e ódio no coração, é uma pessoa do bem”, reforçou a pensionista. Com o celular na mão, ela mostra as várias mensagens de carinho e esperança que recebe do filho. “Sorria, seu celular está sendo visitado por alguém que tem um enorme carinho por você, sempre que puder passarei para deixar um beijo, um abraço, um carinho, um bom dia, uma boa tarde, uma boa noite, uma boa sorte, um parabéns ou apenas um oi”, dizia um dos recados.

Por fim, Elizabeth reforça ter consciência dos erros do filho, mas faz questão de repetir que não desistirá por ver amor no coração dele. “Essa matéria é um desabafo, um recado às autoridades que, em vez de ajudar com as leis, criam barreiras e a burocracia dificulta a nossa vida”, concluiu.

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