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Cidades

Mulher realiza sonho de criança e se forma aos 71 anos

Redação | 19/08/2010 16:55

Aos 71 anos, Maria Selma da Silva recebe amanhã em Campo Grande o diploma de enfermeira, após oito anos cursando a faculdade com a qual sonha desde criança.

Desde que entrou no curso, em 2001, foram inúmeras as dificuldades. Ela teve que enfrentar o preconceito, problemas financeiros, a falta de incentivo e a morte do marido em julho deste ano.

Mesmo assim, ela não desistiu por acreditar que o conhecimento era o caminho para uma vida melhor. "Rico não tem que estudar porque tem herança, mas pobre precisa garantir o sustento", afirma.

O final das aulas foi em dezembro de 2008, mas como de costume na vida de Maria Selma, ela teve mais um obstáculo para enfrentar: o dinheiro para custear a formatura.

Apenas seis meses depois do término das aulas é que ela conseguiu ser incluída em um grupo de alunos remanescentes de vários cursos, que terão uma solenidade simples para marcar o recebimento do diploma.

Os oito anos da faculdade foram divididos entre as aulas, o trabalho e o cuidado com a família. Do casamento de 52 anos resultaram quatro filhos, dez netos e dois bisnetos. Um dos bisnetos é criado por ela desde bebê.

"Quando meus filhos eram pequenos chegaram a passar fome. Eu decidi que daria uma vida melhor a eles", ressalta.

Instrumentadora cirúrgica do Hospital Universitário há 34 anos, Maria Selma aliou o desejo de se formar ao de se aprimorar na profissão e iniciou a faculdade. Em seguida, um dos filhos foi morto em assalto e ela teve que formar o neto primeiro.

"Fui mais devagar com a minha faculdade e fazia plantão porque não queria que ele parasse o curso de engenharia da computação". Hoje, o neto formado faz doutorado em São Carlos e ganha salário de R$ 10 mil. "Onde ele ia conseguir um salário desses sem estudo?", questiona avó.

Depois que o neto se formou ela pôde intensificar as aulas e chegou a sofrer retaliações no trabalho por conta do horário diferenciado. Na universidade, os grupos se dividiam entre os que a viam como exemplo e os que a criticavam.

"Ouvi várias vezes no corredor perguntarem: o que essa velha está fazendo aqui?, mas não ligava porque eles não sabiam do meu objetivo", lembra. Agora, ela garante que tem fôlego para mais uma faculdade e pretende cursar Direito. "Sinto que minha vida está apenas começando", ressalta.

Exemplo - "Eu nunca tive oportunidade de estudar", afirma, ao lembrar que os pais não a deixavam sequer aprender a ler quando era jovem. "Diziam que mulher não tinha que saber escrever porque senão iria fazer bilhete para namorado", conta.

Aos 15 anos veio o casamento e poucos meses depois o primeiro filho. "Passei a adolescência com uma criança no colo", lembra. Na terceira idade e depois de realizar seu principal sonho, ela concentra esforços no neto de cinco anos e no pai dele, que é dependente químico há 15 anos e está detido.

"Acredito na regeneração dele se quiser sair dessa vida. Sempre pensei que tudo só depende de cada um e não perco as esperanças", resume.

A enfermeira disse que quando receber o diploma "vai passar um filme na cabeça" com todos os momentos difíceis pelos quais passou. "Espero que alguém tire proveito disso, porque eu já tirei", diz orgulhosa.

A formatura será às 15h desta sexta-feira (20) na Universidade Uniderp Anhanguera, na avenida Ceará.

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