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Em Pauta

A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/01/2016 08:20
A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe

No Brasil pagam-se salários baixos em comparação com os demais países, mas estamos entre os povos que mais trabalham anualmente no mundo. Os dados coletados pela OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico - recentemente, fomentaram essa diferença na Europa e nos Estados Unidos. O Brasil não fez parte desse estudo, mas é fácil comparar com os países nele incluídos. As diferenças salariais são abissais, chocantes: na Austrália e Luxemburgo, onde estão os melhores salários médios do mundo, aproximam-se de R$6.000 mensais e seus cidadãos estão entre os que menos trabalham no mundo. Esse mesmo quadro - salários elevados e poucas horas trabalhadas - se repete na Alemanha, Suíça, Noruega, Holanda, Dinamarca, Bélgica, Canadá e tantos outros.

A análise da tabela da OCDE permite concluir que os países do Norte da Europa e alguns do Centro, são os mais privilegiados na equação trabalhar menos e ganhar melhores salários. São países com alta produtividade e que pouco produzem bens de baixo valor de compra - roupa ou calçado - e privilegiam a produção dos melhore carros do mundo e de equipamentos altamente sofisticados. Em suma, os brasileiros podem trabalhar mais que os antigos escravos que não receberão nem mesmo a metade do que alguns povos europeus recebem. Além da produtividade ser baixa no Brasil e em muitos outros países, o debate que está posto na Europa e EUA é o da qualidade de gestão. Admite-se como fator coadjuvante à produtividade, a má qualidade dos gestores para não ultrapassarmos a barreira de trabalhar muito e ganhar baixos salários.

Há uma lenda, construída por alguns dos nossos melhores pensadores, de que o brasileiro é indolente. Praia, futebol, carnaval, excesso de feriados. Tudo isso costuma virar argumento para quem acredita que o brasileiro não gosta de trabalhar. Pode até ser que não goste mesmo. Não gostam tanto quanto europeus e norte-americanos. No mundo todo a insatisfação com o emprego é elevada. Nos EUA, nada menos de 67% acham "chato" ou "muito chato" aquilo que são obrigados a fazer para ganhar a vida. O fato é que nós, brasileiros, trabalhamos mais do que se trabalha nos países ricos. E não é de hoje. Acredite, a jornada de trabalho de 40 horas semanais foi criada nos Estados Unidos e em vários países europeus em 1930. O discurso surrado e eleitoreiro de nossas centrais sindicais, antes da crise econômica criada pelo governo, de trabalharmos 40 horas é tão antigo quanto o Capitão América.

A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe
A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe

A China acaba de publicar seus resultados comerciais. Os números deveriam preocupar o Mato Grosso do Sul.

A China publicou seus resultados comerciais. Como esta coluna aventava, são preocupantes. A China teve seu primeiro retrocesso desde a eclosão da crise mundial. O volume total de comércio com outros países caiu 7% durante o ano passado em comparação com o ano anterior. As autoridades chinesas planejavam um incremento de 6%. O dado que mais nos interessa é o valor das importações chinesas, e sua queda foi ainda maior do que os analistas imaginavam - nada menos que um negativo de 13,2%.

Apesar dos dados anuais ruins, os analistas estão vendo com esperança o fato de que em dezembro de 2015, as exportações chinesas cresceram 2,3%, contra todas as previsões. No entanto, ela decorre da forte depreciação do yuan, moeda da China. O maior temor ficou por conta do início de uma "guerra das moedas" em todo o mundo. O Brasil não está isolado, e está metido nessa guerra surda até a alma.

A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe
A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe

O absurdo do custo dos transportes para o produtor.

A logística deficiente é o principal obstáculo do agronegócio brasileiro. Cerca de 60% das cargas são transportadas pelas rodovias brasileiras e quase 100% da produção do Mato Grosso do Sul. Metade das estradas não está em boas condições. Os custos logísticos pesam em demasia para os produtores brasileiros. Na Argentina e nos Estados Unidos os produtores de soja gastam em torno de US$ 20 para exportar o produto. No Brasil gastam-se US$ 92. Calcula-se que deixamos de produzir 4 milhões de toneladas de soja e de milho por incapacidade de arcar com os custos do transporte. Com as intensas chuvas destruindo pontes e estradas, o acréscimo médio ao custo operacional será de, aproximadamente, 25%. A chuva faz escorrer dinheiro nas estradas. Desde 2010, o governo federal vem nos prometendo um novo trecho ferroviário que muda ao sabor dos ventos. Não sai do papel. Aliás, nem mesmo finaliza o projeto, não há papel. Os portos não passam de quimeras e promessas eleitoreiras.

A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe
A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe

Fraternidade e Jihad. Ocidente e Oriente.

Centenas, talvez milhares de franceses, mostraram a alma ocidental. Na noite de terror que, novamente, chocou o Ocidente, eles abriram suas casas para receber todas as pessoas que fugiam, em pânico, dos atentados ou não tinham para onde ir em função do fechamento de algumas linhas do metrô parisiense. Fraternidade é o nome da França na noite que deveria ser somente de terror. Liberdade, Igualdade e Fraternidade estão impressos em seus pensamentos e reações à intolerância.

Os conceitos legais de Jihad se afastaram de suas raízes. Poucos conceitos foram submetidos a distorções mais constantes que a ideia de Jihad - cujo significado literal é "esforçar-se por uma causa digna e enobrecedora", mas hoje passou a ser entendida apenas como "guerra santa contra os não mulçumanos". É paradoxal que os terroristas se entendam como mulçumanos uma vez que o Islã, cujo próprio significado é "salam", ou "paz". É paradoxal que tantos mulçumanos entendam sua religião como uma atividade beligerante, com adeptos fanáticos decididos a manter uma guerra perpétua contra os não mulçumanos. Uma triste distorção. Uma sanguinária transformação das ideias.

A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe
A ironia do trabalho. Quanto mais se trabalha, menos se recebe

O estranho campeonato de gritaria dos muezins nas mesquitas.

Dubai é o destino turístico que aparece na imprensa. Não é uma mentira para convencer incautos a visitar o nada. Mas, nessa cidade e em tantas outras do mundo islâmico, ocorre uma espécie de "campeonato" que escapa à compreensão de ocidentais. Embora poucos mulçumanos abandonem o calor do sono para dar provas de sua fé, o chamado às orações ao romper a aurora tem um significado especial para os fiéis dessa religião. Para não deixar por completo a decisão de sair da cama a cada crente, os mulás das mesquitas, que pontilham em muitas ruas, decidiram, nos últimos anos, despertar os fiéis à força. Só quem dorme profundamente escapa da gritaria matinal do exército de mezinha rivais, cada um mais rouco que o outro. Há espiritualidade nessa meia hora de competitiva cacofonia entre dezenas de chamados à oração?

Indagados, alguns mulçumanos veem nisso um sinal de religiosidade crescente. Outros criticam o excesso e o atribuem à rivalidade temporal entre as diversas seitas mulçumanas e à rivalidade entre integrantes delas. Em viagem anterior ao Marrocos, a "azan" era uma simples, bela e melódica invocação ao divino. Tal como ocorreu com outras religiões, o islamismo é constituído por diferentes interpretações da palavra do profeta Maomé. A gritaria expõe as diferenças de entendimento e de procedimento, desde aqueles voltados exclusivamente para a religiosidade, até a ponta dos que pensam em fé vestidos de bombas.

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