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Em Pauta

Futebol ou basquete: com qual as economias se parecem?

Mário Sérgio Lorenzetto | 29/07/2016 07:10
Futebol ou basquete: com qual as economias se parecem?

A vitória de Portugal na Euro-2016, ilustra muitas lições sobre o sucesso de uma equipe. Antes e durante o torneio, Éder o jogador que marcou o gol da vitória, era visto como o mais fraco da equipe portuguesa, mas acabou sendo o herói da jornada. Ao contrário do que muitos pensam, esse fenômeno não é raro: o jogador mais fraco dita o sucesso da equipe.

"The Numbers Game", é o livro que mostra essa faceta, pouco conhecida, das equipes. Nele, há a análise de milhares de jogos de futebol. Mediram em cada partida o desempenho do jogador mais forte de uma equipe, assim como o desempenho do jogador mais fraco dos onze. Embora ter uma superestrela aumente a probabilidade de ganhar, mostram que, muito mais importante, quão bem jogou o pior jogador da equipe.

Se isto lhe parece estranho, pense no seguinte: imagine que você junte Cristiano Ronaldo com dez jogadores amadores, e os coloque para jogar contra o Vasco, o time de profissionais que foi rebaixado na última edição do Brasileirão. Em média, a qualidade da equipe do Vasco é superior à de Cristiano Ronaldo. Em salario, a equipe de CR7 é melhor paga, pois mesmo dividindo por 11, Cristiano Ronaldo ganha mais que o time do Vasco inteiro. Mas o mais provável é que o Vasco vença o jogo com tranquilidade. A razão é que no futebol, o melhor jogador do mundo depende, e muito, do que os demais dez jogadores fazem. No futebol, a maioria dos jogos são ganhos por um ou dois gols de diferença. Se o pior jogador da equipe do CR7 cometer seis erros, seu time não vencerá. Em contraste, o livro mostra que no basquete o melhor jogador é que decide as partidas e não o pior.

As economias do século XXI são mais parecidas com o futebol ou com o basquete? Conta mais o pior funcionário da empresa ou sua super- estrela? Na economia do século passado, o mundo do futebol era a resposta. Um só funcionário poderia estragar o carro em uma linha de montagem. Mais na sociedade contemporânea, onde conta mais a criatividade, e em que as tecnologias da informação e as máquinas permitem que poucas pessoas consigam, rapidamente, massificar a produção e a distribuição, a economia está cada vez mais parecida com o basquete. No jogo predileto dos norte-americanos, há tetos salariais, acordos de não competição por jogadores entre as equipes, e impostos violentamente progressivos. Precisamos de melhores ideais e depressa, para que nossa economia saia da disputa do arremesso de pedra lascada.

Futebol ou basquete: com qual as economias se parecem?

O que acontece com a economia do Japão, em dificuldades há décadas?

É uma das maiores potências do mundo. Mas o consegue sair, há décadas, de imensas dificuldades. A única boa notícia para os japoneses é o estouro das ações da Nintendo, criador do jogo Pokémon. Mas há várias razões a travar o crescimento nipônico.

Para começar, o país tem sido apoiado por estímulos fiscais e monetários massivos. Até agora, eles tem falhado em promover o crescimento. O Japão foi o primeiro país a aplicar taxas de juros negativas. O enquadramento social também não ajuda. O Japão tem a população mais velha do mundo, a menor taxa de natalidade e recebe pouquíssimos imigrantes (ao contrário do que pensam, eles são mal recebidos). Mas isso não é tudo. No início dos anos 90, o crescimento do pós-guerra colapsou. Seguiram-se décadas de deflação. O Japão começou a sofrer com a falta de trabalhadores.

Além disso, os japoneses estão controlando seus gastos, mantêm uma das mais elevadas taxas de poupança individual. Isso leva as empresas japonesas a investir fora do Japão, onde há possibilidades maiores de crescimento. Os salários dos japoneses estão estagnados há muito tempo e o crescimento tem se mantido reduzido. As recessões são frequentes.

O Japão também está sofrendo com uma elevada dívida, que ultrapassa as de outros países devido aos pacotes de estímulos às empresas, introduzidos na economia. É difícil de acreditar, mas a dívida do Japão ultrapassa a da Grécia, chegando a incríveis 246% o PIB (a do Brasil fica entre 60% e 70% do PIB).

O plano de recuperação do primeiro-ministro Shinzo Abe, conhecido como Abenomics, ajudou a desvalorizar o yen e a aumentar o lucro das empresas, mas o salário e o poder de compra dos japoneses continuam frágeis. A dívida elevada levou o governo a pensar em aumentar os impostos. Mas em 2014, que aumentaram impostos, o consumo e o PIB caíram ainda mais, atirando a economia para mais um período recessivo. Os economistas e políticos dizem que terão de tomar decisões ainda mais dramáticas.

Há disposição em contratar e promover mais as mulheres, permitir que os mais velhos fiquem mais tempo no trabalho e incentivar a entrada de imigrantes. Também pensam em mudanças nas leis trabalhistas, tornando-as mais flexíveis. São medidas que chocam de frente com as tradições culturais japonesas.

Futebol ou basquete: com qual as economias se parecem?

Um sabre sobre o mundo ocidental.

A Fraternidade Muçulmana acaba de vencer, com comodidade, as eleições gerais na França. Socialistas e republicanos, temerosos de que a Frente Nacional de Marine Le Pen pudesse chegar ao poder, asseguraram o triunfo islâmico. A França que foi cristã, depois laica, tem agora, pela primeira vez, um presidente mulçumano, Mohammed Ben Abbes.

O país mostra uma insólita passividade ante o processo de islamização, que começa rapidamente no meio universitário. Arábia Saudita patrocina a Sorbone. Os professores que não se converteram devem pedira a aposentadoria. Desaparecem as aulas mistas. Os pátios enchem-se de jovenzinhas com véus. O novo reitor da universidade famosa, Rediger, autor de um best-seller que vendeu três milhões de exemplares: "Dez perguntas sobre o Islã", defende a poligamia e a prática. Tem duas esposas legítimas, uma idosa e outra de quinze anos.

A política externa francesa se aproxima do Oriente Médio e se distancia dos demais países ocidentais, com um fatalismo tranquilo. Esse parece ser o estado de ânimo de todos os franceses, uma sociedade que perdeu o "elã vital" , resignada perante uma história que lhe parece tão irremediável como um terremoto ou um tsunami, sem rebeldia, submetida a tudo que lhe prepara o destino. Basta ler umas poucas páginas da ficção de Michel Houllebecq para entender que seu título é como um anel no dedo: "Submissão". Essa é a história de um povo submetido e vencido que, enfermo de melancolias e neuroses, se vê desaparecer e é incapaz de mover um dedo para impedi-lo.

É inverossímil que venha a ocorrer na França aquilo que profetiza "Submissão". Um retrocesso tão radical para o país que entronizou os Direitos Humanos. Mas talvez o pessimismo que emana do livro seja bem claro. A França é um país que não soube se adaptar ao século XXI. Tem um Estado gigantesco que a asfixia. Benefícios generosos que não consegue financiar. Seu solo está impregnado de insegurança. Por outro lado, seus políticos, que foram decaindo e parece terem perdido por completo sua capacidade de renovação, não sabem como enfrentar os problemas de maneira radical, competente e criativa. Isso explica o crescimento enlouquecido do "Front National" de Le Pen e o repique tribal do nacionalismo de orelhada, que propõe seus dirigentes como remédio para todos os males.

Nada a ver com o Brasil. Por aqui não há Estado Islâmico a combater. Nossos governo não asfixiam a sociedade com as incontáveis benesses para seus membros e acólitos. Os cofres governamentais estão abarrotados e conseguem pagar todas as despesas que inventam. Temos novos políticos dominando os poderes. São radicais, competentes e criativos... Um sabre sobre o mundo. Um sabre que não tem o formato de meia lua, típico do islamismo. Um sabre que ceifa a rara competência e faz emergir a nulidade.

Futebol ou basquete: com qual as economias se parecem?

Islândia: onde todos são iguais.

Os vikings da Islândia foram a sensação da Eurocopa-2016. Muitos brasileiros descobriram a Islândia por sua façanha futebolística. Mas há muito o que falar sobre essa ilha de 330.000 habitantes. É o país menos povoado da Europa. Vive da pesca, da produção de alumínio, de software e biotecnologia, e do turismo. Principalmente do turismo. A Islândia recebe quase um milhão de turistas por ano, o triplo de sua população. O país está entre os primeiro em desenvolvimento humano e é o menos desigual segundo o índice de Gini. Orgulham-se de serem o país onde todos são iguais. Tem mais leitores e escritores que qualquer outro país. Um em cada dez islandeses escreveu ou escreverá um livro.

Os números das pesquisas mais recentes são precisos: nenhum islandês de menos de 25 anos - zero por cento - acredita que um Deus tenha criado a Terra e seus habitantes. O governo islandês sustenta a igreja luterana e cada cidadão deve pagar 80 euros por ano de contribuição fiscal para qualquer culto que deseje. Por isso, nos últimos anos, cresceu enormemente o "zuismo", uma nova religião que adora um antigo e esquecido deus sumério de corpo de águia e cabeça de leão - Zu.

O zuismo assegura aos islandeses a devolução dos 80 euros. O cristianismo luterano vigora desde o século XVI, quando ocorreu a última decapitação de um bispo católico. Foi obrigatório até fins do século XIX. A igreja luterana é majoritária e segue sendo sustentada pelo governo, mas o ensino é totalmente laico. E é por isso que os jogadores da Islândia não levantam as mãos para os céus quando marcam seus gols. Eles creem que, quando fazem ou não fazem algo, são seus os méritos, as culpas e as responsabilidades. Para os religiosos ou não. O que realmente interessa para os islandeses é que todos são iguais.

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