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Em Pauta

"Jovens turcos" vs. "Tugúrio de Marte", o exército politizado

Mário Sérgio Lorenzetto | 07/05/2022 07:40
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Resolvido nas democracias ocidentais, um embate se eterniza no exército brasileiro: a missão e a rígida disciplina ou a politização partidária? Essa é uma pauta que encontra seu ponto de crispação no início do século passado. Nessa época, a cúpula dos quartéis não dedicava maiores atenções às disciplinas ligadas à guerra, vigorava uma espécie de bacharelismo de farda.


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Chegaram na guerra no dia que ela acabou.

A falta de estrutura do exército brasileiro ficou desnuda durante a Primeira Guerra Mundial. Embora com discreta participação, as tropas brasileiras puderam constatar a defasagem em relação ao poderio bélico dos países envolvidos no conflito. Além do envio de uma missão médica, a colaboração brasileira se resumia ao deslocamento de uma missão naval, composta de oito barcos, que deveriam ser incorporados à esquadra britânica no estreito de Gibraltar, ao sul da Espanha. Não houve tempo para essa incorporação. Um dia após chegar após chegar ao destino, os soldados brasileiros receberam, com um misto de desapontamento e alívio, a informação de que a guerra havia terminado.


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A Batalha das Toninhas que mudou os rumos do exército.

Pouco antes, ainda em alto-mar, a frota avistou estranha movimentação pouco abaixo da superfície. Os marinheiros brasileiros, sem pensar duas vezes, abriram fogo em direção ao "inimigo". Munição perdida. Tratava-se apenas de um cardume de toninhas, espécie de pequenos golfinhos. Os inocentes bichinhos haviam sido confundidos com um perigoso submarino alemão. Mesmo antes da Guerra e da Guerra das Toninhas, as forças armadas já reconheciam o despreparo. Tudo começou a mudar com a lei de Reorganização do Exército e mais efetivamente com o envio de mais de trinta instrutores para cursos de aperfeiçoamento na Alemanha.


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Os "Jovens turcos".

Após dois anos de estágio, os rapazes voltaram cheios de ideias novas, familiarizadas com as táticas e os modernos equipamentos desenvolvidos pela indústria bélica do Kaiser. Apesar da resistência e dos vícios da velha guarda de bacharéis, esses jovens instrutores foram responsáveis pela reformulação completa nos quartéis. Novas disciplinas, novos regulamentos, traduziram manuais militares e copiaram à risca a rigidez da disciplina germânica. O exército seria altamente disciplinado e não partidarizado. Esse instrutores receberam o apelido de "jovens turcos", em analogia ao exército de Mustafá Kermal, líder político turco que estava em evidência por ter constituído um exército moderno no fechado sistema muçulmano. A expressão, pejorativa, acabou virando moda entre os próprios integrantes do grupo. Queriam formar "soldados rijos", que guardassem distância entre o exército e a política.


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A Escola Militar de Realengo e a invasão aos galinheiros vizinhos.

Inspirado nas novidades introduzidas pelos "jovens turcos", a rotina na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, era espartana. Os alunos pulavam da cama às quatro e meia, e às cinco e meia, ouviam o toque do rancho, convocando para o café da manhã. Meia hora depois, estavam em formação. Carregavam sacos de oitenta quilos nas costas, subiam em cordas com as mãos nuas, arremessavam granadas à distância, corriam quilômetros em terreno acidentado.... Se sobrava disciplina, faltava comida. O orçamento da instituição era curto. Não era à toa que muitos deles, após o toque de recolher, costumavam pular os muros da escola e invadir os galinheiros da vizinhança. Iam atrás do complemento do jantar frugal.


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O "Tugúrio de Marte".

Uma turma politizada, quase uma irmandade, na qual pontificavam Eduardo Gomez, Juarez Távora e Siqueira Campos havia alugado uma pequena casa, para onde fugiam sempre que a vigilância noturna baixava a guarda. Iluminados pela energia clandestina puxada dos postes da Light, os três se reuniam para estudar e discutir assuntos da política brasileira e internacional, contrariando a doutrina dos "jovens turcos". Ali organizaram uma biblioteca e batizaram o esconderijo de "Tugúrio de Marte", homenagem ao deus romano da guerra. Eventualmente dois alunos participavam dessas reuniões clandestinas: Castelo Branco e o aluno nota dez Luís Carlos Prestes.

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